Toda vez que se aproxima um feriado ou datas importantes como aniversários, Dia dos Pais ou Dia das Mães, por exemplo, as famílias de muitos trabalhadores brasileiros se deparam com um problema: a ausência do pai ou da mãe, devido ao trabalho fora dos horários e dias convencionais.

Outro dia, em Ribeirão Preto, fiquei comovido com a história do pequeno Henrique de cinco anos de idade que perguntava ao pai Manoel, 26 anos de idade, porque ele não estaria em casa no Dia dos Pais. Ele tentava acalmar o filho, explicando que teria que trabalhar durante o domingo num posto de gasolina. Manoel contou que a esposa, Rosana, 25 anos, também estará trabalhando, só que em um Shopping. Ambos moram em um conjunto habitacional bem longe e terão que sair de casa por volta do meio dia, para chegar a tempo ao trabalho. Nem vai dar tempo de almoçar.

O menino esperto como ele só, entende muita coisa, mas não conseguia entender como em um dia tão importante como o Dia dos Pais não conseguirá ficar junto de seu herói. Será mais um dia em companhia de uma vizinha que toma conta dele. Uma lágrima escorreu pelo rosto do garoto quase ao mesmo tempo em que outra molhava o rosto do pai. Não havia muito o que explicar ao menino. O silêncio e a tristeza tomaram conta de todos que estavam na sala da pequena casa, por alguns segundos.
O menino abraça o pai e diz com a candura de um anjinho que vai sentir muito por não passar o domingo jogando bola e nem andando de bicicleta em família. Na segunda feira na escola não terá o que contar para seus coleguinhas de classe. Saí daquela casa pensando muito naquilo que vi, ouvi e senti.

Infelizmente, no próximo domingo, milhares de Henriques por esse Brasil afora também estarão privados da convivência com seus pais. E milhares de pais não conseguirão brincar ou ao menos ver seus filhos porque estarão trabalhando. Eu sei o que é isso. É uma dura realidade que eu tambem vivi como filho e como pai. É um tempo que não volta e marca a vida de muitas famílias, principalmente a dos comerciários que hoje são mais de 12 milhões em todo o Brasil. Só no Estado de São Paulo já somam mais de 2 milhões e 700 mil trabalhadores, sendo aproximadamente 60% mulheres e 40% homens.

A esses pais heróis eternizados na música e na novela, a minha homenagem no seu dia. Ser comerciário é ter talento para oferecer produtos e serviços para pessoas de diferentes humores, de diferentes perfis, sempre com atenção e carinho. É trabalhar duro para manter a família ou para financiar seus estudos com a esperança de que dias melhores virão. Tenho visitado centenas de cidades na Grande São Paulo, no interior e no litoral e tenho constatado que essa esperança por melhores condições de trabalho e melhor qualidade de vida é o que motiva os trabalhadores em geral a continuarem na luta.

Como líder sindical (licenciado) tenho ouvido e anotado nos últimos anos um grande número de providências que precisam ser adotadas em nível nacional para garantir melhor qualidade de vida para esses trabalhadores responsáveis por parcela significativa do PIB brasileiro. A boa notícia é que nessa luta tenho contado com o apoio não só dos trabalhadores, mas também dos pequenos e médios comerciantes que têm reivindicações comuns para melhorar o país como redução da alta carga de impostos, acesso menos burocrático a linhas de crédito, fim da informalidade, erradicação do trabalho infantil e outros que visam o trabalho decente e a justiça social. A minha aposta é que se continuarmos unidos, nas próximas datas que celebraremos o Dia dos Pais, teremos menos Henriques sofrendo longe de seus heróis.

Luiz Carlos Motta é presidente licenciado da Fecomerciários de São Paulo e da UGT São Paulo