O momento — a trágica e precoce morte de Eduardo Campos — reclama, antes de tudo, consternação, tristeza pelo desaparecimento não, apenas, do homem público, mas do marido, pai, amigo.
Os principais analistas do cenário político mantêm a cautela na tentativa de indicar quais serão as consequências para a disputa eleitoral vindoura. Ontem, no Jornal Nacional, Campos respondeu perguntas que lhes foram dirigidas, às vezes de forma dura, com um pouco de nervosismo, talvez pela sua estreia como postulante ao mais alto posto da República. Hoje, fomos surpreendidos pela queda da aeronave e sua morte, bem como de seus assessores e pilotos.
Obviamente, Marina Silva é colocada no centro das especulações. Com o malogro na criação de um novo partido, o Rede Sustentabilidade, Marina filiou-se ao PSB – Partido Socialista Brasileiro – em 2013, no qual Campos era o presidente da sigla. A conjugação das duas trajetórias políticas – Campos e Marina – selada numa aliança e na composição da chapa para disputa presidencial de 2014 gerou surpresa no meio político.
Marina, ambientalista, é detentora de ácidas críticas ao agronegócio, por exemplo, e isso, inúmeras vezes, foi destacado como uma dificuldade dentro da campanha Campos/Marina. No entanto, habilidoso no ofício de político, Campos conseguiu, em parte, vencer a resistência ao nome de Marina dentro de seu partido. Marina, por sua vez, encontrou, também, relutância, entre seus correligionários, à filiação ao PSB e como vice de Campos. Ambos, contudo, queriam se colocar como uma terceira via, escapando da polarização PT X PSDB que predomina nas últimas décadas no Brasil.
Ainda desconhecido de parte do eleitorado, Campos encontrava-se na terceira colocação na disputa deste ano. Havia — e penso que há ainda — o provável segundo turno entre Dilma e Aécio. Como será o comportamento dentro do PSB? Marina será a candidata? O partido terá 10 dias para tomar essa decisão. Creio, e não apenas eu, que ela será a candidata oficial. Em política, as paixões, para o bem e para mal, jogam um papel importante e é, realmente, cedo para saber se os prováveis eleitores de Campos migraram para Dilma ou Aécio.
Há outra possibilidade caso Marina seja a candidata: o seu crescimento nas próximas pesquisas não só pelo seu capital político (foram, em 2010, quase 20 milhões de votos), mas uma empatia dos eleitores por conta desta tragédia que a teria guindado à condição de candidata e não mais como vice.
Enfim, como dito, inicialmente, são as possíveis especulações. E, quando se trata de política, já disseram alhures, o dia seguinte é muito tempo. A tristeza que paira no ar é da ausência de um jovem ator político que, certamente, desempenharia importante papel em nossa democracia.

Rodrigo Prando é professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Graduação em Ciências Sociais (1999), Mestrado em Sociologia (2003) e Doutorado em Sociologia (2009) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho