As pesquisas eleitorais da semana passada corroboraram algo que já esperávamos há algumas semanas. Marina Silva, mera coadjuvante até a morte de Eduardo Campos, venceria num eventual segundo turno a candidata a reeleição. Não obstante a sinuca de bico que se encontrará grande parte dos eleitores em 26 de outubro, o que comentaremos adiante, vale mencionar a incrível virada na outrora monótona e aborrecida corrida presidencial, deixando vermelho os tucanos e bicudos os petistas.
A história recente é pródiga em situações análogas, tais como a morte de Tancredo e o impeachment de Color, cuja efetividade dos substitutos é no mínimo questionável. Sarney criou os planos Cruzado I, II e Bresser do ministro homônimo, cortou zeros, congelou salários e ainda assim terminou com uma inflação acima dos 300% ao ano. Já o mineiro de Juiz de fora, trouxe de volta o Fusca, foi visto no Sambódromo com uma modelo sem calcinha e apesar das trapalhadas acabou com uma bola dentro, elegendo o criador da URV e o então ministro da fazenda FHC.
Uma análise das situações apresentadas nos parágrafos anteriores traz a tona os conceitos de sorte, azar e consequência lógica: todos os sapos são verdes e Caco é um sapo, logo Caco é verde. Não obstante muitos analistas já se debruçarem criando cenários macroeconômicos, preferi utilizar a fábula abaixo, a qual traduz de maneira perfeita a incerteza do atual momento.
Era uma vez um menino pobre que morava na China e estava sentado na calçada do lado de fora da sua casa. O que ele mais desejava era ter um cavalo, mas não tinha dinheiro. Justamente neste dia passou em sua rua uma cavalaria, que levava um potrinho incapaz de acompanhar o grupo. O dono da cavalaria, sabendo do desejo do menino, perguntou se ele queria o cavalinho. Exultante o menino aceitou. Um vizinho, tomando conhecimento do ocorrido, disse ao pai do garoto: “Seu filho é de sorte!” “Por quê?”, perguntou o pai. “Ora”, disse ele, “seu filho queria um cavalo, passa uma cavalaria e ele ganha um potrinho. Não é uma sorte?”. “Pode ser sorte ou pode ser azar!”, comentou o pai.
O menino cuidou do cavalo com todo zelo, mas um dia, já crescido, o animal fugiu. Desta vez, o vizinho diz: “Seu filho é azarento, hein? Ele ganha um potrinho, cuida dele até a fase adulta, e o potro foge!”. “Pode ser sorte ou pode ser azar!”, repetiu o pai.
O tempo passa e um dia o cavalo volta com uma manada selvagem. O menino, agora um rapaz, consegue cercá-los e fica com todos eles. Observa o vizinho: “Seu filho é de sorte! Ganha um potrinho, cria, ele foge e volta com um bando de cavalos selvagens.” “Pode ser sorte ou pode ser azar!”, responde novamente o pai. Mais tarde, o rapaz estava treinando um dos cavalos, quando cai e quebra a perna. Vem o vizinho: “Seu filho é de azar! o cavalo foge, volta com uma manada selvagem, o garoto vai treinar um deles e quebra a perna”. “Pode ser sorte ou pode ser azar!”, insiste o pai.
Dias depois, o reino onde moravam declara guerra ao reino vizinho. Todos os jovens são convocados, menos o rapaz que estava com a perna quebrada. O vizinho: “Seu filho é de sorte…”
Voltemos aos prováveis resultados do segundo turno. Assim como na sinuca, estamos literalmente sem saída. Continuar com um governo que flerta com a inflação, gasta descontroladamente e insiste em colocar sua mão pesada e errática em diversos setores da economia ou trocar por uma promessa incerta, apoiada em bons nomes no cenário econômico, porém cuja história se assemelha a Sarney e Itamar, nas quais inabilidade política e falta de experiência trouxeram resultados no mínimo pífios?
Discordando da fábula, infelizmente não temos tempo para aguardar que o tempo diga se as ações tomadas pela próxima presidenta produzirão ou não bons resultados. Tampouco podemos utilizar a questão da consequência lógica: cuidar do meio ambiente é louvável e Marina é ambientalista, logo Marina é louvável. Em suma, estamos literalmente em uma sinuca de bico. O jeito é esperar que o cavalo azarão, colocado por sorte no segundo turno, traga bons resultados. Como já dizia o ditado: sorte ou azar, só o tempo dirá.

Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor da FIA-USP e Universidade Mackenzie. Especialistas em estratégias empresariais, é palestrante e colunista. Há vinte anos atua como executivo em empresas multinacionais