Turismo no país não é tão fácil assim de ser aproveitado. Quem já viajou muitas e muitas vezes para Alagoas, a terra onde o filho do Renan Calheiros já está com favas contadas para ser eleito governador do estado daqui poucos dias, o contraste entre os que vivem nos elegantes e caros prédios da orla e o povo do centro e periferia, está cada vez mais violento.

A orla foi olhada com carinho ganhando calçamento, vias para pedestres até na areia, e ciclovias especiais, percorrendo toda a paisagem de praia. As barracas de alimentação foram padronizadas, os ambulantes retirados da frente dos hotéis, e as mulheres que preparam tapiocas continuam fazendo sucesso, com os recheios mais exóticos, incluindo até carne seca.

Mas nem tudo é maravilha. O nível dos funcionários, apesar dos constantes treinamentos, continua abaixo da crítica. Não obstante o esforço do Sebrae-Alagoas, sempre organizando cursos de capacitação. Convém conferir notas de consumo nos hotéis, porque muitas vezes elas estarão com pedidos dobrados e você terá que ouvir do garçom que o erro é por causa de estar sozinho, e não conseguir lembrar direito a quem andou servindo.

Quem já conhece as paisagens e os destinos mais próximos, melhor escolher um resort e curtir o céu, o sal, o sol de Maceió, aproveitando as boas estruturas e deixando para os principiantes a tarefa de viajar horas e horas para ir e voltar de praias, todos os dias, na maioria das vezes ouvindo a lenga-lenga de guias que acham de seu dever é fazer brincadeirinhas e contar piadas. Se a sua viagem é de lazer, aproveite o conforto de um bom resort para seu merecido relax.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Tradição em Pontal da Barra, o filé e chamado de Renda Maceioense

ARTESANATO
Coisas que marcam em uma viagem: a cultura nos museus, a gastronomia regional, o artesanato. O Nordeste brasileiro ficou famoso pelas rendas e bordados, verdadeiras obras de arte que se transformam em toalhas como espumas do mar, vestidos de princesas, acessórios. É renda de bilro (Ceará), filé (Alagoas) e a maravilha que é a renda da Renascença, uma especialidade de Pernambuco, feita em Pesqueira, interior do estado.

Quem ainda não tinha ouvido falar em rendas da Renascença, tomou conhecimento dessas belezas quando a candidata a presidente, Marina Silva, apareceu usando uma blusa de linho branca, com renda da Renascença em preto, assinada por Fátima Mergulhão, proprietária da Fátima Rendas. Uma marca famosa no exterior, porque suas lojas estão localizadas nos principais aeroportos internacionais, como Guarulhos, e é comprada por turistas estrangeiros. Toalhas, roupas infantis ( os modelos para batismo são a perdição das avós), vestidos e roupa íntima seguem para Paris, Londres, Milão, Roma ou Estados Unidos.

Marina sempre prestigiou o artesanato em suas roupas, acessórios e bijuterias, colocando as criações da Amazonia em destaque. Fátima encomenda seus linhos e cambraias de linho especialmente para que as 250 rendeiras possam seguir suas criações, em trabalhos que podem durar até seis meses para ficarem prontos. Se Marina for eleita, ainda vamos ouvir falar muito de Fátima Rendas. Merecidamente.

Para encontrar renda da Renascença em Maceió, basta chegar até o Pontal da Barra, bairro de pescadores nas margens da Laguna do Mundaú, onde a rua das Rendeiras tem tudo o que se possa imaginar em bordados, rendas , peças de decoração, toalhas, jogos de cama, cortinas e roupas.

Pernambucana de Pesqueira, Severina da Costa Oliveira cresceu perto de Fátima Mergulhão. Hoje cuida junto com Roselia, da Gabriel Artesanato, da loja que vende rendas e linhos bordados, aceitando também encomendas. Vestidos de noiva, modelos para debutantes, roupas para festas em renda são o ponto alto da loja, que fica no número 46 da avenida Senador Arnon de Melo, perto da igrejinha local.

Depois de fazer suas compras, reserve um dinheirinho para almoçar – ou jantar – no Peixarão, que existe há 17 anos tanto no Pontal da Barra, quanto em Jatiúca. O restaurante de Pontal tem varanda aberta para a laguna, e serve de cais para os barcos que fazem o turismo pelas nove ilhas da região. A comida é caseira, com muita peixada, camarão, lagostins, peixe frito e agulhinha, peixe pequeno que parece uma miniatura do Merlin, com um longo bico, perfeito para aperitivo. Não falta nem o viveiro de caranguejos, escolhidos na hora pelo freguês. Sucos de frutas da terra, cervejinha gelada, caipirinha fazem parte do bem bom no lugar perfeito para apreciar um por do sol ou curtir a brisa constante, que ameniza o calor. Detalhe: tanto regionalismo é cultivado por um casal de – gaúchos! O Milton e a Kátia Hickmann.


Remendar redes ou jogar sinuca, tarefas para depois da pescaria

Mas há coisas preciosas também em tecidos de tear manual, como passadeiras, redes, colchas, jogos americanos. Basta chegar no Mercado do Artesanato, junto do grande mercado popular em Levada, centro de Maceió. Na loja número 8, Admir Redes é a melhor opção para encontrar os mais bonitos trabalhos em tear, utilizando algodão puro. Nas outras barracas, objetos de madeira, cestaria, couro, coisas originais e não produtos especiais para turistas. São mercadorias que o povo local consome. E fazem bonito em qualquer lugar.

Já o mercado popular de alimentação… bem, pode ser interessante. Mas é um lugar confuso, onde a higiene tem o mesmo nível encontrado nos mercados de rua da Índia. É preciso ser iniciado, para não ficar chocado. Melhor circular só no Mercado do Artesanato.

O turista em geral circula na Feira de Artesanato de Pajuçara, junto da saída das jangadas e de muitos hotéis, onde o movimento é sempre grande. Há muita coisa, mas é preciso escolher com cuidado, porque a maior parte do que é oferecido fica abaixo da crítica, é de baixa qualidade e pouca criatividade. Bom ir com tempo, para encontrar algum produto que mereça o preço pedido.


É do restaurante Peixarão em Pontal que saem os barcos para as nove ilhas da Laguna

PRIMEIRA VEZ
Claro que na primeira viagem até a terra dos Calheiros, será bom conhecer o máximo de suas belezas, depois de passear por Pajuçara, de onde partem as jangadas para as piscinas naturais distantes dois quilômetros da costa, Ponta Verde – lugar de concentração das tapioqueiras, Jatiúca – onde fica o melhor resort com o mesmo nome.

LITORAL NORTE
45 quilômetros de Maceió, em direção do Norte, o turista encontra Barra de Santo Antônio, município fundado no século XVII, que ainda guarda um aspecto nativo, embora seja atrativo para muitos visitantes nos finais de semana, férias e feriados. A costa repleta de praias, algumas de difícil acesso como a Praia do Morro, – onde só se chega de barco ou por estradinha de areia, sem qualquer sinalização. As falésias, mar azul, as piscinas que surgem na maré baixa, compensam os sacrifícios da falta de infraestrutura.

Maragogi, onde Cacá Diegues filmou cenas de Deus é Brasileiro, com Antonio Fagundes no papel de Deus de alma grega, tomando banho nas piscinas naturais que são atração na região, é conhecido como Terra dos Coqueirais. São 22 quilômetros de litoral com nove praias de grande beleza. Os horários das marés é que determinam a saída dos catamarãs, que atravessam os 5 quilômetros entre a praia e as piscinas naturais. Os passeios às galés – arrecifes com rica flora e fauna que, na maré baixa, formam as piscinas – permitem ao turista mergulhar com snorkel, fazer fotos, alimentar os pequenos peixes com rações especiais e até fazer um piquenique.


O Corrupto do cartaz não é sobre políticos alagoanos: é um resultado da pesca

A água é transparente, a temperatura agradável e os corais estão preservados, apesar dos mil visitantes diários, na alta estação. Maragogi tem uma imensa faixa de areia branca, oferece voo de ultraleve, passeio de bugue. Importante: as galés integram a Área de Proteção Ambiental – APA – da Costa Dourada, uma extensão de 134 quilômetros, entre Paripueira (Alagoas) até Tamandaré (Pernambuco), em uma área de 410 hectares.

Embora o Turismo seja a segunda fonte na economia do estado, muita coisa continua negligenciada. Que o diga Márcio Vasconcelos, empresário da hotelaria, do Salinas do Maragogi Resort e do Salinas Maceió (resort urbano na capital). O resort pioneiro na região é famoso internacionalmente e consolidou o turismo no Litoral Norte pelo esforço de Vasconcelos, usineiro que transformou a praia em um dos destinos mais procurados do Brasil.

Vasconcelos financiou as melhorias indispensáveis para que o resort pudesse funcionar a contento. Mas até hoje a região sofre com falta de boas estradas, segurança e energia de boa qualidade. A estrada está tão ruim, que 90% dos turistas preferem chegar até o Salinas Maragogi por Pernambuco, descendo no Aeroporto de Guararapes (Recife). Entre buracos, falta de sinalização e assaltos, todos continuam esperando a duplicação da estrada. Se você viajar via Alagoas e chegar à noite em Maceió, o conselho é dormir na capital, evitando viajar no escuro.

Em Maragogi não existe heliporto homologado pela Infraero, dificultando o socorro aéreo no caso de vítimas de acidentes. O aeroporto de Maragogi não existe, continua apenas um sonho.

