A mania de usar o telefone celular em sala de aula pegou também entre adultos. O hábito antes adolescente está também irritando professores. Em aulas de modelo vivo nu, o artista plástico e professor de desenho Paulo von Poser, 53, veta fotografias. Faz um “estacionamento” de telefones na entrada da sala. “É uma solução bizarra, mas, depois que um aluno, não resistindo à tentação, quase apanhou da modelo, achei melhor garantir certa civilidade”, conta. “O máximo são alunos que tentam desenhar falando no celular pressionando-o entre o ombro e a orelha! Aviso na hora: torcicolo e desenho torto garantidos.”

O professor de história da Unicamp Leandro Karnal, 51, resolveu fazer o que chamou de “atividade educativa” na pós-graduação. “Pela primeira vez na vida, deixei o celular ligado em sala. Didaticamente e teatralmente, passei a aula checando o aparelho e fingia interromper frases para atender ligações. Ao final, sorridente e prestes a dar uma lição, perguntei se haviam notado. Ninguém percebeu.” Noemi Jaffe, 52, professora de literatura e escrita, acredita que, “de certa forma, é como se os adultos voltassem à adolescência, pois as redes sociais têm uma carga de infantilização e isso reduz a capacidade de concentração”.

Em seu curso de escrita criativa, alunos interromperam a aula para avisar que um colega mandou um Whatsapp dizendo que não viria. “Também usamos o celular para consultar dicionários, buscar bibliografias e autores. Só ajuda”, opina o advogado Eduardo Muylaert, aluno de Jaffe. Muylaert tem por hábito postar fotos do curso nas redes sociais e os colegas comentam –tudo em tempo real. “Há uma urgência em tirar foto de tudo o que se passa na aula”, constata Noemi. 

O empresário Bruno Rondani começou o doutorado em 2008, aos 27, quando tinha dois filhos e esperava o terceiro. Quatro anos depois, já com quatro filhos, defendeu sua tese e foi direto para a maternidade: nascia o quinto. Foi inevitável assistir às aulas conectado. O combinado era que sua mulher só o acionaria em casos de urgência. Mas os filhos sempre mandavam fotos, vídeos, falavam de passeios. “A gente fica ligado, né? Sou viciado no celular. Mas não acho que prejudicou meu desempenho.” Adriana Rossatti, 37, aluna de Noemi Jaffe, diz que o aparelho evita burburinhos em sala. “Quando a gente era criança, passava bilhetinho. A gente continua fazendo comentários como Fulano está nervoso hoje, não?’, mas em silêncio pelo Whatsapp”, diverte-se.