BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ – Seis policiais militares da UPP Fogueteiro, em Santa Teresa (na região central do Rio), foram presos na madrugada deste domingo (27), poucas horas após terem realizado uma operação na comunidade que resultou na morte de duas pessoas. Eles são acusados de homicídio.
O morador Vitor Luiz Rodrigues, 40, foi atingido por quatro tiros nas pernas, um no abdômen, outro na cabeça e morreu no local. Rafael de Souza Azerbinato, 23, foi encontrado morto dentro de casa, atingido por uma bala na cabeça.
Em depoimento, os policiais afirmaram que, por volta das 16h de sábado (26), realizavam um patrulhamento próximo à praça Holanda, ponto conhecido pela venda de drogas, quando viram dois homens, um deles armados e houve tiroteio.
Segundo a versão dos policiais, o bandido armado seria Rodrigues, que teria sido atingido na troca de tiros. Com ele, foi apreendida uma pistola .40, além de maconha e um livro de contabilidade do tráfico. O outro suspeito conseguiu fugir.
Ainda segundo os PMs, outros traficantes surgiram e os militares ficaram encurralados por duas horas enquanto aguardavam reforço policial.
A mulher de Rodrigues, Daniele dos Santos, no entanto, afirmou que uma moradora viu os policiais atirarem na cabeça do seu marido, enquanto ele agonizava. Ela negou que tivesse envolvimento com o tráfico de drogas e acredita que a arma tenha sido colocada no local pelos policiais.
No seu depoimento, ela afirmou que, enquanto os moradores rodeavam o corpo do seu marido, um policial deu um tiro de advertência para o alto para afastá-los do local. Momentos depois, gritos foram ouvidos e Azerbinato foi encontrado morto dentro de casa.
Os corpos de Rodrigues e Azerbinato foram enterrados na tarde deste domingo.
O policial que fez o disparo de advertência para alto foi identificado por Daniele como “negro e com uma cicatriz no rosto”. Segundo os investigadores, a descrição bate com as características de um dos policiais presos.
De acordo com o delegado Antônio Bonfim Ferreira, da 5ª DP (Mem de Sá), as prisões dos policiais foram realizadas pois não há provas que comprovem autos de resistência -quando um suposto criminoso reage a uma abordagem policial e é baleado.
“Há essa moradora que teria presenciado uma execução. Além disso, a arma que estava com o Vitor a princípio não foi disparada. Há ainda o outro morto por um tiro de fuzil. Para preservar as testemunhas de uma possível coação e por tudo estar nebuloso, achamos melhor apreender as armas e pedir a prisão”, disse.
“Na dúvida, pede-se a prisão”, concluiu.
VÍDEO
Um vídeo feito por outra moradora, anexado ao inquérito, mostra os policiais colocando luvas nas mãos e mexendo no corpo de Vitor, já morto. A filmagem serviu de evidência para o pedido de prisão, já que apontaria a intenção dos policiais de apagar provas desfazendo o local.
As armas dos policias Vinicius Castro Nascimento, Antônio Carlos Roberto, Adriano Costa Bastos, Raoni Santos Lima, Roberto do Nascimento Barreto e Cezar Rodrigo Pavão Duarte foram apreendidas e passarão por uma perícia no ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli). Eles ficarão detidos no Bep (Batalhão Especial Prisional).
A perícia de local já foi realizada e constatou que não haveria ângulo para, de onde os policiais estavam, o tiro ter acertado Rafael, mas uma reconstituição ainda será feita. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora informou que abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar as circunstâncias das mortes.
VIOLÊNCIA NAS UPPS
Em uma semana, esse é o quarto episódio de violência em comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora. No domingo passado, traficantes atearam fogo e fizeram disparos contra um contêiner da UPP do morro do Alemão, na zona norte.
Na madrugada de segunda-feira (21), na Rocinha, zona sul do Rio, um grupo de bandidos e policiais da UPP da comunidade trocaram tiros num beco na região conhecida como largo do Boiadeiro. Já na quarta-feira (23), policiais da UPP Camarista Méier, na zona norte, trocaram tiros com traficantes locais.