Carro Quebrado é praia que entrou na moda, pela paisagem formada por falésias, pedras que formam esculturas naturais, e pelo mangue branco ( vegetação que nasce nas pedras polidas pelo mar). As falésias são responsáveis pelas 40 cores que tingem a areia fina, em vários tons. Antes de entrar na moda, a praia Carro Quebrado era deserta, própria para caminhadas, fotos, mergulhos, pesca. A chegada até o paraíso é feita pela beira-mar, de jipe. Viagem que começa em Barra de Santo Antônio, distante perto de 50 quilômetros de Maceió, fazendo travessia em balsa, com destino à Ilha da Croa, destacando a Praia da Cebola e Ponta da Gamela.

Os turistas caminham pelo manguezal, prosseguindo para Carro Quebrado em jipe, único que consegue vencer a areia e as pedras do caminho. O circuito Barra de Santo Antônio e Ilha da Croa-Carro Quebrado faz parte de Ecoaventura. Tabuba é praia próxima ao centro da Barra de Santo Antonio, com barreiras de recifes e mar calmo, em tons de verde.

Praia do Carneio —Maragogi é equidistante de Maceió e de Recife (130 quilômetros). Saindo em direção a Pernambuco, a visita à Praia do Carneiro é indispensável. Uma as paisagens mais bonitas de toda a região, com pousadas e restaurantes rústicos, explorados pela família Carneiro, junto do imenso coqueiral. Vale conhecer.


Severina da Costa Oliveira, pernambucana de Pesqueira, especialista em renda da Renascença na Gabriel Artesanato, Pontal da Barra


INTERIOR

Piranhas dista 280 quilômetros da capital alagoana, em pleno sertão. Lá o assunto é sempre Lampião, Maria Bonita e o bando que se transformou em mito. A trilha é explorada pelo turismo, à beira do rio São Francisco, o Velho Chico que vem secando com as obras – intermináveis – de transposição de suas águas.

A arquitetura local é barroca, a culinária destaca o camarão pitú e as peixadas e as mulheres capricham no bordado típico da região, com redendê. A castanha olho de boi se transforma em personagens do cangaço, e vira chaveiro, com chapeuzinho de couro e grandes olhos pintados. Na estação de ferro desativada foi instalado o Museu do Sertão, com fotos de Lampião, vestimentas dos vaqueiros, imagens de santos, peças antigas e instrumentos de pesca rudimentares.

A Hidrelétrica de Xingó, uma das maiores do país, é apontada como responsável pelo baixo nível das águas do Velho Xico. Afinal, como dizem os sábios, todo progresso é um retrocesso. Piranhas e o vizinho município de Olho d’Água do Casado são visitados pelos que gostam de passeios ecológicos, com caminhadas pela caatinga, pelos vales, riachos com pedras e cachoeiras, quando a seca não é demais. São famosos os cânions do rio São Francisco, quando o nível das águas permite as embarcações.

Penedo e Piaçabuçu, distantes perto de 170 quilômetros de Maceió, merecem a visita de quem procura nossas raízes. Na verdade são as reais raízes nordestinas. Penedo foi erquida sobre um rochedo e guarda patrimônio histórico – cultural, onde aconteceram fatos importantes da história colonial brasileira. Colonizadores portugueses e holandeses influenciaram a arquitetura, no barroco das igrejas e conventos construídos no século XVI.

Os passeios de barco até a foz do São Francisco ou até Santana do São Francisco – antiga Carrapicho – do lado sergipano, também são boa razão para conhecer Penedo. No artesanato local, cerâmicas, objetos de palha e madeira, doces e licores. Conhecida como Cidade dos Sobrados, tem culinária baseada em frutos do mar e de água doce, como o surubim, que sempre aparece na mesa dos bares e restaurantes.

Piaçabuçu tem praias de grande beleza, ilhas fluviais, dunas e o delta do rio São Francisco. A praia mais famosa é Pontal do Peba, com 21 quilômetros de extensão, com área de preservação de tartarugas marinhas e aves migratórias.

Na foz, onde acontece o encontro das águas do Velho Chico com o mar, há predominância de manguezais, dunas e trechos de Mata Atlântica.

Palmares fica 80 quilômetros de Maceió e entrou para a história como lugar de lutas entre portugueses e negros. União dos Palmares ganhou destaque pelo Quilombo. Na época da destruição a República dos Palmares tinha cerca de 30 mil pessoas, entre negros, brancos e índios, fugidos das fazendas da região e engajados na luta contra a colonização. Em Muquém há remanescentes do Quilombo até hoje, vivendo de artesanato em barro.

O símbolo da resistência negra é o alto da Serra da Barriga, de onde se avistam os vales cobertos de cana de açúcar, mandioca e palmeiras reais. Lá foi criado o Parque Nacional do Zumbi, mantendo por 300 anos ainda vivo o ideal da raça negra. O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, reunindo no local representantes de todo o Brasil e alguns países da África.