SÃO APULO, SP – O presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), José Roberto de Toledo, afirmou nesta sexta-feira (25) que a cobertura eleitoral da imprensa brasileira “tende a reforçar os vícios da cobertura política tradicional e exacerbá-los”.
Toledo, que também é colunista do jornal “O Estado de S.Paulo” e comentarista da “Rede TV!”, e o editor-chefe do “Terra Magazine”, Bob Fernandes, apresentaram soluções para fugir do óbvio na cobertura eleitoral em seminário realizado no congresso da Abraji, na zona sul de São Paulo.
O presidente da Abraji criticou a rotina do jornalismo político que “fica presa ao declaratório” e que “às vezes é engraçado, mas quase sempre é irrelevante”.
“É quase ridículo que a gente faça esse papel de reprodutor das aspas dos candidatos. Eles podem fazer isso no Twitter, Facebook ou onde for”, afirmou Toledo. Ele exibiu alternativas gratuitas de fontes de dados que podem ser usadas por jornalistas para subsidiar reportagens políticas.
Segundo ele, através de ferramentas como o “Google Trends” ou o “DivulgaCand”, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), podem ser usados por repórteres e colunistas para análises eleitorais.
Para Toledo, grandes polêmicas das eleições de 2010 – como a discussão sobre o aborto e a bolinha de papel jogada na cabeça do então candidato José Serra (PSDB) – podem ser avaliadas nas quantidade de buscas pelos temas na internet.
Fernandes recomenda que “para sair do óbvio” os jornalistas têm que “voltar ao óbvio”. De acordo com ele, grandes furos jornalísticos, como o mensalão ou os escândalos do governo Collor, podiam ter sido antecipado se os repórteres “seguissem o dinheiro” – uma referência ao livro “Todos os Homens do Presidente”, dos jornalistas americanos Bob Woodward e Carl Bernstein, sobre a apuração que resultou no impeachment do então presidente Richard Nixon, em 1974. “Tem coisa que não mudou e não vai mudar”, disse Fernandes.
A mesa foi moderada por Ricardo Meirelles, diretor da “PrimaPagina”. Ele comparou a cobertura política atual a outros gêneros jornalísticos. “Às vezes, em divulgação de pesquisas [de intenção de votos], o noticiário parece fechamento de mercado, só fala de quem subiu e quem caiu. Em outros momentos, fica parecendo cobertura de fofoca, quando fala de alianças políticas”.