LUCAS REIS MANAUS, AM – O Ministério Público Eleitoral no Amazonas pediu a cassação da candidatura do governador do Estado, José Melo (Pros), que tenta a reeleição, sob acusação de uso da estrutura da Polícia Militar na campanha. A Procuradoria obteve gravação de uma reunião de cúpula da PM do Estado e aponta que houve orientações de favorecimento ao candidato. Afirma ainda que a corporação liberou tropas para gravação de propaganda do governador, instou policiais a fazer campanha e perseguiu integrantes contrários ao suposto esquema. “É uma atuação com vícios de ilegalidade voltada para o favorecimento de determinada campanha eleitoral”, disse o procurador Jorge Medeiros. O governo do Estado e a PM não comentaram a acusação. A campanha de Melo informou que não havia sido notificada sobre a investigação, e que só deverá se manifestar após tomar conhecimento. O Ministério Público também pediu o afastamento da atual cúpula da PM no Estado. Diz que Melo promoveu dois oficiais responsáveis pela reunião em questão e concedeu benefícios irregulares, como férias vencidas há dez anos, a integrantes da corporação. O Ministério Público conduz uma ação de investigação eleitoral contra Melo, seu vice, Henrique Oliveira (SD), e o candidato a deputado estadual Platiny Soares (PV). Soares é um ex-policial que voltou aos quadros da polícia, após decreto assinado por Melo –ação sem fundamento legal, segundo a Procuradoria. “É uma rede de interligação onde se verifica claramente a situação de abuso de poder político”, afirmou Medeiros. REUNIÃO A reunião em questão ocorreu no último dia 27 de agosto, com 12 oficiais, entre tenentes, coronéis e capitães. Um dos oficiais gravou a conversa e enviou aos procuradores. “O que a gente tem que fazer pra retribuir tudo isso que ele [Melo] e o Omar Aziz [ex-governador, candidato ao Senado pelo PSD] fizeram para corporação é, no mínimo, estar do lado dele nesse momento que ele está passando com uma eleição que precisa vencer. Eu tenho certeza que ele nessas eleições é corporação”, disse na ocasião o coronel Eliézio Silva, então subcomandante geral da PM, em trecho do áudio citado na ação. Uma semana após o encontro, Silva, que liderou a reunião, foi nomeado comandante-geral pelo governador. O coronel Aroldo Ribeiro, também presente na reunião, liderava à época o Comando de Policiamento Metropolitano e foi alçado a subcomandante geral. O oficial Silva também menciona na ocasião a necessidade de uma “ação integrada” da polícia em prol da campanha, além da liberação de “viatura da Rocam, Canil, GOE [Grupo de Operações Especiais] para fazer fotografia e imagem para campanha de governo”. Dias depois, veículos citados por Silva aparecem na propaganda eleitoral do governador. Segundo pesquisa Ibope divulgada no último dia 12, o governador Melo está em segundo lugar na preferência do eleitorado no Estado, com 31%, atrás do senador e ex-governador Eduardo Braga (PMDB-AM), que tem 46% das intenções de voto.