SÃO PAULO, SP – A morte do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, ocorrida nesta quarta-feira (23), aos 87 anos, foi repercutida por diversas personalidades do mundo da arte e da política.
O autor de “O Auto da Compadecida” estava internado desde segunda-feira (21) no Real Hospital Português, após sofrer um AVC hemorrágico.
“Era uma personalidade muito especial, muito inteligente, muito talentoso, que deixa uma obra de valor inestimável à literatura e ao teatro brasileiro”, afirmou o poeta, cronista, crítico de arte e colunista da Folha Ferreira Gullar.
Veja abaixo o que disseram outras personalidades sobre a morte de Ariano Suassuna.

“Ariano para nós é um tio, um avô, um pai, um amigo, um companheiro, uma referência. É uma lacuna muito grande. Eu ontem cheguei, essa manhã me despedi dele aqui, agradecendo tudo o que ele fez por muitas gerações, muitas pessoas sobretudo para a cultura brasileira. Hoje é o dia de aplaudir uma vida tão bela como a vida dele. A vida de Ariano foi tão bonita quanto as suas obras. Eu tive o privilégio de conhecer as obras e a vida de um grande homem, Ariano Suassuna. A saudade é enorme.”
EDUARDO CAMPOS (PSB-PE), ex-governador de Pernambuco e presidenciável, e que conhecia o escritor desde a infância

“Foi com profundo pesar que recebi a notícia da morte do escritor Ariano Suassuna. Paraibano de nascimento, pernambucano de coração, já que morou no Recife por mais de 70 anos de sua vida. É um dia muito triste para todos nós, pernambucanos, nordestinos e brasileiros, uma perda inestimável para nossa literatura e nossa cultura, que nesta mesma semana já havia sofrido as ausências de João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves, e ainda neste mês a perda de Ivan Junqueira. (…) O bom humor sempre foi sua marca, somada a profundos conhecimentos do imaginário popular e uma inteligência muito acima da média. A obra de Ariano permanecerá eterna na mente de todos nós que convivemos com ele, mas tenho certeza de que também será lembrada e venerada pelos mais jovens e pelas futuras gerações.”
JOÃO LYRA NETO, governador de Pernambuco

“Era uma figura única no regionalismo, muito coerente e muito fiel à sua própria escrita. Era completamente desinteressado de moda e modismos. Acho admirável essa consistência de pensamento que se reafirmou nas situações mais diversas quando a tendência das pessoas é entrar em um discurso mais globalizado, mais anódinos e menos marcado por esse caráter. Sempre admirei e respeitei essa sua característica.”
ALCIR PÉCORA, professor e crítico literário

“É um dos dramaturgos mais representativos de um Brasil nordestino pouco mostrado no nosso teatro, mas que foi retratado brilhantemente por ele em todas as suas peças. Ele conseguiu pegar o Nordeste e criar um mundo que é interessante para o mundo inteiro.”
CLAUDIO BOTELHO, diretor de teatro

“A morte de Ariano Suassuna confrange e entristece a Academia Brasileira de Letras. No espaço de um mês, é o terceiro grande acadêmico que parte. Estendemos à família de Ariano nossos profundos sentimentos de pesar. E à multidão de seus amigos, leitores e admiradores no Brasil e no mundo, nossa solidariedade pela imensa perda. Ariano reunia em sua pessoa as extraordinárias qualidades de homem de letras e de intelectual no melhor sentido da palavra, alguém que, dispondo de uma cultura invulgar, era, ao mesmo tempo, um homem de ação. À sua maneira ocupava-se e preocupava-se com os problemas sociais, focado nos da sua região. Não podemos esquecer seu engajamento com o Movimento Armorial, através do qual buscava revigorar a identidade nordestina, especificamente a pernambucana e suas peregrinações levando, com humor, sua mensagem por todo o Brasil.”
GERALDO HOLANDA CAVALCANTI, presidente da Academia Brasileira de Letras, em nota

