O questionamento da minha filha de sete anos no carro deu o start para uma postagem no Facebook e que logo se tornou a pauta desse mês na coluna. A menina pediu para ler o gibi da Turma da Mônica Jovem. Veio a dúvida, a leitura seria compatível com a idade dela? Prometi que veria se era possível. Eu e o pai dela pesquisamos a respeito, até que o próprio gibi indicava leitura a partir dos 10 anos.

No entanto, quando ela foi comunicada que ainda era cedo para tal leitura, disparou: mas minhas amigas leem, por que eu não posso? Ai está o ponto cruz e caldeirinha da educação, o conflito de valores – mas vivemos e devemos preparar nossos filhos para o mundo das diferenças, não é mesmo?

Esse foi o gancho para explicar que pais educam seus filhos de maneiras diferentes, com visões diferentes, não há certas ou erradas, mas cada pai ou mãe procura, na maioria dos casos, se pautarem naquilo que acredita ser melhor. Nesse momento passamos por uma placa de sinalização que indicava a velocidade máxima de 60km/h.

Perguntei a ela se eu passasse desse limite estava certa, então ela concluiu que eu estaria errada. Foi a metáfora que usei para explicar que tudo tem limites, até mesmo a velocidade permitida numa rua. Pronto, sem questionamentos. Mas muita gente comentou publicamente e até mesmo de forma privada, que eu deveria liberar, afinal, Maurício de Souza tem know how suficiente para não ferir o politicamente correto. Só que a filha não perguntou mais e está feliz com os gibis sem faixa etária definida.

A grande verdade é que a grande maioria dos pais da geração atual prefere delegar a amarga missão de dizer não para outros (escola, familiares) e então acabam por ceder pedidos de seu filho que vão contra suas crenças sobre educação. Partindo do pressuposto que são os pais os responsáveis pelo desenvolvimento de caráter dos filhos, então penso ser de extrema importância que pais digam não aos filhos quando necessário. Mas claro, sempre acompanhado de uma explicação coerente e pertinente à idade da criança, opinou a psicopedagoga em Educação Especial, Alessandra Saldanha Muniz Zotto Silva.

Confrontos — Na vida da psicanalista Cláudia Serathiuk, mãe de Henrique e Mathias, de 12 e 11 anos, respectivamente, os confrontos fazem parte do cotidiano, mas as experiências são compartilhadas de forma democrática, com regras, mas também abertas às novidades. Aos poucos fui ensinando eles a andarem de ônibus para poderem ir para à escola sozinhos, para me liberar dessa obrigação que era bastante complicada, que os crio sozinha. Claro que o contexto todo é muito controlado. Eles pegam o ônibus duas vezes por semana para ir à escola. O ponto fica a duas quadras de casa e o ponto em que descem fica no mesmo quarteirão da escola, sem necessidade de atravessar a rua. Pais de colegas vieram me questionar (trocamos muitas ideias) sobre isso, contando que o filho soube que o Mathias ia para a escola sozinho e ele também queria ir. Aí expliquei: meu filho não vai sozinho, vai com o irmão e assim um cuida do outro. O ônibus que tomam é seguro, ao contrário do qual o menino teria que pegar, que exige atravessar uma rápida perigosíssima até para adultos, contextualizou Cláudia. Entretanto, ela também vive algumas situações de questionamentos dos filhos quando são limitados em algumas atividades. Por outro lado, os meninos vivem confrontando situações em que os colegas podem fazer certas coisas e sobre as quais sou muito rígida, tais como fazermos as refeições juntos em família, na mesa e absolutamente sem TV. Ou dormir cedo em dias de semana, e ter horário para jogar videogames. Obviamente acredito que tenha um pouco de fantasia sobre o quão os outros pais são permissivos, pois quando converso com esses pais, a coisa não funciona bem assim.

Mesmo dessa forma, acredito que a educação que uma família exerce é diferente da outra muito em função não só de valores, mas de necessidades práticas e do arranjo cotidiano, concluiu.

E a psicopedagoga encerra com uma dica. Acredito que a melhor maneira seja explicando que pais têm ideias diferentes, pois são pessoas diferentes, com crenças e educações diferentes. Um bom jeito de mostrar esta diferença é através de citações, por exemplo dizer ao seu filho ‘você gosta muito de fazer natação (qualquer atividade que ele goste) não é? então, o fulano não gosta, ele prefere praticar outras atividades, elencando diferenças reais entre seu filho e outras crianças. Com este comportamento, aos poucos os pais podem fazer com que seus filhos compreendam e respeitem o ‘não’, bem como os próprios pais têm a possibilidade de aprender a dizer não aos filhos.

Ronise Vilela é jornalista e mãe. Sugestões de pauta podem ser enviadas para [email protected]