RIBEIRÃO PRETO, SP – Três voluntários de uma clínica de reabilitação de dependentes químicos foram presos em flagrante sob suspeita de tortura nesta sexta-feira (15) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Segundo a Polícia Civil, os homens espancaram um paciente que tentou fugir pela manhã do Cetrad (Centro de Tratamento e Recuperação em Álcool e Drogas), que fica no Recreio das Acácias, zona leste da cidade. A mesma clínica é alvo de outras denúncias de supostas agressões contra pacientes e é alvo de investigação também do Ministério Público. A advogada da clínica, Cláudia Seixas, disse que a empresa, que é particular, nega as acusações. Ela afirma que “tudo será esclarecido.” De acordo com a advogada, os suspeitos de agressão não têm vínculo empregatício com a clínica. São ex-viciados que atuam como voluntários no programa de recuperação. Ela disse ainda que não poderia dar mais detalhes até o final das investigações. De acordo com o delegado Ricardo Turra, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), o paciente, um homem de 32 anos de Serrana (a 315 km de São Paulo), fugiu pela manhã, mas logo foi encontrado no bairro pelos voluntários. Ao encontrar o “fugitivo”, ainda segundo a polícia, os homens passaram a agredi-lo com socos e pontapés. Um golpe conhecido como “mata-leão” fez o paciente ficar inconsciente. A polícia ouviu testemunhas que presenciaram o ocorrido. “Uma pessoa, que chegou a chamar a polícia, pediu para que eles [os agressores] parassem, mas eles disseram para ela não se meter”, afirmou Turra, acrescentando que os relatos da testemunha são fortes. O paciente deixou a clínica e voltou para sua cidade de origem acompanhado pelo pai. Os suspeitos foram encaminhados à cadeia pública de Santa Rosa de Viterbo (a 283 km de São Paulo) e poderão ser indiciados por tortura. O delegado, que já investigava a clínica também por outras denúncias de agressões, disse que vai comunicar o Ministério Público na segunda-feira (18) para que providências sejam tomadas. Segundo o delegado, dez internos prestaram depoimento no dia 5 após dois ex-pacientes terem relatado agressões ao Ministério Público. Turra disse também que o inquérito vai apurar se houve tortura, ameaça e cárcere privado. Um dos internos afirmou, em depoimento, que foi obrigado a cavar um buraco e a ser enterrado no local, ficando apenas com a cabeça para fora. Ele falou ainda que a perícia foi feita na clínica e o buraco foi encontrado. “As declarações são contundentes. Todos eles falam com bastante convicção”, disse Turra. Segundo ele, os internados afirmam que as supostas agressões não são recentes. Os que denunciaram voltaram para suas famílias. Outros 70 pacientes permanecem na clínica, que continua funcionando normalmente. O valor para a internação, durante seis meses, é de cerca de R$ 10 mil. Também são cobrados uma cesta básica por mês e mais R$ 60 para outros gastos. Os internados ainda disseram que há quartos superlotados. OUTRO LADO Em nota, os sócios do Cetrad já haviam informado que a direção desconhece qualquer tipo de agressão dentro da clínica. As denúncias, segundo os diretores, partiram “de uma minoria, que não aceita a doença e o tratamento.” “Temos uma estrutura que dificilmente será encontrada em outras clínicas nesse segmento. Estamos com licença de funcionamento em dia e temos um índice de recuperação bem acima da realidade no tratamento contra as drogas”, diz a nota, assinada por Djalma Henares Junior, Maria Teresa C. Bellini e Marluci Cabrera B. Henares. Eles negam todas as acusações e informam que o Ministério Público e a polícia investigam o caso.