LUCAS VETTORAZZO E PEDRO SOARES
RIO DE JANEIRO, RJ – A grande quantidade de feriados e dias parados na economia em função da Copa do Mundo contribuiu para a queda da atividade na indústria e desacelerou o setor de serviços no cálculo do PIB do segundo trimestre deste ano.
A indústria apresentou retração de 3,4% no período de abril a junho em relação a igual período do ano passado. Foi o pior recuo já registrado nessa base de comparação desde o terceiro trimestre de 2009, quando a retração foi de 6,8%.
As fortes quedas dos segmentos de construção civil (-8,7%) e da indústria de transformação (-5,5%) foram responsáveis pela queda.
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o recuo da indústria foi de 1,5%.
Sob impacto negativo do Mundial, de freada do consumo das famílias e da retração dos investimentos, o PIB do país caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.
O instituto também revisou para baixo o desempenho do primeiro trimestre, para queda de 0,2%, indicando, segundo analistas –embora o termo não haja consenso sobre o termo–, que o Brasil entrou em recessão técnica.
BENS DURÁVEIS
De acordo com a gerente das Contas Nacionais do IBGE, Rebecca Pallis, na indústria de transformação o destaque negativo foi o segmento de bens duráveis, impactado principalmente pela produção mais baixa de máquinas e automóveis.
Além da piora do cenário geral para a aquisição de bens que demandam financiamento –devido à inflação, aos juros altos e à redução da oferta de crédito–, o cenário foi aprofundado pela grande quantidade de feriados e dias parados nas fábricas em função da Copa.
O segmento automotivo teve impacto também da redução das exportações para a Argentina e Venezuela, do fim dos incentivos de IPI no início do ano e também do aumento do endividamento da população, o que reduz o movimento de renovação da frota. Muitas montadoras deram férias coletivas a seus funcionários no segundo trimestre.
O endividamento das famílias impactou negativamente o setor de construção civil, que teve a maior queda desde o primeiro trimestre de 2002, de 9,6%, e já registra demissões.
A Copa também influenciou negativamente por conta de muitas pessoas adiarem a decisão de compra ou reformas de imóveis.
O segmento de extração mineral teve alta de 8%, beneficiado por aumento de produção de minério de ferro e petróleo, e foi o indicador que, ao lado de eletricidade, água e esgoto (alta de 1%), foi bem na indústria.
SERVIÇOS
Os serviços, que vinham em trajetória de alta acima de 1% desde o terceiro trimestre de 2009, tiveram alta de apenas 0,2% no segundo trimestre, na comparação com mesmo período de 2013, registrando desaceleração. Contra o primeiro trimestre, houve queda de 0,5%.
Após 18 trimestre de alta consecutiva, o comércio teve retração de 2,4%. Contra o primeiro trimestre, a queda foi de 2,2%.
A grande quantidade de feriados contribuiu para a queda geral do segmento, um dos mais fortes no setor de serviços. A queda de 1,6% do indicador “outros serviços”, que inclui serviços de saúde, alojamento e alimentação e serviços prestados às empresas, também influenciou para o desempenho menos favorável.
As outras cinco categorias de serviços, porém, tiveram alta, com destaque para serviços de informação, que inclui internet e TV, que subiu 3%.