Falar de leitura e de literatura é algo que deveria ser comum e fazer parte do cotidiano de todos. E, mais do que falar, a prática deveria ser adotada. Ler em casa, na praça, na escola, no ônibus, na fila de espera, não importa o local ou o gênero, o importante é ler! Anualmente, no mês de setembro, várias cidades paranaenses vivenciam uma semana inteira dedicada à cultura do livro. É a Semana Literária Sesc Paraná, que neste ano chega à 33ª edição.

Durante uma semana, livros e livros são manuseados, comentados, autografados, contados e revisitados. Na capital paranaense, a residência do evento é a Praça Santos Andrade, local de grande tradição e expressão cultural da cidade. Ali, até 20 de setembro, importantes nomes da literatura nacional participarão de mesas-redondas, palestras, bate-papos e sessões de autógrafo. A programação segue ainda com oficinas de criação literária. Livrarias locais e editoras universitárias de várias partes do país abrem seus estandes oferecendo ao público os lançamentos do mercado editorial com descontos imperdíveis. Os pequenos leitores terão programação garantida, com oficinas, bate-papo com autores e contação de história. As atividades artísticas recheiam o evento com apresentações musicais, performances, exposições, instalação e cinema. A Semana Literária desbrava também o interior do Paraná. É isso mesmo, o evento ganha a estrada e chega a mais de 20 cidades do Estado. São atividades itinerantes e programações locais realizadas simultaneamente nos municípios onde o Sesc está presente. Confira a programação completa neste blog (www.sescpr.com.br/semanaliteraria).

A edição de 2014 foi preparada para debater um tema de grande relevância social: a violência. Todos nós convivemos com ela diariamente. Na vida real, basta abrir o jornal, acessar a web ou parar em frente ao noticiário — já pela manhã — e ela estará lá, estampada. Na ficção, não é diferente: os produtos culturais fazem da violência a matéria-prima para construir as narrativas e atrair a atenção do público. Refletir sobre o tema é e sempre será necessário, e o evento propõe renovar o debate, trazendo vozes literárias para guiar as discussões.

Com curadoria do jornalista e escritor Luís Henrique Pellanda — autor de Asa de sereia, Nós passaremos em branco e O macaco ornamental —, o evento tem como ponto de partida dos debates a violência, tema que perpassa não apenas a sociedade como, naturalmente, a literatura. Nossas primeiras ou principais narrativas são de violência: das caçadas que pintamos nas cavernas aos maiores sucessos de Hollywood, passando por vários relatos bíblicos, há sangue e horror na crucificação de Cristo, nos mitos de fundação, na Ilíada e na Odisseia, nas fábulas infantis, nos vencedores do Oscar, nos contos de fada e até nos desenhos animados. Sim, a humanidade sempre precisou lidar com a violência, e uma das melhores maneiras de se fazer isso, se não a melhor, é narrando-a, reflete o curador.

RUBEM FONSECA É O HOMENAGEADO
Dos anos de chumbo às incertezas dos dias atuais, passando pela criminalidade e violência resultantes da desigualdade social: afinal, o que nossa literatura tem a dizer sobre este estado de coisas? E em que medida nos tornaríamos uma nação menos violenta e desigual se fôssemos um país com mais leitores? Importantes nomes das letras nacionais são convidados a refletir sobre o assunto em mesas-redondas, sessões de bate-papo, oficinas e uma extensa programação, tanto na capital como no interior. A programação é gratuita, estando algumas atividades disponíveis mediante inscrição prévia pelo site www.sescpr .com.br/semanaliteraria. O endereço virtual funcionará ainda como agenda cultural detalhada das atividades, além de memória do evento, trazendo entrevistas, matérias e documentos em áudio e vídeo.

Para Marússia Santos, diretora de Educação e Cultura do Sesc-PR, o evento é um grande momento para aproximar o público do livro e da leitura literária, além de colocar em debate um grande tema social que é a violência. Nada melhor que abordar a temática por meio da literatura. Certamente os escritores têm muito a dizer sobre o assunto, diz Marússia.

Expoente da narrativa policial e grande explorador da violência urbana como temática literária, Rubem Fonseca será o autor homenageado desta 33ª edição. Nascido em 1925, Fonseca foi comissário de polícia antes de estrear na literatura em 1963, com Os prisioneiros. Também são de sua autoria O caso Morel, A grande arte, Lúcia McCartney e A coleira do cão, entre muitos outros, clássicos que evidenciam seu estilo cru, enxuto, direto e amoral, já descrito como brutalista.

Além do autor homenageado, cuja obra recebe grande destaque durante o evento, a Semana Literária Sesc Paraná também elege a figura do patrono, sendo sempre um autor paranaense. Nesta edição, o escolhido é o londrinense Domingos Pellegrini. Seis vezes vencedor do Prêmio Jabuti — sendo a primeira em 1977, com seu livro de estreia O homem vermelho —, Pellegrini prefere ser chamado de contador de histórias, ao invés de escritor. Sua volumosa obra, que inclui romances, crônicas, poesias e títulos voltados ao público infanto-juvenil, é marcada por uma linguagem simples e próxima do leitor, interessada em temas como política, cidadania, ética e relações humanas. Entre seus livros de maior projeção estão A árvore que dava dinheiro, O caso da Chácara Chão e Tempo de meninos.