Muito se debate sobre o diploma do jornalista, seu piso e horários de trabalho. Porém, uma boa parte da categoria é esquecida: os assessores de imprensa. De acordo com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), no Brasil, as assessorias de comunicação já empregam cerca de 60% dos profissionais jornalistas, e a tendência é que este número aumente. Diferentemente da maioria dos países, a comunicação corporativa no Brasil é fortemente construída por jornalistas, logo, merece o devido reconhecimento pelos sindicatos e associações de jornalismo.
O número de agências de comunicação corporativa dobrou nos últimos dez anos. Segundo dados publicados em matéria do Valor Econômico no mês de junho, atualmente existem cerca de 600 empresas do setor. Cada vez mais as assessorias de imprensa se expandem e incorporam novos serviços, buscando atrair clientes de variados tamanhos e segmentos.
Alguns acreditam que a função exercida pelo assessor de imprensa é incompatível com o trabalho de jornalista. Quem tem este tipo de opinião parece esquecer que a informação não é uma criação do jornalista, ou pelo menos não deveria ser. Ela parte de uma fonte, seja esta uma pessoa ou uma empresa. E qual a melhor maneira de fazer o caminho entre a informação advinda de determinada fonte e a publicação em um veículo de comunicação? Ter um jornalista exercendo esta função é essencial, senão imprescindível, pois ele conhece o que é publicável e o que rende matéria em um jornal, e pode orientar seu cliente a dar uma boa entrevista, rendendo informação de qualidade para o receptor.
Talvez com a extinção do diploma dos jornalistas há alguns anos, quem trabalhe em redação sinta o drama dos assessores, que não são reconhecidos pelo próprio sindicato. Segundo tabela da Fenaj, dos estados brasileiros que possuem piso salarial estabelecido, apenas dois incluem a assessoria de imprensa em uma categoria específica: Ceará, onde o piso do assessor é de R$ 3.018,93 para sete horas de trabalho, e São Paulo, com R$ 2.627,00 para cinco horas. Os demais fazem a distinção salarial com base apenas no trabalho em jornais, revistas, rádio ou TV. Ainda de acordo com a planilha, o Paraná possui um dos pisos mais altos do país (R$ 2.605,20), porém, ainda peca no reconhecimento sindical dos assessores de imprensa. No próprio site do sindicato paranaense, a atividade é caracterizada apenas como free-lance e não tem uma carga horária estipulada, embora o valor recomendado para o Serviço mensal local seja o mesmo do piso.
Muito se discute para melhorar a condição da categoria, mas como fazê-lo se não há reconhecimento do próprio órgão regulador? Como a categoria não existe aos olhos das entidades de classe, muitas vezes o profissional tem que trabalhar sem vínculo empregatício, valor de hora de trabalho e carga horária estabelecidos, ou seja, na informalidade.
É preciso que haja um padrão a ser seguido, e que as entidades responsáveis se unam para erradicar a precarização do setor. Federação, sindicatos, jornalistas e empresários devem trabalhar em conjunto para garantir condições de trabalho justas e benefícios para ambas as partes. Assim como o sindicato deve reconhecer a profissão, as empresas de assessoria de comunicação também precisam estar dispostas a seguir as determinações oficiais que vierem a ser criadas em troca deste reconhecimento sindical, e isso inclui respeito à carga horária, adoção do piso ou adaptação salarial conforme as horas de trabalho e formalização dos jornalistas.

Karin Villatore é jornalista, diretora da Talk Assessoria de Comunicação e professora universitária