LEANDRO COLON, ENVIADO ESPECIAL EDIMBURGO, REINO UNIDO – Militantes da campanha pela independência da Escócia intensificaram a boca de urna para tentar reverter o cenário das pesquisas que mostram vantagem do voto “não”, contra a separação do Reino Unido. O plebiscito começou às 7h (3h, no horário de Brasília) e termina às 22h (18h, de Brasília). A reportagem visitou algumas seções de votação na capital Edimburgo, entre elas uma localizada em um café da cidade e outra em um hotel.

Embora simpatizantes dos dois lados estejam buscando votos de última hora, é visível uma maior mobilização dos escoceses pró-independência. “Eu acredito na virada, ainda mais porque as pesquisas podem não ter atingido a população mais jovem, que defende a separação”, disse Jean Findlay, 50, ativista pela separação. Cerca de 4,2 milhões de pessoas que vivem em território escocês podem responder sim ou não à pergunta: “A Escócia deve ser um país independente?”. Pesquisas divulgadas na noite de quarta (17) apontam vitória apertada do “não”.

No levantamento do instituto “YouGov”, o voto pelo “não” tem 52%, o “sim”, 48% -sem considerar os indecisos, que são 6%. O instituto Ipsos-Mori divulgou nesta quinta uma última pesquisa, com um placar de 53% a 47% pelo “não”. Um comparecimento recorde, cujo resultado oficial está previsto para ser divulgado nesta sexta-feira (19) pela manhã.

A campanha pelo “sim” ganhou um apoio de última hora nesta manhã: do tenista escocês e campeão olímpico, Andy Murray. Ele declarou que, em caso de independência, vai disputar os Jogos Olímpicos pela Escócia. Mesmo que permaneçam parte do Reino Unido, os escoceses já podem celebrar uma conquista: em troca do voto “não”, o governo britânico e a oposição prometeram mais autonomia financeira e política à Escócia.

Já o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, não tem muito o que comemorar, mesmo que o “não” vença. Impopular entre os escoceses, deve sair desgastado da campanha, que ignorava até o crescimento do “sim”. Diante dos rumores de que teria de renunciar caso o “sim” vencesse, Cameron se aliou ao adversário e líder trabalhista Ed Miliband, cuja sigla é mais forte na Escócia. O premiê visitou então a região duas vezes para apelar pelo voto que desmantelaria o Reino Unido, formado por Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales.

Nesta quarta (17), Cameron reafirmou que não renuncia em hipótese alguma. A separação seria um desastre também para os trabalhistas, que dependem do país para equilibrar o jogo em Londres, ainda mais em 2015, ano de eleição geral. Em 2010, o partido levou 41 das 59 cadeiras da Escócia no Parlamento britânico. Até a rainha Elizabeth 2ª, que anunciara neutralidade, pediu que os escoceses votassem com “cuidado”.

Por meio do Twitter, a Casa Branca reafirmou ontem a posição do presidente Barack Obama contra a independência e a favor de um Reino Unido “forte e robusto”. As autoridades prometem anunciar o resultado até a manhã desta sexta (19). Se o “sim” vencer, a independência valeria de fato a partir de 2016, após um período de transição. Em sua mensagem final, o primeiro-ministro do Parlamento local, Alex Salmond, líder da campanha pela independência, disse que a Escócia seria o “amigo mais próximo e aliado comprometido” do Reino Unido. Salmond é líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), que conquistou o poder regional em 2011, o que levou o governo britânico a aceitar um acordo para realizar o histórico plebiscito.