SÃO PAULO, SP – O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli (2005 a 2012) eximiu a presidência da estatal da responsabilidade pela escolha de Paulo Roberto Costa para comandar a diretoria de Abastecimento e Refino da companhia. Costa exerceu o cargo entre 2004 e 2012 e é suspeito de chefiar um esquema de desvio de recursos da estatal, objeto de investigação da Polícia Federal na Operação Lava Jato.
Em depoimento realizado nesta segunda-feira (15) em Salvador (BA) à Justiça Federal do Paraná, por meio de teleconferência, Gabrielli afirmou que as “razões e motivações” para a escolha dos diretores são “problemas internos do governo”.
Ele negou, porém, ter qualquer conhecimento sobre a influência do ex-deputado federal José Janene (PP, morto em 2010) para que o governo escolhesse o ex-diretor.
“O processo de indicação de diretores da Petrobras é exclusivo do Conselho de Administração, e é geralmente decidido no âmbito do sócio majoritário, que é o governo”, afirmou.
“A existência de influência política ou não ocorre no âmbito do governo, não no âmbito da Petrobras”, completou o ex-presidente da estatal.
O juiz Sérgio Moro insistiu na questão e voltou a perguntar se o presidente da estatal não tinha poder de voto para escolher o vetar um diretor.
“A decisão sobre a composição da diretoria é uma decisão que é feita no âmbito do governo. O presidente da Petrobras é comunicado. As razões e motivações são problemas internos do governo”, insistiu Gabrielli.
PROPINA
O ex-presidente da Petrobras foi convocado a depor na condição de testemunha de defesa do doleiro Alberto Yousseff, apontado como o responsável por lavar o dinheiro da estatal e fazer com que ele chegasse aos políticos envolvidos no esquema. No depoimento, Gabrielli negou conhecer o doleiro.
“Eu não conheço o Alberto Yousseff e nunca tinha ouvido falar dele”, afirmou.
A declaração foi feita ao ser questionado pela defesa do doleiro se ele “tinha poder de influenciar decisões de processos licitatórios dentro da empresa por si ou defendendo algum grupo político.”
Por fim, José Sérgio Gabrielli também negou que tenha sabido da existência do esquema de corrupção na empresa. Ele ressaltou, porém, que a Petrobras possui um processo de auditoria interna “contínuo e permanente”.
“As auditorias e os procedimentos internos da Petrobras não indicam nenhum desse tipo de comportamento. E, se há algum tipo de comportamento, não é do meu conhecimento”, afirmou.
“Que me conste, nenhum evento de propina ou de corrupção desse tipo que está sendo acusado o senhor Paulo Roberto Costa chegou ao meu conhecimento”, completou.
Preso desde junho deste ano, Paulo Roberto Costa apresentou uma lista com os nomes de políticos supostamente beneficiados pelo esquema, como parte do acordo de delação premiada –para ter sua pena reduzida.
O ex-diretor será ouvido nesta quarta-feira (17) pela CPI da Petrobras, mas deve se calar sobre o teor do depoimento. Isso porque, se ele der qualquer informação sobre o que delatou, o acordo será anulado e os benefícios previstos, anulados, segundo três especialistas ouvidos pela reportagem.