PAULA SPERB SÃO PAULO, SP – Eles são jovens o suficiente para sair do ninho, mas não para desbravar o mundo sem dificuldades. Cerca de 1.100 pinguins-de-magalhães foram encontrados mortos nos últimos três meses em uma faixa de cerca de 150 quilômetros do litoral gaúcho, que vai de Torres (165 km ao norte de Porto Alegre) a Dunas Altas, localidade próxima a Palmares do Sul.

“Não é normal aparecerem mil pinguins na orla, eu nunca vi tantos assim. Mas a mortalidade é grande nos meses de inverno”, diz o biólogo Ignacio Moreno, do Ceclimar (Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), órgão responsável pelo monitoramento dos pinguins.

Segundo o professor, a maioria dos pinguins é considerada “juvenil”. Isso significa que as aves não são filhotes, mas também não são adultas. “Eles têm maturidade para sair do ninho e não dependem mais dos pais. Mas, em alto-mar, podem não conseguir obter alimento suficiente”, diz.

Na Patagônia argentina, a população de pinguins é de cerca de 950 mil casais, que geram um filhote cada um. Crescidos, eles precisam sair em busca de alimento. “Eles aproveitam a corrente marítima das Malvinas para migrar para o norte atrás de alimento. Muitos morrem porque não conseguem se alimentar, são inexperientes”, diz Moreno. Outros morrem de doenças respiratórias, mas sempre de causa natural. Nenhum dos pinguins foi encontrado com manchas de óleo.

“Se o homem não estivesse aqui, aconteceria do mesmo jeito”, afirma. Além da falta de maturidade, há outras três explicações para as mortes, segundo o biólogo. A primeira é a seleção natural. Como a população de pinguins é grande, apenas os mais adaptados sobrevivem. A segunda razão é a influência da ação humana sobre os oceanos, na forma de poluição. “As espécies marinhas estão sentindo o impacto.” Por fim, a aproximação do fenômeno climático El Niño altera as correntes marítimas.

O professor alerta que todos podem colaborar com as espécies marinhas, evitando o uso de sacolas plásticas e canudinhos, especialmente à beira-mar. “Resgatamos muitas tartarugas e pássaros com o estômago cheio de lixo”, diz.

Os pinguins-de-magalhães são conhecidos por seus laços familiares e pela união no cuidado com os filhotes. Mas não se trata de “fidelidade”. O companheirismo dos casais é chamado de monogamia social, isto é, uma fêmea pode acasalar com vários machos, mas um deles assume o papel de pai. “É praticamente impossível manter dois ninhos”, explica, porque tanto a mãe como o pai são importantes para cuidar do filhote. Nesse revezamento, sobra pouco tempo para uma segunda família.