Há muito tempo quero escrever, compartilhar, analisar sobre o novo pai. Quem é esse? É o homem que saiu da zona de conforto chamada o provedor ou o sofá da sala, para assumir o papel de cuidador dos filhos, educador, cozinheiro, palhaço e todas àquelas atribuições antes ditas e dirigidas apenas às mulheres, às mães. Também não suporto o papinho ai meu marido me ajuda dando banho nas crianças – ajuda? Como assim? Não é de ajuda que a mulher precisa, é do compartilhamento de tarefas e de papéis, hoje visto de forma mais ativa no dia a dia da família classe média.

Antes de mostrar exemplos, falo aqui de onde eu vim. Meu pai era jogador de futebol quando eu nasci. Minha mãe abriu mão de sua carreira espontaneamente para viver o casamento. Eu tinha quatro anos quando minha mãe teve a segunda gravidez. Foi uma gestação de risco. Durante todo esse período, eu morei com meu pai que na época treinava num time de Florianópolis (SC). Mesmo sendo de uma geração de homem criado para ser macho reprodutor e provedor, ele manteve sua profissão, suas viagens e os cuidados comigo. Pode ter sido desajeitado nas marias-chicas que fazia na minha cabeleira, com elásticos daqueles usados para maços de dinheiro, pode ter ficado apavorado com meu choro de saudades da mãe, mas me dava banho, alimento na hora certa, me levava aos treinos, na praia no fim da tarde, no dentista, me explicava sobre as árvores, os peixes e os motivos que mamãe precisava de repouso absoluto. Um velho novo pai!

No fim do ano passado resolvi aceitar a trabalhar full time, precisava desse start na minha carreira. Foi combinado. Hoje quem cuida da minha filha de sete anos pela manhã é o pai dela. Eu sei que eles têm o ritmo deles, o código eles, sem interferências da mãe, secularmente chamada de rainha do lar – sim eu dou a direção, mas também aprendi que eu sugiro o cardápio e não determino. Que os dias de lavar cabelo podem ser postergados, caso haja algum atraso, esse timing só se consegue com compreensão e parceria. Esse é o ponto.

É natural Para o funcionário público do Instituto Federal do Paraná, Campus Paranaguá, André Cancella, de 31 anos, participar da vida de seu filho de dois anos, Vinícius é natural. Eu acho que tudo foi acontecendo naturalmente, desde o nascimento dele, pois é quando a gente realmente passa a exercer nosso papel direto com a criança. Desde a maternidade até os primeiros dias em casa eu fazia questão de estar com ele, dar banho, trocar fraldas e se pudesse teria amamentado também. – atestou André.

Outro ponto interessante sobre depoimento de André é que sua conduta no envolvimento com o filho, não passou pelo crivo do papel social de pai. De nenhuma maneira algo foi feito por imposição ou para transparecer um papel de pai à sociedade, até porque eu nunca tive um para saber como é ser pai. A cada dia que passa há um sentimento que cresce em progressão geométrica. A busca em oferecer o melhor para ele. Acordar de madrugada para fazê-lo dormir novamente, fazer mamadeira, trocar fraldas, os primeiros banhos sem a banheira, até hoje posso garantir que 90% dos meus banhos são tomados em parceria com meu filho. Levar e buscar na escola, parar numa panificadora, comer um pão de queijo que ele adora, correr atrás dele porque ele muitas vezes não aguenta ficar parado. É uma rotina sem ‘rotina’, pois ele sempre está surpreendendo. A única coisa que acho fundamental e que não pode faltar é paciência, pois é um aprendizado tanto pra nós, pais, quanto pra eles, filhos, resumiu.

Questão cultural Não é discurso feminista ou o de levantar bandeiras por novos movimentos. Mas é indiscutível que a repaginação das famílias, coloca os tradicionais papéis em cheque. O choque da mudança é inevitável, mas tem muito, muitos novos pais provando que eles querem efetivamente participar da vida dos filhos de forma intensa. Na Alemanha já se percebe um movimento de executivos trocando seus turnos de trabalho, a fim de ficar mais tempo com a família. E isso foi matéria no caderno de Economia, confira no link http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,homem-alemao-troca-cargo-por-familia-imp-,1114810.