A entrada da candidata Marina Silva (PSB) no jogo eleitoral fez com que a Bolsa subisse 9,78% em agosto e liderasse, pelo terceiro mês seguido, o ranking de investimentos elaborado pela Folha de S.Paulo. A Bolsa também é a melhor aplicação em 12 meses, com avanço de 22,55%.

Com a disparada do índice, os fundos de ações livre -opção para o pequeno investidor que quer aplicar em Bolsa- encerraram o mês com avanço de 4,15% (antes de Imposto de Renda). Após o desconto do IR, de 15% na categoria (independentemente do prazo), os fundos sobem 3,53%. Em 12 meses, a valorização é de 9,72% –já com desconto de IR.

A inflação projetada para agosto, de acordo com o IPCA (índice oficial) é de 0,23%, segundo pesquisa mais recente feita pelo Banco Central com economistas. No ano (até julho, dado mais recente disponível) está em 3,76%, enquanto em 12 meses o avanço é de 6,50%.

O ranking da Folha de S.Paulo considera o rendimento das aplicações descontado o Imposto de Renda, quando incidente, para resgate em um mês e após 12 meses. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado. No caso dos fundos de investimento, os cálculos usam como base os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Além do desempenho mensal, que ajuda a identificar as principais influências sobre os investimentos nesse período, o retorno em 12 meses é considerado por refletir o comportamento dos investimentos em um prazo maior, corrigindo eventuais oscilações de curto prazo. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de Imposto de Renda a pagar -de 17,5% até o mínimo de 15% na renda fixa. Antes de tomar uma decisão, o investidor não deve levar apenas em conta a rentabilidade passada, pois, como bem alertam os informativos de fundos e outras aplicações, ela não é garantia de rentabilidade no futuro.

BOLSA

A Bolsa teve, em agosto, o melhor mês desde janeiro de 2012 após a confirmação do nome de Marina Silva para substituir na corrida presidencial o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 13 de agosto. Marina é vista pelo mercado como uma adversária mais forte do que Aécio Neves (PSDB) para impedir a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). As pesquisas eleitorais divulgadas até o momento com o nome da ex-ministra do Meio Ambiente confirmam essa hipótese. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no dia 18, a candidata do PSB aparece com 21% no primeiro turno -um ponto percentual à frente de Aécio- e empataria com Dilma no segundo turno. Já levantamento do Ibope mostra Marina dez pontos à frente de Aécio. A pesquisa indica ainda vitória da ex-ministra do Meio Ambiente no segundo turno eleitoral. “O mercado tem deixado claro na disputa eleitoral que tudo o que pode trazer impacto negativo na campanha da Dilma Rousseff (PT) será levado ao lado oposto (com efeito positivo na Bolsa). Isso envolve, por exemplo, o crescimento fraco do PIB, o fato de a Marina Silva (PSB) ter se saído melhor no debate na TV e expectativas por pesquisas que estão por vir”, afirma Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. “O mês foi marcado principalmente pelo aspecto eleitoral. Temos um fluxo de estrangeiros muito presente no mercado brasileiro. Há sinalização pelo Fed (banco central americano) de que a taxa de juros nos EUA não vai subir no curto prazo e isso beneficia os emergentes, especialmente o Brasil”, complementa. Para o analista, a Bolsa deve continuar inserida no jogo eleitoral até que seja conhecido o novo governo. E, na visão de Filipe Machado, analista da Geral Investimentos, o mercado deve começar a avaliar os efeitos de uma possível vitória de Marina. “Mesmo que os investidores demonstrem animação com uma possível troca de governo, é preciso considerar que a Marina pode ser uma incógnita em alguns pontos. Ela costuma ser bem radical em determinados aspectos e a aceitação de seu governo vai depender das pessoas que ela vai querer manter em sua equipe econômica, caso seja eleita”, avalia. DÓLAR Com a queda de 1,41% do dólar à vista (referência no mercado financeiro) no mês, os fundos cambiais -alternativa para o pequeno investidor que quer aplicar em moeda estrangeira- fecharam o mês com leve baixa de 0,10%. Em 12 meses, acumulam desvalorização de 4,39%, enquanto a moeda americana cai 6,01%. O cenário político também influenciou o comportamento da moeda americana, afirmam analistas. “Apesar de (o mercado de câmbio) ter tido em alguns momentos um pouco da influência do mercado externo, com os conflitos geopolíticos na Europa e no Oriente Médio, o que prevaleceu em agosto foi a corrida eleitoral no Brasil. As propostas de mudança (de governo) têm sido abraçadas pelo mercado financeiro, que é quem precifica os ativos”, diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. “O mercado pode estar se perguntando como vai ficar caso Marina vença as eleições. Se o dólar cair ainda mais depois disso, como ficariam as exportações? Teoricamente, as empresas exportadoras perderiam com um dólar desvalorizado”, afirma. Segundo ele, mesmo com a revisão para cima do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos no segundo trimestre -de 4% para 4,2%, o mercado não se preocupa com um aumento antecipado dos juros americanos. “O grande problema da economia americana é o emprego. Os dados de emprego têm melhorado, mas a presidente do BC americano já disse que eles ainda não são os ideais. Isso alivia o câmbio nos emergentes”, ressalta. RENDA FIXA Os fundos de renda fixa ganharam 0,87% no mês (ou 0,72% após desconto de IR). Em 12 meses, o avanço é de 8,88%, depois de Imposto de Renda. Já os fundos DI -que investem principalmente em títulos públicos e privados pós-fixados- registraram ganho de 0,62% no mês (já descontado o IR) e de 8,49% em 12 meses. A alta ainda é reflexo das sucessivas elevações da Selic, a taxa básica de juros da economia, ao longo de um ano -entre abril do ano passado e abril deste ano. A poupança teve valorização de 0,56% no mês e de 6,89% em 12 meses, tanto para depósitos feitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data. Não há incidência de IR na poupança. OURO O ouro encerrou o mês com queda de 0,54%, cotado a R$ 92,5. Em 12 meses, a queda é de 14,27%. A queda foi influenciada principalmente pela desvalorização do dólar no Brasil. Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. Com o grama hoje a R$ 92,5, quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 23.125. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal. Também é possível optar por fundos que aplicam no metal. É preciso, no entanto, ficar atento à taxa de administração desses fundos e ao valor da aplicação inicial, que pode inviabilizar a entrada do pequeno investidor.