PEDRO SOARES RIO DE JANEIRO, RJ – A greve de dois meses no IBGE, que terminou na semana passada sem a pretendida equiparação salarial com outros órgãos do governo, deixou um legado ruim: o atraso na divulgação de várias pesquisas importantes que retratam a realidade socioeconômica do país. O maior estrago foi a postergação da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua), o primeiro dado oficial sobre mercado de trabalho formal e informal em nível nacional e com informações conjunturais, divulgada a cada três meses. O levantamento era prioridade do IBGE e começou a ser estruturado em 2009. Seus primeiros dados foram divulgados em janeiro deste ano, retroativos a 2012. Em nível nacional, o último dado disponível mostrou que o desemprego no país ficou em 7,1% no primeiro trimestre de 2014, acima dos 6,2% dos últimos três meses de 2013. Com a greve, o IBGE apresentará novos dados referentes ao segundo trimestre apenas em 6 de novembro, ou seja, após as eleições -um dos temas mais citados na disputa à Presidência é justamente a estagnação do mercado de trabalho do país, com a fraca geração de postos de trabalho neste ano. Os números da Pnad Contínua mostram uma taxa de desemprego média no país acima da Pesquisa Mensal de Emprego, restrita às seis maiores regiões metropolitanas do país -o último dado da média dessas áreas é de abril, com taxa de desemprego de 4,9%. A pesquisa divulgada nesta quinta-feira (21) foi a terceira seguida sem os dados consolidados devido à greve. Em 9 de dezembro, saem os dados da Pnad Contínua referentes ao terceiro trimestre. CRISE INSTITUCIONAL A direção do IBGE decidiu em março suspender a pesquisa, alegando que não teria como processar dados de rendimento neste ano, após a senadora petista e agora candidata ao governo do Paraná Gleisi Hoffmann pedir que informações de renda teriam de estar disponíveis para realizar a repartição do Fundo de Participação dos Estados. A decisão da diretoria gerou uma crise institucional, com reação do corpo técnico. Duas diretoras deixaram os cargos em protesto. A presidente do IBGE, Wásmalia Bivar, voltou atrás e manteve a divulgação da pesquisa, após os técnicos -que temiam a ingerência política no instituto- apresentarem um novo cronograma de trabalho. O IBGE alega que a postergação ocorreu porque a mesma equipe tem de finalizar até setembro a antiga Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que terá neste ano sua última divulgação em setembro (sem atraso) e traz dados anuais de emprego, renda, educação, saúde, entre outros. A pesquisa será substituída pela Pnad Contínua em 2015. A presidente do IBGE já afirmou que era necessário realizar o levantamento para “fechar um ciclo” -ou seja, contemplar este último ano do governo da presidente Dilma. Também sofreram atrasos por conta da greve as pesquisas estruturais (que mostram uma realidade de mais longo prazo e são anuais) as Pesquisa Industrial de 2012, Pesquisa Anual da Construção Civil e Pesquisa Anual do Comércio, que serão divulgadas entre setembro e outubro. O calendário de divulgação do PIB não sofreu alterações. A próxima divulgação com dados do segundo trimestre será no dia 29 deste mês.