CÉSAR ROSATI, GIOVANNA BALOGH E NATALIA CANCIAN
SÃO PAULO, SP – Em meio a protestos, moradores e comerciantes do centro de São Paulo relatam momentos de pânico e correria para chegar ao trabalho na manhã desta terça-feira (16).
“Cheguei às 7h50 e o conflito já estava instalado”, conta a coordenadora de marketing Alessandra Elias, 37, que trabalha em um escritório próximo à esquina das ruas Dom José de Barros com a avenida São João.
“O choque estava nas ruas e dava para sentir o gás bem forte. Eu tive que sair correndo o mais rápido que pude para chegar no escritório”, relata.
O tumulto na região começou por volta das 6h, quando policiais da Tropa de Choque tomaram um edifício ocupado pelo movimento FLM (Frente de Luta pela Moradia) na avenida São João. Os sem-teto atiraram pedras e objetos contra os policias, que por sua vez revidaram com bombas de gás e balas de borracha.
Horas depois, novos protestos e tumultos se espalharam em outros pontos do centro.
Por volta das 10h, um ônibus foi incendiado perto do Theatro Municipal. Poucos metros à frente, na rua Xavier de Toledo, guichês de ônibus também foram incendiados. Segundo a polícia, não é possível dizer se os atos têm ligação direta com a reintegração de posse.
Quem tentava passar pelas ruas Xavier de Toledo, Sete de Abril, Barão de Itapetininga e 24 de Maio era pego de surpresa.
“Fiquei com medo. Trabalho aqui [no centro] há cerca de 4 meses. Nunca vi isso. Fechamos a porta do bar, mas a fumaça da bomba entrava do mesmo jeito. Ficamos sufocados, foi um caos”, disse Eloisa Guedes, 20, que trabalha em um bar na 24 de maio.
O subgerente Adão José de Moura, 33, afirmou que fechou o restaurante onde trabalha por medo de saques. “Todo mundo ficou na cozinha nos fundos. Pessoal ficou com medo, pois tinha muito barulho de bomba. Já vi outras reintegrações, mas nada como essa. Não dá para entender muito bem o que aconteceu”, disse.
“Vimos lojas e objetos em chamas. A tropa de choque estava praticamente na porta do prédio em que trabalho. Não cheguei a ver feridos, mas tinha muita gente passando mal por causa do gás”, conta Alessandra.
Na Barão de Itapetininga, lojistas se organizavam para vigiar os estabelecimentos, já de portas fechadas. Alguns monitoravam o movimento por câmeras. Outros saíam em frente ao portão.
“Está todo mundo assustado. Geralmente tem protesto e o pessoal só passa aqui pela Barão. Hoje, não. Não deu nem tempo de abrir”, afirma Kelly Cristina, 29, gerente de uma loja de roupas masculinas.
Porteiros de prédios próximos também restringiam a saída de funcionários para aumentar a segurança. Durante o tumulto, ao menos duas lojas de celulares foram saqueadas. Outras tiveram os portões arrombados.
“Temos uma empresa de segurança privada e nem assim conseguimos evitar”, conta a funcionária de uma loja de telefonia, que pediu para não ser identificada.