Você já fez exames de colesterol nos seus filhos? Se não fez, faça o quanto antes. É que o excesso de colesterol não é uma exclusividade dos adultos. Prova disso foi uma pesquisa sobre colesterol na população infantil realizada pelo Laboratório Frischmann Aisengart. O trabalho levantou os exames de sangue de 878 crianças realizados pelo laboratório. As crianças foram divididas em três grupos: Amostra 1, crianças abaixo dos cinco anos; Amostra 2 , dos cinco aos dez anos; Amostra 3, acima dos dez e até os 15 anos de idade. O resultado é que 48% delas apresentavam níveis elevados de colesterol. Pois é, quase a metade dos pesquisados!

Segundo recomendações da Sociedade de Pediatria, o colesterol total é considerado normal na criança quando abaixo de 150 mg/dL e torna-se mais preocupante quando ultrapassa 200mg/dL. Dentro deste grupo de 48% de crianças com os níveis de colesterol elevado encontradas na pesquisa, um percentual de 5% das crianças tinham menos do que cinco anos de idade, 41% das crianças entre cinco e dez anos e 54% das crianças entre dez e 15 anos.

Das 420 crianças encontradas com os níveis de colesterol elevado, 35% delas apresentavam níveis acima de 200mg/dL, fato encontrado também em todas as faixas etárias. Desta amostra ainda foram encontrados dois pacientes com níveis de colesterol acima de 300mg/dL. Este resultado confirma a tendência mundial de elevação dos níveis de colesterol nas crianças, provável fruto do aumento contínuo dos níveis de obesidade, piora dos hábitos de vida com consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e gorduras trans, bem como o sedentarismo observado em todas as faixas etárias, revela Myrna Campagnoli, endocrinologista do Laboratório Frischmann Aisengart e responsável pela pesquisa.

A endocrinologista ressalta que a pesquisa foi realizada em crianças que tiveram o colesterol solicitado por seus médicos e que, portanto, pode incluir um grupo de crianças já com conhecida dislipidemia familiar e que estavam realizando exames de controle. Por isso, os resultados da pesquisa podem refletir valores percentuais acima do esperado na população. Porém, grande parte dessas crianças provavelmente realizou o exame meramente como rotina.

A especialista explica que até os dois anos, é normal que os níveis de colesterol sejam elevados. Trata-se de uma substância fundamental para a produção de hormônios e desenvolvimento dos neurônios no sistema nervoso central para formar uma espécie de capa que recobre cada um dos neurônios, a mielina, sem a qual os impulsos nervosos não seriam transmitidos de uma célula a outra, afirma. A Dra. Myrna reforça que a falta dele, portanto, pode levar a deficiências no desenvolvimento cognitivo e psicomotor.

Mas a endocrinologista revela que já se sabe que um quarto das crianças de até dois anos com colesterol alto apresentará problemas de saúde na idade adulta. O Programa Nacional de Educação sobre Colesterol da Academia Americana de Pediatria preconiza que crianças com parentes de primeiro grau que tiveram doença coronariana antes dos 55 anos de idade devem começar a prevenção e o controle desse mal a partir dos dois anos.

O que é o colesterol alto
Segundo Myrna Campagnoli, o colesterol é a gordura da alimentação absorvida no intestino que entra na corrente sanguínea, sendo transportada por proteínas até formar o complexo lipoproteína (lipo = gordura). As principais lipoproteínas são: HDL (conhecido como o bom colesterol), o LDL (denominado como o mau colesterol) e o VLDL. O colesterol é necessário para algumas funções do organismo, como a produção de alguns hormônios e ácidos biliares. Mas, em excesso, pode causar problemas, comenta a especialista.

Quando o colesterol atinge níveis altos, oriundos de distúrbio genético somado à alimentação incorreta, as artérias são obstruídas por blocos de gorduras, que interrompem a irrigação normal do sangue, levando às lesões e até à morte da região atingida. Como exemplos podemos citar a obstrução das artérias do coração, que pode causar um infarto e impedir o órgão de bombear o sangue para todo o corpo, e a obstrução de artérias que irrigam o cérebro, o que pode acarretar um acidente vascular cerebral, conhecido pela sigla AVC, acrescenta a Dra. Myrna.

Como é uma doença silenciosa, que não apresenta sintomas, o diagnóstico é feito por meio de análises do sangue do paciente. Por isso, é muito importante a realização de exames periódicos. A dosagem do colesterol não deve estar restrita às crianças com excesso de peso, e sim, deve ser realizada em todas as crianças acima de 2 anos de idade. A elevação do colesterol acomete igualmente os magrinhos, em virtude dos erros alimentares e do sedentarismo, acrescenta a médica.

O ideal é que o paciente procure um médico e se submeta às medidas necessárias. O tratamento baseia-se na alimentação nutricionalmente balanceada, sem excessos de gorduras e rica em fibras. Além da pratica regular de exercícios físicos. Em alguns casos, podem ser necessários medicamentos à base de estatinas (classe de drogas que engloba várias substâncias com mesmo mecanismo de ação, porém, de potências diferentes)”, conclui a Dra. Myrna.

Myrna Campagnolli é médica endocrinologista pediatra, no Laboratório Frischmann Aisengart