“Ele foi maravilhoso. ‘O Auto da Compadecida’ é uma obra que se compara a toda a dramaturgia universal mais maravilhosa, seja de teatro nô, ocidental, qualquer tipo de teatro. É uma peça mesmo, uma joia. Mais que um bem público, é um bem do inconsciente do público porque o Ariano Suassuna, quando veio da aristocracia rural para a cidade, trouxe à tona para o mundo todo aquela coisa do sertão que se apresentava na frente da casa grande. A cultura da aristocracia pernambucana sempre foi muito refinada e o Ariano é a expressão máxima, como Gilberto Freyre, com ‘Casa Grande e Senzala’. Ele trouxe essa cultura popular para a obra dele e a levou para cidades do Brasil inteiro. Suas peças vão sendo ‘antropofajadas’ e vão dar muito o que falar. Haverá muitas encenações de Suassuna, mas permanecerá a coisa mais poderosa da obra dele que é sua arte, a arte de um grande artista. Ele está retornando porque tudo está no nosso DNA. E não adianta querer fazer um cérebro eletrônico igual porque não vai conseguir.”
ZÉ CELSO MARTINEZ, diretor teatral

“‘O Romance d’A Pedra do Reino’ é um marco como ‘Dom Quixote’. Ele junta o humor, o popular, o culto e traz tudo numa grande história, que é também uma historia da brasilidade. Ariano é iluminado quando escreve ‘A Pedra’ (…), porque é um romance que reúne todas as formas. Tem poesia, popular, narrativa, uma mitologia. É um romance que tem personagens de toda natureza. ‘O Auto da Compadecida’ é uma das peças brasileiras mais montadas do mundo. Tem versões na Alemanha, em países da América. E quando foi mostrada nos anos 1960 mais ou menos abriu a cabeça não só dos autores —porque mostrou a eles como era uma dramaturgia aberta, eu diria shakespeariana, em que as coisas aconteciam no plano da imaginação, brincando com a ilusão. A gente estava num teatro burguês, fechado, naturalista, de cópia muito estreita da realidade, e Ariano abre as portas, janelas, telhados. Foi importante para os diretores. Há saltos no teatro brasileiros. Um deles é Nelson Rodrigues e o outro foi o teatro de Ariano. (…) Há pessoas que conseguem fazer síntese dessa junção entre popular e erudito. Ele está em Pernambuco no centro de uma arte popular, no meio dos gravuristas, dos cordelistas, e ele, com uma formação erudita. Muitos passam por ali e não fazem a síntese que ele fez. Sem dúvida, ele é importante para todos nós.”
ADERBAL FREIRE FILHO, diretor teatral

“Chico [Science] e eu sempre tivemos conflitos de opinião com Ariano, que várias vezes se mostrou contra o viés pop do Manguebeat. Nos últimos anos, principalmente após a morte de Chico, os ânimos esfriaram e eu e ele desenvolvemos uma relação civilizada, sem os protestos inflamados de outrora. O movimento armorial era uma escola hegemônica em Pernambuco, e nós jovens ficávamos incomodados com isso. Hoje vejo que, embora aparentemente antagônicas, esses movimentos tinham em comum o mesmo propósito de desenvolver o orgulho de ser nordestino, do simplório, do rústico. Ariano era um exemplo de cordialidade e civilidade num meio tão arrogante quanto o da política cultural pernambucana.”
FRED 04, líder da banda Mundo Livre S/A que, ao lado do músico Chico Science [1966-1997], fundou o movimento Manguebeat

“Para todos nós que trabalhamos com arte em Pernambuco, ele foi o nome mais forte. Foi a pessoa mais importante na discussão sobre o fazer arte no Nordeste. Ele foi além do trabalho de escritor e poeta. Levantou uma defesa da nossa cultura e fez disso a sua vida. Sempre aceso, ele doou a sua existência a esse movimento de provocações.”
LIRINHA, músico, ex-líder da banda Cordel do Fogo Encantado

“É um dos maiores autores nacionais e seu trabalho significa um teatro fora desse eixo urbano e litorâneo. É uma pessoa com uma história significativa. Sem dúvida, um dos maiores homens do teatro brasileiro.”
EDUARDO TOLENTINO DE ARAÚJO, diretor artístico do grupo Tapa

