FELIPE GUTIERREZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA – O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, afirmou que os credores do país podem sugerir uma maneira para receber seu dinheiro.
“O pagamento pode ser por vias diferentes, o poder executivo apresentou um canal livre de obstruções. Os credores podem, em conferência, oferecer um outro ainda”, afirmou o ministro.
Ele deu uma entrevista coletiva para explicar o projeto de lei apresentado na noite de terça (19) pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A proposta é “remover o Bank of New York Mellon como agente do pagamento” e designar, em seu lugar, um banco argentino.
Isso seria feito por uma nova troca de títulos, que serão regidos pelas leis argentinas, “em condições financeiras idênticas”. É uma maneira de evitar o calote que os credores que vinham recebendo seus pagamentos tomaram, decorrente de uma decisão do juiz norte-americano Thomas Griesa.
Depois de declarar um calote em 2001, a Argentina procurou seus credores para voltar a pagá-los. A reestruturação consistiu em voltar a honrar seus compromissos, mas apenas cerca de 30% do valor da dívida anterior. A grande maioria dos detentores de títulos, formada por 92% deles, aceitou.
Uma parte dos que ficaram de fora da troca processou o governo. Em junho deste ano, o juiz dos EUA Thomas Griesa determinou que a Argentina só poderia seguir pagando aos credores da dívida reformada caso acertasse as contas com dois fundos de investimentos, o NML e o Aurelius, que são donos de cerca de US$ 1,3 bilhão em títulos antigos.
A Argentina depositou o dinheiro aos credores da dívida reformada mesmo assim. Mas o juiz determinou que o Bank of New York Mellon não poderia transferir esse dinheiro.
Por isso o projeto de lei que será enviado ao Congresso argentino tem como intuito trocar o agente de pagamentos -porque, dessa forma, os credores irão receber. Pelo mesmo texto, abre-se a possibilidade de os credores que ficaram de fora da troca aceitem a negociação -por isso, todos os credores iriam voltar a receber.
Na conferência, Kicillof falou longamente sobre como a dívida foi formada nos anos 1990 e criticou o juiz e os fundos “abutres”, que compraram títulos quando eles já não eram pagos. Ele construiu uma metáfora sobre a dívida -que, antes do governo dos Kirchner, seria uma gigantesca bola de neve indômita e que, depois da reestruturação de 2005, e que o governo “a derreteu” e, uma bola “gerenciável”. E que os fundos “abutres” e o juiz Griesa teriam como intenção voltar à situação anterior.
Falando sobre possíveis críticas “na mídia de Wall Street”, o ministro afirmou que espera ler colunas dizendo que os argentinos “são maus, são feios, são latinos, alguns são negros. Irão dizer barbaridades e que o juiz precisa ser mais severo com o país”.
Kicillof também afirmou que o país irá depositar o dinheiro de um próximo vencimento, no dia 30 de setembro. No entanto, ele não soube responder como isso será feito -já na Argentina, caso o projeto tenha sido aprovado, ou sujeito a um novo congelamento. “É muito hipotético”, disse, agregando que espera a reação do juiz Thomas Griesa e dos fundos “abutres” dessa nova manobra argentina.