SÃO PAULO, SP – Em conversa mediada pela jornalista Thais Bilenky, os colunistas da Folha de S.Paulo Antonio Prata e Tati Bernardi conversaram nesta quinta-feira (31) em Paraty sobre a criação de suas crônicas e contaram ao público de uma Casa Folha lotada como utilizam os fatos de suas vidas para falar de temas mais gerais.
“Considero a crônica sempre uma ficção. Mesmo quando escrevo sobre algo que aconteceu comigo é uma construção ficcional”, disse Prata. “Mas escrevo muitos textos em primeira pessoa sobre coisas que não vivi”, ressalta.
Bernardi contou que com ela ocorre o contrário. “Escrevo muito sobre coisas que aconteceram comigo e minto que foi com outra pessoa.” Os fatos que mais a inspiram são aqueles que a irritam. “Minha terapeuta me disse na primeira sessão que eu não era uma escritora, e sim uma pessoa briguenta. Fiquei com tanto ódio que estou com ela há oito anos só para provar que ela estava errada”, brincou.
Em clima de descontração, a dupla comentou algumas de suas crônicas mais populares. Bernardi diz que após escrever sobre parto humanizado em uma coluna, recebeu durante dez dias “pelo menos umas cinco fotos de vagina diariamente”. Ela disse que as pessoas não entendem seu humor mais agressivo e costumam escrever para xingá-la.
Prata também recebe sua cota de xingamentos, conta, mas não se incomoda. “Já me acusaram de falar muito sobre mim. Mas quando falo do meu casamento, falo de casamentos em geral. O cronista usa a si mesmo para falar da vida.”
Sobre uma de suas crônicas mais polêmicas, “Guinada à Direita”, publicada em novembro do ano passado, na qual dizia ironicamente ter virado de direita, Prata disse que não se incomodou com as críticas, e sim com quem disse que o apoiava. “Meu medo era que as pessoas quisessem começar a queimar gente”, disse.
Bernardi se disse resignada com o fato de que não dá para agradar todo o mundo. “Comecei a fazer textos autoirônicos achando que estava segura. Teve gente que me escreveu dizendo que se achava parecido comigo e que se sentiu ofendido. E começaram a me xingar. Não tem saída.”