RIO DE JANEIRO, RJ – O cumprimento de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal no Rio, dentro da Operação Lava Jato, tem como objetivo destrinchar uma rede de empresas sediadas no mesmo endereço e que têm como clientes empreiteiras prestadoras de serviços à Petrobras e ao setor petroquímico, informou o Ministério Público Federal no Paraná.
As empresas são ligadas a Humberto Sampaio de Mesquita, genro do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso em Curitiba, e a seu sócio Marcelo Barboza Daniel -que está fora do país e contra quem havia um mandado de condução coercitiva (levado a prestar depoimento).
Foi a força Tarefa do MPF que pediu a realização da operação no Rio. O ponto de partida dessas investigações, segundo os procuradores, foram transações financeiras entre Mesquita, Daniel e Costa, descobertas a partir da quebra de sigilos do ex-diretor da Petrobras e de seus parentes.
Constatou-se, de acordo com o MPF, que Costa contraiu empréstimo de R$ 1,9 milhão de Daniel, e que Mesquita recebeu doação de R$ 1 milhão, também de doação.
A partir daí, os procuradores passaram a investigar Daniel, e constataram que empresas suas e de Mesquita tinham diversas empresas no mesmo endereço, uma em sociedade.
“Seus clientes consistiriam, basicamente, em construtoras contratadas para a realização de obras pela Petrobras e empresas do setor petroquímico”, diz nota do MPF.
Desta forma, as operações financeiras identificadas poderiam, no entender dos promotores, justificar “repasse de valores de propinas para Paulo Roberto Costa”.
Procuradores identificaram, ainda, relação entre as empresas de Daniel e Mesquita com documentos anteriormente apreendidos com Paulo Roberto Costa. Um deles é um relatório que, segundo as investigações, pode se tratar de informação do doleiro Alberto Yousseff sobre valores sob administração de Paulo Roberto Costa. Outro é a planilha em que Costa anotava a mão valores e nomes de empresas.
Depoimento prestado por um novo colaborador da Polícia Federal aponta que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, esteve várias vezes na sede da CSA Project Finance, empresa do doleiro Alberto Youssef e do ex-deputado José Janene (PP-PR), que morreu em 2010, “possivelmente a fim de tratar de operações com fundos de pensão” com o outro sócio da empresa.
Ao decidir colaborar com a polícia, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa afirmou ser sócio da CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais e disse que integrantes do esquema de lavagem de dinheiro, desmontado pela Operação Lava Jato, podem ter pagado propina para captar dinheiro do fundo de pensão da Petrobras, o Petros.
INVESTIGAÇÃO
Paulo Roberto Costa foi diretor da Petrobras e, depois de deixar o cargo, passou a atuar na área de consultoria. É suspeito de manter parceria com o doleiro Alberto Youssef e de usar o prestígio na Petrobras para intermediar negócios com fornecedoras e empresas que prestam serviços para a estatal.
A PF passou a investigar empresas e movimentação financeira do ex-diretor da Petrobras e da família dele depois que as filhas e os genros de Costa foram filmados dentro do elevador carregando documentos do escritório do ex-diretor da Petrobras.
Costa foi preso em março, três dias depois de deflagrada a primeira fase da Lava Jato, suspeito de ocultar documentos. Parte da papelada que a PF conseguiu apreender dá, segundo investigadores, algumas pistas de como Costa planejava usar familiares em negócios considerados suspeitos. Um dos documentos diz respeito à abertura de empresas em paraísos fiscais em nome da mulher e das duas filhas dele.
Depois de passar 59 dias na cadeia, o ex-diretor da Petrobras foi solto e voltou a ser preso dias depois, dessa vez por risco de fuga. Costa escondeu da polícia que tinha um passaporte português e contas na Suíça com saldo de U$ 23 milhões.
As contas atribuídas a Costa e a seus familiares estavam em nome de empresas estrangeiras sediadas em paraísos fiscais, um recurso usado para dificultar que as autoridades encontrem e sequestrem os valores.