EDUARDO GERAQUE SÃO PAULO, SP – Um pacto profissional entre jornalistas e criminosos. Para que eles possam ter voz em vez de serem julgados. Essa são as bases do projeto jornalístico ‘Sala Negra’, da empresa de comunicação El Faro, de El Salvador.

“Não somos da polícia, damos voz as vítimas e aos criminosos também. O nosso objetivo é que todo mundo entenda tudo o que for possível”, contou nesta quinta-feira (24) Jose Luis Sanz, um dos jornalistas do projeto no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, que acontece entre os dias 24 e 26 de julho na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo.

Nascido na Espanha, mas radicado na América Central, Sanz falou como é narrar as histórias de violência, do crime organizado e das prisões na América Central, que concentra algumas das cidades mais violentas do mundo, como San Pedro Sula, em Honduras e San Salvador, em El Salvador.

Segundo Sanz, são meses de trabalho jornalístico para que os leitores do “Sala Negra” possam conhecer, por exemplo, o que se passa dentro das prisões de cidades de El Salvador, Guatemala e Honduras. San Pedro Sula, considerada a cidade mais violenta do mundo no relatório da ONU de 2013, foi o palco de uma reportagem do jornalista Álvaro Pereira Jr., exibida pelo Fantástico da TV Globo, em março de 2014.

“Mesmo para os padrões brasileiros, as pessoas em San Pedro Sula convivem bastante com a violência”, conta Pereira Jr., que também é colunista da Folha de S.Paulo. Segundo Pereira Jr., o que mais chamou atenção na cidade hondurenha é o fato de ninguém circular pelas ruas à noite. “Apesar de todos trabalharem normalmente, como num ritmo de vida normal”, contou.

A cidade hondurenha, com uma população de cerca de 750 mil habitantes, registrou 187 assassinatos para cada 100 mil habitantes, o dobro da média do país. A probabilidade de ser morto é 14,5 vezes maior do que na cidade de São Paulo.