ANDERSON FIGO SÃO PAULO, SP – A corrida eleitoral voltou a servir de pretexto para os negócios com ações de bancos, estatais e empresas de energia nesta quarta-feira (27), levando os papéis a níveis recordes na BM&FBovespa. Esses setores, segundo analistas, são os que mais se beneficiariam de uma troca de governo. Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o dia em alta de 1,89%, aos 60.950 pontos. Foi a terceira valorização seguida do Ibovespa, que atingiu sua maior pontuação desde 24 de janeiro de 2013, quando ficou em 61.169 pontos.

O volume financeiro movimentado no dia foi de R$ 10,814 bilhões, bem acima da média diária do mês de agosto, de R$ 6,062 bilhões. O ânimo do mercado refletiu o resultado da pesquisa Ibope divulgada na noite passada. O levantamento apontou vitória da candidata Marina Silva (PSB) sobre a presidente Dilma Rousseff (PT) em um segundo turno da eleição de outubro: Marina teria 45% das intenções de voto, enquanto Dilma ficaria com 36%. Uma possível troca de governo é vista com bons olhos pelos investidores, que têm se mostrado insatisfeitos com a gestão das estatais pelo atual governo e com o fraco crescimento econômico.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras ganharam 4,58%, a R$ 22,84 cada uma. É o maior preço desde 24 de setembro de 2012, quando valia R$ 22,96. Outra estatal, a Eletrobras viu seu papel preferencial subir 4,85%, a R$ 12,53. No setor financeiro, o Banco do Brasil ganhou 4,68%, a R$ 32,90 -mais alto preço desde 2 de dezembro de 2010, quando a ação do maior banco do país era cotada em R$ 33,49. Já o Itaú subiu 3,03%, a R$ 39,84 -maior valor desde a fusão com o Unibanco, em novembro de 2008.

Na manhã desta quarta-feira (27), pesquisa do instituto MDA encomendada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) revelou que, num eventual segundo turno entre Dilma e Marina, a candidata do PSB venceria por 43,7% a 37,8%. Em simulação de segundo turno entre Dilma e Aécio Neves (PSDB), a presidente que busca a reeleição ganharia com 43% ante 33,3% do tucano.

Investidores também digeriram o debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, na noite desta terça (26), no qual Marina Silva prometeu governar unindo o Brasil, enquanto Aécio Neves defendeu ser uma mudança segura. Já a presidente Dilma defendeu as realizações de seu governo.

“Marina se apresentou com um discurso ‘market friendly'”, diz João Pedro Brügger, analista da consultoria Leme Investimentos. “O mercado gosta quando ela fala de autonomia do Banco Central, austeridade fiscal e mudança no modelo econômico, que tem sido pautado no crescimento de renda e crédito, o que parece ser insustentável”, acrescenta. Até que ponto a alta das ações pode ser exagerada, segundo o analista, é difícil de dizer. “A operação da Petrobras, por exemplo, é trabalhosa e muita coisa tem que ser modificada. A ‘coisa’ não mudaria de uma hora para a outra com a chegada de um novo governo”, afirma.

Para Brügger, ainda há espaço para a Bolsa subir mais, mesmo que boa parte do mercado já esteja precificando uma alternância no poder. “O aumento pode ocorrer principalmente conforme as propostas de governo de cada candidato forem ficando mais claras”, completa.

TELES

Também ganharam força nesta quarta-feira (27) as ações do setor de telecomunicações. A Oi subiu 6,72%, para R$ 1,43, após a companhia ter assinado contrato com o banco BTG Pactual para fazer uma oferta e adquirir a participação da Telecom Italia na TIM. Os papéis da TIM, por sua vez, ganharam 10,05%, a R$ 12,59 cada um.

“O EV [valor de mercado] hoje da TIM é de R$ 28,6 bi, sem considerar um prêmio de controle. Já a Oi possui um endividamento na casa de R$ 47 bi, ainda bastante alavancada, 4,7 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda. Em suma, o endividamento da Oi hoje torna a operação bastante complexa, dada a alavancagem da companhia”, avalia Ricardo Kim, analista da XP Investimentos, em relatório.

As ações da Telecom Italia tiveram alta de 3,17% na Bolsa de Milão, enquanto os papéis da Portugal Telecom, que está em processo de fusão com a Oi, dispararam 6,30% na Bolsa de Lisboa. De volta ao Brasil, a Vale viu sua ação preferencial cair 1,41%, para R$ 27,25, na esteira de mais um dia de baixa nos preços do minério de ferro negociados no mercado chinês. A China é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve desvalorização de 0,55% sobre o real, cotado em R$ 2,258 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve desvalorização de 0,79%, a R$ 2,246. O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, através do leilão de 4.000 contratos de swap (operação que equivale à uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 197,5 milhões. A autoridade também promoveu um outro leilão para rolar os vencimentos de 10 mil contratos de swap previstos para 1º de setembro, por US$ 494,4 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 80% dos papéis com prazo para o primeiro dia do mês que vem.