De origem grega a expressão dinastia pode ser traduzida duplamente: senhor e soberano e poder e força. Historicamente é descendente das monarquias onde reis, rainhas, príncipes, princesas vivem em um mundo glamouroso e suntuoso. O poder é transmitido por hereditariedade nas famílias reais. Até a revolução francesa eram considerados de sangue azul. Era mistificação, a guilhotina mostrou a multidão que o sangue era vermelho, igualzinho ao dos súditos e vassalos. Hoje as poucas monarquias que sobreviveram exercem um poder simbólico, à exemplo da inglesa, a mais conhecida no mundo. São monarquias constitucionais parlamentares, onde o poder é exercido pelo primeiro-ministro e o seu gabinete executivo.
O contrário ocorre no Brasil republicano em 2014. As oligarquias dinásticas se expandem com grande dinamismo. A dinastia se traduz em governo de poucos privilegiados, de pequeno grupo, em que o sistema político administra os recursos públicos em beneficio de interesses menores, onde o patrimonialismo é força dominante. E a prosperidade econômica familiar garantida. É uma praga que se multiplica pelos Estados e Municípios brasileiros. Nos últimos tempos operando em cadeia produtiva que envolve pais, filhos, mulheres, irmãos, cunhados e outros agregados familiares. Vereador, prefeito, deputados estaduais e federais, senador e governador asseguram à profissão de político militante à estrutura familiar dinástica. O enraizamento das dinastias além de nociva ao Estado democrático vem levando a população a desacreditar da política e dos políticos. E eles fingem não saber a razão.
O parentesco oligárquico é uma herança de grande valor na vida pública brasileira. A transparência Brasil, em relação ao Congresso Nacional nominou 228 deputados federais e 52 senadores egressos de uma base familiar de políticos profissionais. A parentaiada, na maioria terrivelmente despreparada para a atividade pública, já foi marca dominante na tradição regional do norte e nordeste. Hoje, de acordo com a Transparência Brasil, a política hereditária percentualmente tem essa distribuição: norte, 43%; nordeste, 60%; Centro-Oeste, 46%: Sudeste, 36%; e, Sul, 34%. Resta indagar: como renovar a vida política nacional já que o predomínio dos clãs familiares assegura a perpetuação dos sobrenomes. A mudança renovadora é apenas dos prenomes. Nos Estados, o domínio familiar da televisão, rádio e jornais, impede a livre circulação de idéias. É um poder paralelo.
Os laços de sangue passaram a ter valor de patrimônio eleitoral altamente lucrativo. A fragilidade da legislação eleitoral, ao permitir a criação de partidos políticos de aluguel, opera como aliada dessa política hereditária. Alguns clãs familiares são donos de 3, 4 ou 5 legendas partidárias.Nos momentos eleitorais o valor de mercado no balcão de negócios desses líderes envolve acordos onde o assalto do dinheiro público torna-se fato normal. E aceito com indiferença pela sociedade, a grande vítima.
As dinastias familiares do atraso político brasileira nessas eleições de 2014 estão operando a todo vapor. No norte, no sul, no leste e no oeste, garantindo com o voto popular a perpetuação dos privilégios familiares, os clãs ampliam o seu domínio nefasto na política nacional. Notável escritor o saudoso João Ubaldo Ribeiro, ante essa realidade sentenciava: Eles não nos respeitam e nem estão querendo nem saber o que pensamos. Eis a nossa equação: C+O=PB. C é de carneirada. O é de otário. PB é povo brasileiro.
As pessoas honestas e com convicção, embora minoritárias, sentem-se agredidas pela desenvoltura vitoriosa dos audaciosos corruptores dos valores republicanos no respeito à lei e aos negócios públicos. Para eles, interesse público é garantir vantagens para as dinastias familiares. Como Cícero, no Senado romano, indagamos: Até quando Catilina abusarás da nossa paciência.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira