PAULA SPERB E FERNANDA CANOFRE PORTO ALEGRE, RS – O Ministério Público do Rio Grande do Sul e a Polícia Civil vão tentar identificar outros torcedores que fizeram ofensas racistas ao goleiro Aranha, do Santos, no duelo da última quinta-feira (28), contra o Grêmio pela Copa do Brasil. Até agora, a única torcedora identificada foi Patricia Moreira, uma auxiliar de dentista que prestava serviços à Brigada Militar (a PM local). Ela aparece em imagens de TV xingando o goleiro de “macaco”. Um dos pontos é tentar saber se houve participação de torcidas organizadas no episódio.

O promotor José Seabra Mendes Júnior, da Promotoria do Torcedor, afirmou nesta sexta-feira (29) que haverá uma reunião com a FGF (Federação Gaúcha de Futebol) e com a Brigada Militar [a PM local] para discutir o envolvimento de organizadas do Grêmio. “Está combinada para a semana que vem uma reunião com a FGF e com a Brigada Militar para ver se os xingamentos estão vinculados com a torcida organizada. Se tivermos dados concretos que apontem para isso, a torcida terá sanção”, disse.

O promotor explica que, mesmo sem identificação da torcida organizada, os torcedores acabam ocupando os mesmos lugares do estádio. A torcida “Geral do Grêmio” já está cumprindo uma sanção após a violência ocorrida em um clássico Gre-Nal. Por cinco jogos, a torcida não foi autorizada a ir ao estádio com faixas que a identifique ou instrumentos musicais.

A sanção termina neste domingo (31). “Ontem (28), não foi só o caso de uma torcedora, mas um coro de torcedores. Isso pode acarretar a suspensão da torcida”, diz ele, referindo-se à torcedora Patrícia Moreira. Segundo a Promotoria, proibir a entrada individual de torcedores é mais complicado porque exige uma ação cautelar e, portanto, a identificação de cada autor de atitudes racistas. A Promotoria já havia cobrado providências da FGF sobre casos de racismo após as ofensas ao árbitro Márcio Chagas, em Bento Gonçalves (a 100 km de Porto Alegre).

POLÍCIA CIVIL

Já a Polícia Civil, que abriu inquérito sobre o caso, quer identificar os outros torcedores que aparecem nas imagens de TV imitando gritos e gestos de macaco. Há, inclusive, torcedores negros fazendo os gestos. Antes de embarcar para São Paulo, Aranha compareceu ao 4º Distrito Policial e fez um boletim de ocorrência informando os fatos, segundo Lindomar Souza, chefe de investigação do DP.

De acordo com ele, Patrícia Moreira é apenas uma das investigadas. “Nas declarações dele [Aranha], ele disse que tinha mais pessoas, incluindo dois negros”, afirmou. “Estamos reprimindo uma injustiça, não podemos cometer outra”, afirmou o comissário. “O que aconteceu foi nojento.O jogador é um trabalhador. Aranha estava trabalhando”, concluiu.