MARCO RODRIGO ALMEIDA, ENVIADO ESPECIAL
PARATY, RJ – O cineasta Cacá Diegues e o músico Edu Lobo encerraram a programação da Flip nesta sexta-feira (dia 1º).
Ambos lançam na Flip livros de memórias. Diegues publica a autobiografia “Vida de Cinema” (ed. Objetiva). Já o músico é tema de”Edu Lobo: São Bonitas as Canções – Uma Biografia Musical” (Edições de Janeiro), de Eric Nepomuceno. A mediação da mesa foi do jornalista João Cabral de Lima.
O debate passou por vários tópicos da biografia e carreira dos convidados, temperado por tiradas espirituosas dos dois. A falta de foco acabou prejudicando o andamento da conversa.
Lobo contou que era um estudante da PUC quando, a convite de uma amiga, pôde conhecer Vinicius de Moraes numa festa e tocar para ele.
Vinicius perguntou se o jovem aspirante a música tinha algum samba sem letra. A parceria começou logo ali e resultou na música “Só me Fez Bem”.
Com medo de perder a letra, Lobo guardou o pedaço de papel com a letra dentro da meia.
“Minha vida mudou completamente a partir daí. Estava estudando para ser diplomata. Fui salvo da diplomacia por um diplomata [Vinicius].”
Diegues relembrou a criação de seus grandes sucessos, como “Xica da Silva” (1976) e “Bye, Bye, Brasil” (1979).
O primeiro faz uma ode ao Carnaval e à busca da felicidade, mesmo sob as condições mais adversas.
“Acho ridículo este desprezo de certos intelectuais pelo Carnaval. É o maior carnaval de rua da cultura ocidental.”
Na época, o filme recebeu críticas de alguns intelectuais, que viam na história uma espécie de brincadeira com a escravidão.
“Não é um filme sobre a escravidão, mas sobre a busca da felicidade, mesmo você sendo escravo. Não estou dizendo que a escravidão é boa, mas que você pode se divertir mesmo sendo escravo, pode sobreviver.”
Daí o debate pulou para a famosa expressão “patrulhas ideológicas”, que Diegues cunhou no final dos anos 1970.
“Foi uma piada que fiz e deu certo. Devia ter a ver com a realidade, já que pegou. Era o início do fim da ditadura, final dos anos 1970, e alguns intelectuais queriam manter a obra de arte prisioneiras de determinadas ideologias políticas. A criação não pode sofrer nenhuma forma de censura. Não gosto de intelectual orgânico, que não diz o que pensa, só o que o partido pensa”, comentou, sendo muito aplaudido neste ponto.
Os dois ainda falaram do legado de Tom Jobim (“as músicas dele ficam mais bonitas a cada dia”, disse Lobo) e de José Wilker, morto começo do ano (“era um grande ator. Foi muito terrível o que ocorreu com ele”, comentou Diegues).