É difícil acreditar que aquele gato ou cachorro, muitas vezes extremamente carinhosos e fieis aos donos, possam representar algum tipo de risco ao ecossistema. Contudo, o rápido crescimento da população e, principalmente, o abandono desses animais, preocupa cada vez mais a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) de Curitiba. Na questão dos gatos — que podem ser considerados domiciliados, semidocimiliados, não domiciliados ou ferais — o maior problema no momento envolve os gatos ferais, que ameaçam a fauna nativa curitibana. 

Os gatos ferais, segundo definição aceita mundialmente, são descendentes de gatos domésticos que se perderam de casa e/ou foram abandonados e forçados a aprender a viver nas ruas ou em ambientes com pouco contato humano, como armazéns, fabricas e prédios abandonados, ou seja, voltam quase à origem selvagem.

Apesar de acharmos que cães e gatos são animais de companhia, eles são topo de cadeia alimentar. O gato é um leão pequeno e o cachorro é um lobo pequeno, aquele lobo selvagem mesmo. Eles caçam filhotes de capivara, podem pegar quero-quero e o gato ainda sobe nos ninhos, explica Alexander Biondo, diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna, da SMMA.

Se você soltar um coelho, um pintinho ou até alguma cobaia no meio ambiente, isso tem um impacto. E quando você solta um gato, ele mata passarinho. Temos de ter a consciência de que em uma cidade como Curitiba, com tantos parques, temos de priorizar a nossa fauna nativa. E o problema se torna ainda mais sério porque é praticamente invísivel para a maioria da população, completa.

A questão envolvendo gatos em meios urbanos, inclusive, é a mais preocupante, já que os felinos possuem uma sociabilização pós-nascimento mais curta. Enquanto um cachorro, para começar a se desenvolver e/ou crescer como feral, precisa não ter contato com outros cães ou pessoas por quatro meses, no caso dos gatos esse tempo se reduz pela metade.

Outra questão é o rápido crescimento populacional desses animais, já que os predadores são poucos e a castração tradicional não tem produzido resultados tão positivos como o esperado, já que é feita aos seis meses de idade, quando os gatos já atingiram a puberdade — eles podem atingir a maturidade sexual aos 3,5 meses de idade — e 20% deles já tiveram ninhadas, sendo a maioria (mais de 53%) indesejadas.

Hoje, no caso dos gatos, fala-se muito na castração pediátrica. É que eles atingem a puberdade antes dos cães. Então o sistema de castração tradicional acaba inviabilizado como controle populacional porque a gata já teve três ou quatro filhotes, e cada um deles ainda vai ter uma ninhada. É uma conta absurda, afirma Alexander.
Mas o principal causador deste problema não são os gatos, mas a posse irresponsável. O gatos ferais são resultado do descuido dos donos e do abandono.

Atualização

Atualmente, 100% dos gatos são adotados em feiras de adoção em Curitiba e, recentemente, uma parceria foi firmada entre a Prefeitura de Curitiba e o Hospital Veterinário da Faculdade Evangélica para castração de 500 gatos, incluindo a castração pediátrica.