SÃO PAULO, SP – A equipe da ONU que investiga os crimes de guerra na Síria disse nesta terça-feira (16) que as potências mundiais que se preparam para uma ação militar contra a facção Estado Islâmico têm de respeitar as regras da guerra, o que obriga a proteção de civis.
Na segunda (15), 26 países concordaram em ajudar o Iraque, inclusive militarmente, no combate ao EI. A facção domina territórios no Iraque e na Síria.
Na semana passada, o presidente americano, Barack Obama, anunciou uma estratégia contra o EI e não descartou ataques aéreos na Síria, como já vem fazendo no Iraque.
Os ataques aéreos contra o EI já geraram queixas de vítimas civis em áreas sunitas. O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, disse no sábado (13) que ordenou suas forças para abster-se de quaisquer ataques em áreas civis, até mesmo em cidades ocupadas pelo EI.
“À medida que a ação militar contra o EI parece cada vez mais provável, lembramos todos os lados que é necessário acatar as leis de guerra e, mais especificamente, os princípios de distinção e proporcionalidade. Sérios esforços têm de ser feitos para preservar a vida civil”, disse o presidente da comissão de investigação das Nações Unidas, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, em uma declaração ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Segundo Pinheiro, o EI cometeu massacres de grupos religiosos e étnicos e abusou de mulheres. Por outro lado, o regime de Bashar al-Assad também é responsável por mortes de civis.
A comissão presidida por Pinheiro denunciou que o EI doutrina crianças na Síria e as obriga a atuar como soldados e até mesmo presenciar execuções.
Os investigadores da ONU divulgaram 12 depoimentos entre os 3.200 coletados em entrevistas com refugiados e desertores na Síria e em países vizinhos.
Segundo Pinheiro, os depoimentos divulgados incluem o de uma criança ferida em um ataque a uma escola em Aleppo, de um homem torturando em um centro de detenção em Damasco e de uma mulher grávida que perdeu o marido e a família.
CRIMES
O EI executou publicamente civis, membros de outros grupos rebeldes e também soldados de Assad ao longo dos dois últimos meses na Síria, disse Pinheiro.
“Os recentes acontecimentos no Iraque mostram a ameaça que é o EI para as minorias religiosas e étnicas na Síria”, disse Pinheiro. Desde que conquistou parte do Iraque, a facção tem ameaçado minorias no norte do país, como os yazidis.
O grupo matou centenas de civis no campos de gás Al-Shaar, no leste Homs, e há relatos de execução de centenas de pessoas do clã al-Sheitaat, em Deir al-Zor.
“As mulheres que vivem em áreas controladas pelo EI foram banidas da vida pública. Algumas mulheres foram apedrejadas até a morte, supostamente por adultério”, disse Pinheiro.
O brasileiro revelou ainda que a doutrinação das crianças é uma prioridade para os insurgentes e os jovens são treinados para participar dos combates.
O grupo é “o beneficiário mais recente” da falta de ação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da impunidade vigente, de acordo com os investigadores, que incluem a ex-promotora de crimes de guerra da ONU, Carla del Ponte.