Aos 9 anos de idade, Gabriel passa os finais de semana jogando ‘Minecraft’ enquanto conversa com seus amigos pelo Skype em chamadas de voz, “porque parar o jogo para digitar não daria certo”. Com 10 anos de idade, Emília conversa com as amigas no Facebook enquanto vê um filme pela Netflix. Também com 10 anos, Gustavo joga games de futebol pela internet a tarde toda com pessoas de diversas partes do mundo ou assiste a vídeos sobre jogos no YouTube, enquanto planeja criar seu próprio canal de vídeos para ganhar dinheiro.
Os três, assim como milhões de jovens no País, fazem parte de uma geração que já nasceu conectada e que usa cada vez mais plataformas para jogar e interagir com seus amigos. Segundo a pesquisa TIC Kids Online 2013, divulgada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) em julho, 79% dos jovens conectados à web entre 9 e 17 anos no Brasil estão em alguma rede social; em 2012, eram 70%.

Pelas suas atividades online, Gabriel, Emília e Gustavo, porém, podem ser considerados clandestinos digitais. Isso porque a maioria dos serviços que utilizam — incluindo redes de jogos como Minecraft e League of Legends — não são permitidos para menores de 13, 16 ou 18 anos, de acordo com suas condições de uso.
“Tenho Facebook desde 2010, e para me cadastrar disse que eu tinha 22 anos, a idade do meu irmão mais velho. Sempre faço isso com qualquer coisa que me pede idade”, diz Gustavo. Ele não é o único: 37% dos jovens conectados do País usam idades falsas em seus perfis em redes sociais —entre 9 e 13 anos, a proporção vai para 55%, aponta pesquisa do NIC.br.
Caso sejam descobertos pelas empresas, os “pequenos usuários” podem ter suas contas excluídas de plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e contas do Google, que incluem serviços como YouTube e Gmail, muitas vezes utilizadas não só para entretenimento, mas também para educação.
“O Gustavo costuma passar a tarde assistindo vídeos de receitas no YouTube, e vive surpreendendo a gente na cozinha com coisas fáceis”, conta Sandra, mãe do garoto que também usa o Facebook para saber sobre as tarefas da escola em um grupo com seus colegas de sala.
Para a professora da Universidade da Califórnia Mimi Ito, estudiosa do comportamento jovem na internet, as empresas de tecnologia precisam ter uma postura mais ativa com relação aos direitos das crianças. “Na maior parte das vezes, as empresas só incentivam as crianças a saírem das plataformas”, diz.

Opinião

Leia o que diz a professora Mimi Ito, da Universidade da Califórnia
e pesquisadora do comportamento jovem na internet

Para a maioria das crianças, a internet é uma extensão dos relacionamentos que elas têm ao vivo, mandando mensagens para seus amigos. Mas muitas crianças usam a web para acessar novas informações, ou para jogar. Nessas redes de interesses, elas também fazem amigos de todas as idades, mas há uma divisão clara desses ambientes. Seria estranho ter adultos por perto no Facebook, porque ali é que elas fazem amizades ou flertam entre si, e os jovens têm essa noção de forma muito clara.

Para meu filho, jogar StarCraft é tão importante quanto o campeonato de basquete. A maioria dos pais não passou por isso. Temos de educar a nós mesmos e nos envolver com o que eles fazem. Muitos pais desistiram de lidar com o mundo online, só porque não é algo familiar a eles.  

Eu nunca adicionaria meus filhos no Facebook! Eles não querem que eu saiba por quem eles estão apaixonados, ou quem são os mais populares da sala. Pelo contrário! Por outro lado, me envolvo nas redes de interesses deles. Jogo Minecraft com meus filhos, tento saber o que é um tumblr. É preciso que as crianças entendam que o seu interesse pelo que elas fazem é genuíno – e elas querem isso. Mas, se elas virem que você só quer controlá-las, elas vão se rebelar.

Os pais precisam entender que seus filhos podem ajudá-los a entender a tecnologia, e dar a eles a sabedoria para lidar com isso. Muito do que nós falamos aqui é apenas sobre como se portar em sociedade. Eles conhecem as ferramentas, nós podemos dar os valores.