ARTUR RODRIGUES E HELOISA BRENHA
SÃO PAULO, SP – A barista Isabela Raposeiras começou o expediente em seu Coffee Lab nesta quarta-feira (30) com um aviso aos clientes: “por conta do racionamento de água, não abriremos hoje”.
Localizado na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), o restaurante foi um dos que tiveram de fechar as portas nesta quarta em meio a uma interrupção de mais de 24 horas no abastecimento.
“A @ciasabesp não avisou e desde ontem estamos sem água (…) hoje não conseguiremos preparar nossas xícaras”, disse Isabela em sua página no Facebook.
Segundo ela, a caixa d’água se esgotou às 18h de terça, e a Sabesp religou a água após as 18h de quarta.
“Não deu para [a cafeteria] funcionar. Todos os nossos equipamentos só funcionam com água e estragam sem ela”, afirma a barista.
A padaria Le Pain Quotidien também teve de interromper os serviços. De acordo com a gerente-assistente Sandra Dias, o problema começou por volta das 16h de terça e permanecia até o fim da tarde desta quarta.
“Conseguimos abrir de manhã após chamarmos caminhão-pipa. Às 14h, a água do caminhão acabou e tivemos de fechar o salão [onde se servem as refeições]”, conta.
No restaurante Alternativa, a falta d’água chegou impedir a abertura para o almoço. “Não fui avisado nem nada. São 200 pessoas que deixamos de atender”, disse o gerente Wilson Araújo.
Ele diz que a interrupção foi das 17h da terça até o mesmo horário de quarta. “Disseram para a gente que uma válvula ficou fechada.”
Em nota, a Sabesp disse que a interrupção no abastecimento na Vila Madalena seria temporária, devido a obras numa rede entre as ruas Galeno de Almeida e João Moura.
A empresa afirmou que restabeleceria a água “gradativamente durante a noite” e adequaria a pressão na rede nas áreas altas do bairro.
PRESSÃO BAIXA
Nesta segunda (28), o diretor da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, Paulo Massato, admitiu que a companhia fez uma “economia fabulosa” de água reduzindo a pressão na rede distribuidora durante a noite.
Oficialmente, porém, a Sabesp nega que a medida seja um racionamento de água, e diz que diminuiu a pressão para controlar perdas de água com vazamentos.
Para a advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Claudia Almeira, a Sabesp faz “racionamento mascarado”.
“Falta transparência. O fornecimento de água é um serviço essencial, e o consumidor não sabe quando vai faltar para poder se preparar”, afirma a advogada.
Em uma campanha criada no fim de julho, denominada “Tô sem água”, o Idec coletou 494 relatos de pessoas sem o serviço. Entre os participantes, 73% afirmaram que falta água uma vez por dia em suas residências.
O órgão encaminhou todas as queixas e uma carta para que a Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia) investigue a situação.