FABRÍCIO LOBEL, LEANDRO MACHADO E FELIPE NASCIMENTO
SÃO PAULO, SP – Trechos da maior ciclovia em construção na cidade de São Paulo estão sendo feitos sobre a calçada e em frente à garagens de casas e do comércio da zona leste.
Insatisfeitos, moradores e comerciantes tentaram há duas semanas impedir a continuidade da obra que vai ligar o Jardim Helena a Itaquera. Colocaram carros em cima de calçadas, que estão sendo alargadas.
A nova pista terá 14,9 km e pode se conectar à ciclovia da Radial Leste, que tem 12 km –de Itaquera ao Tatuapé. A obra começou em fevereiro e deve ser concluída em setembro ao custo de R$ 6 milhões.
O projeto faz parte do “Plano Cicloviário” de 2010. A prefeitura pretende que, até o final da gestão Fernando Haddad (PT), a cidade tenha 400 km de vias separadas aos ciclistas.
Depois de alargado, o passeio será pintado para separar as ciclistas dos pedestres. Em vários pontos, o novo espaço tem pouco mais de um metro de distância para as garagens.
“Como vou fazer com meu carro se a ciclovia é quase na minha porta?”, reclama o aposentado Ivan Gomes, 68, morador da Vila Curuçá.
Ele conta que, em fevereiro, operários da prefeitura quebraram sua calçada sem avisá-lo. Diz também que os funcionários pediram para a sua família trocar o portão, que poderia atrapalhar os ciclistas, pois ele abre para o lado de fora.
Seu vizinho, o autônomo Renato Vasconcelos, 32, também reclama: “Gastei R$ 2.700 reformando a calçada sete meses antes da prefeitura vir e quebrar tudo. A ciclovia para mim só deu prejuízo.”
A prefeitura afirma que fez reuniões com a população da região para explicar o projeto.
Para Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego e transporte, o modelo de ciclovia na calçada e próximo a garagens pode gerar conflitos entre ciclistas e pedestres.
“É uma solução diferente, mas vejo alguns problemas. O do pedestre ser atropelado pelo ciclista, com quem ele dividirá a calçada no mesmo nível. E o morador que sair da garagem pode atropelar o ciclista”, disse.
Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o projeto levou em conta a quantidade de veículos e pedestres em circulação na região. A empresa diz que no local, a melhor solução era encurtar o asfalto e aumentar a calçada.
CENTRO
No centro também há reclamações de moradores e principalmente de comerciantes sobre a ciclovia da região, que passa por uma expansão e tem atualmente 10,5 km.
Comerciantes dizem não terem sido consultados ou avisados com antecedência.
“Quando vimos [a ciclovia] já estava pronta. Acho justo que se faça uma ciclovia, mas tem que ter uma alternativa para que a gente possa trabalhar”, disse Wilson José Bento, 41, sócio em uma loja na rua Guaianases.
A reportagem percorreu o trecho e encontrou pontos já degradados. Há buracos e falhas no asfalto e a sarjeta está quebrada em vários pontos, avançando sobre a pista do ciclista. Também há acúmulo de água na via e vários carros estavam estacionados sobre a ciclovia.
Para o cicloativista Daniel Guth, apesar das falhas, o importante é “consolidar as ciclovias na cidade”. “[A ciclovia pode] possibilitar que a bicicleta seja um meio de transporte viável para o quem sai da periferia e vai trabalhar no centro, por exemplo”, diz.