“Ariano soube ultrapassar as barreiras do pensamento do homem branco protestante do hemisfério norte e foi buscar na Península Ibérica as fontes para desenvolver toda sua obra. Ele recupera uma ancestralidade para a cultura nordestina, uma permanência e com isso vai buscar lá atrás caminhos para ir em frente. (…) Ariano botou uma realidade brasileira no teatro e no pensamento cultural do país e isso não volta atrás. É um pedaço grande da nossa herança cultural e formação étnica que é tão arraigado que aparece em todas as coisas. Ele não é só um homem de teatro; é um pensador da vida pública brasileira e da vida cultural. Trouxe uma novidade para o Brasil que até hoje não foi ultrapassada.”
AMIR HADDAD, ator e diretor teatral

“O Brasil perdeu o maior defensor de sua cultura popular. Mais que um criador de um movimento cultural, que batizou de Armorial, Ariano foi a própria síntese do que a gente chama de Cultura Brasileira, em suas mais diversas expressões: a música, o teatro, a literatura, as artes visuais, o cinema, o artesanato e arquitetura. O seu comprometimento com a cultura genuinamente brasileira marcou sua obra e suas aulas em defesa de uma produção rica em símbolos e conceitos criados a partir das matrizes de formação do povo brasileiro. Ariano fez sua última aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, na última sexta-feira (18). O mestre recordou o início de sua carreira como professor e o motivo pelo qual, mais recentemente, criou o modelo das aulas-espetáculos, dando continuidade à sua missão de transmitir conhecimentos e defender a produção artística nacional. Incansável nessa missão de produzir novas obras, ensinar e preservar, Ariano deixa uma marca profunda e permanente na cultura do Brasil. Traduzido em vários países, também deixa seu legado para além de nossas fronteiras. A obra de Ariano deve agora ser preservada por todos e difundida para que, como fez com suas aulas, seja aprendida e discutida, sirva sempre de inspiração e desafio para as novas gerações.”
MARCELO CANUTO, secretário de Cultura de Pernambuco

“É um valor inestimável que se perde tanto no teatro como na literatura e especialmente como ser humano. Era uma pessoa de uma inteligência, uma sensibilidade e um comprometimento excepcionais. Não trabalhei com a obra dele, mas é como se fosse. Ele estava voltando com muita energia à atividade teatral e literária, então é um choque.”
JORGE TAKLA, diretor de teatro

“Ele era um tesouro, sempre muito presente no dia a dia da vida cultural do Recife. Era comum encontrá-lo na plateia. Eu tinha uma banda chamada Comadre Florzinha e ele ia sempre nos nossos shows, dizia que adorava, até que de repente desapareceu. Aí alguém me contou que ele disse que não gostava mais, que a banda tinha ficado muito pop. [risos] Ele era assim. Até quando não se concorda com ele, é precioso. Quem viu uma aula-espetáculo dele não esquece nunca mais e vai rir para o resto da vida. Era uma aula não só muito engraçada, mas muito poderosa.”
KARINA BUHR, cantora

“Todo o Brasil lamenta a morte do escritor, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna. Um intelectual que fez uma reflexão profunda sobre as raízes do Brasil e, sobretudo, do nordeste brasileiro. Meus sentimentos a seus familiares e ao povo pernambucano”, escreveu o tucano em suas redes sociais.”
AÉCIO NEVES, presidenciável do PSDB, em suas redes sociais

“Ele teve uma grande felicidade: foi um dos que mais compreenderam o Brasil. Mas o Brasil foi quem mais o compreendeu. Esse equilíbrio é muito raro. Acontecia mais no século 19 —uma certa parte do 20. É uma ressonância entre uma parte do Brasil e a obra de Ariano. (…) Graças a Suassuna, havia toda uma vontade de abertura de diálogo entre dois mundos —o erudito e o popular— que, para boa parte do Brasil, ainda parece incomunicável: esse projeto armorial é que lhe dá o sucesso de comunicação, num tom genialmente médio para tratar das questões mais amplas. Ele tem a característica mais forte que mostra uma tradição da obra de Gilberto Freyre, Câmara Cascudo. Essa grande contribuição que o Nordeste do país nos oferece para pensar o Brasil cheio de raízes. Ele compreendeu o Brasil e teve a felicidade de ser compreendido pelo Brasil. Isso me parece essencial para compreender sua obra.”
MARCO LUCCHESI, poeta, escritor, tradutor e imortal da ABL