SÃO PAULO, SP – O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna morreu nesta quarta-feira (23), no Recife, aos 87 anos, após sofrer um AVC hemorrágico. Ele deu entrada no Real Hospital Português às 20h de segunda (21), e foi submetido a uma cirurgia neurológica de emergência. Uma de suas últimas aparições públicas foi no dia 16, quando ministrou uma de suas “aulas-espetáculos” em Salvador. Ele tinha outra aula marcada para 5 de agosto, em Curitiba, e viria a São Paulo em outubro. Autor do “Romance d’A Pedra do Reino” e de clássicos do teatro nacional como “O Auto da Compadecida” e “O Santo e a Porca” e imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), ele também sofria de diabetes. Nos anos 1990, Suassuna ampliou sua popularidade nacionalmente aorodar o país com suas “aulas-espetáculos”, misto de palestra, concerto e espetáculo de dança, em que exibia com graça de palhaço a sua erudição e seu fervor pela cultura brasileira. Em dezembro passado, em entrevista à Folha de S.Paulo, o escritor afirmou ter feito “um pacto com Deus” para, apesar dos problemas de saúde, conseguir concluir o primeiro volume do romance monumental em que trabalha há 33 anos e que deverá ter ao todo sete volumes. Na ocasião, contou que a obra completa se chamará “A Ilumiara” –o livro de abertura, um romance epistolar, será “O Jumento Sedutor”– e revelou versos que estarão ao final das cartas que encerrarão os capítulos. Suassuna deixa a mulher, Zélia, com quem foi casado por 56 anos, cinco filhos e 15 netos. OITAVO FILHO Ariano Vilar Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927 em João Pessoa (PB). Foi o oitavo dos nove filhos de Rita de Cássia Dantas Vilar e de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna. Após a morte do pai, assassinado em 1930 por motivos políticos, Suassuna se muda para Taperoá (PB) com a família. É nesta cidade, no norte da Paraíba, que o futuro escritor ouve um desafio de viola e assiste uma peça de mamulengo pela primeira vez. Os dois tipos de manifestação artística vieram a ter grande influência em sua obra. Em 1942, foi morar no Recife (PE), onde terminou o ensino secundário e começou a cursar Direito. Durante os anos no Ginásio Pernambuco, Suassuna entra em contato com a música erudita e a pintura. Nos anos de colégio, publica o primeiro poema, “Noturno”, no “Jornal do Commercio”, do Recife. TEATRO Na faculdade de direito, Suassuna funda, com o escritor e dramaturgo Hermilo Borba (1917-1976), o Teatro do Estudante de Pernambuco. O grupo monta suas peças “As Harpas de Sião” (ou “O Desertor de Princesa”), em 1948 e “Os Homens de Barro”, em 1949. A primeira peça escrita por Suassuna, “Uma Mulher Vestida de Sol”, de 1947, foi premiada no ano seguinte. O primeiro “Auto” (peça em estilo medieval) inspirado em literatura de cordel, o “Auto de João da Cruz”, é de 1950. O famoso “Auto da Compadecida” foi escrito em 1955. No ano seguinte, torna-se professor de estética na Universidade do Recife (futura UFPE) e larga de vez a advocacia. Em 1957, Suassuna casou-se com Zélia de Andrade Lima, com quem teve seis filhos: Joaquim, Maria, Manuel, Isabel, Mariana e Ana. No final dos anos 1950, peças do autor como “O Casamento Suspeitoso”, “O Santo e a Porca” e “Auto da Compadecida” são encenadas em teatros do Rio e de São Paulo e ganham prêmios importantes, como os das associações paulista e brasileira de críticos teatrais. Sem deixar a produção literária e as aulas de estética, arte e cultura brasileira, Suassuna se forma em filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco. A busca por uma arte popular nordestina baseada na estética erudita ibérica medieval o levou a criar, nos anos 1970, o Movimento Armorial. Um dos marcos dessa nova estética foi “O Romance d’A Pedra do Reino”, que levou cerca de 12 anos para escrever e foi publicado em 1971, pela editora José Olympio. A obra ganha o prêmio nacional de ficção do Instituto Nacional do Livro no ano seguinte. IMORTAL Em 1990, Suassuna tomou posse na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 32. Ele também é membro das academias de letras de Pernambuco e da Paraíba. Suassuna sempre esteve envolvido com a política pública cultural. Nos anos 1967 e 1968 ajudou a fundar o Conselho Federal de Cultura e o Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco. Em 1975, foi nomeado Secretário de Educação e Cultura do Recife, cargo que exerceu até 1978. Em 1995, tornou-se secretário da Cultura de Pernambuco, durante o governo de Miguel Arraes, cargo para o qual foi nomeado novamente em 2007, no primeiro mandato de Eduardo Campos. Era assessor especial do governo de Pernambuco.