JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA – A ex-presidente de uma ONG acusou integrantes do PT da Bahia de se beneficiarem de um suposto esquema de desvios de cerca de R$ 50 milhões em contratos do governo do Estado com a entidade Instituto Brasil de Preservação Ambiental, segundo reportagem publicada pela revista “Veja” neste sábado.
Entre os beneficiados do suposto esquema estão políticos como o candidato a governador Rui Costa (PT), o senador Walter Pinheiro (PT), o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Afonso Florence (PT) e o e o atual presidente da Embratur, Vicente José de Lima Neto.
A denúncia foi feita por Dalva Sele Paiva, ex-presidente do Instituto Brasil, que afirmou à “Veja” que a entidade foi criada para ajudar a financiar campanhas eleitorais do PT na Bahia.
Segundo ela disse à revista, o esquema funciona desde 2004. O Instituto Brasil recebia os recursos, simulava a prestação do serviço e repassava o dinheiro para candidatos do partido.
Além de firmar contratos com prefeituras, a entidade foi contratada por R$ 17,9 milhões pelo governo baiano em 2008 para construir 1.120 casas populares para famílias de baixa renda do interior baiano.
O caso é investigado pelo Ministério Público do Estado da Bahia desde 2010, quando surgiram as primeiras denúncias sobre casas que faziam parte do contrato cujas obras não foram concluídas.
Na época, o governo baiano suspendeu o contrato e os repasses para a entidade.
Em 2012, os bens de seis servidores do Estado, de uma construtora e da ex-presidente da ONG chegaram a ser bloqueados.
Segundo relato de Dalva à “Veja”, o deputado federal e candidato a governador Rui Costa recebeu repasses mensais com valores entre R$ 3.000 e R$ 5.000.
O ex-ministro e deputado federal Afonso Florence recebeu, de acordo com a revista, dinheiro no período em que ocupou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia, responsável pelos contratos com a ONG.
Já o senador Walter Pinheiro é citado como beneficiário de repasses para a campanha eleitoral de 2008, quando disputou a Prefeitura de Salvador.
Sobre o governador Jaques Wagner (PT), Dalva disse não ter informações sobre envolvimento no esquema, mas afirmou que considera “impossível” ele ignorar a existência dos desvios, sempre segundo a revista.
OUTRO LADO
O candidato a governador Rui Costa informou que vai entrar na Justiça com ações contra a ex-presidente da ONG e contra a revista “Veja” para que ambos provem o teor das denúncias.
Para Rui, a reportagem é “inescrupulosa” e estaria “a serviço do velho coronelismo baiano”. “Envolver meu nome nesse assunto faz parte de uma estratégia leviana e suja. Agora, eu quero que provem o meu envolvimento neste caso. É um desafio.”
O senador Walter Pinheiro classificou de levianas as declarações da ex-presidente da ONG.
“Em sete campanhas que fiz jamais conheci e tive contato com essa pessoa. Se ela declara ter relações com o partido ou pessoas próximas, não eram comigo. Ela não pode ver um monte de injúria com meu nome”, afirmou o senador em nota oficial.
O presidente do PT da Bahia, Everaldo Anunciação, diz que o partido não criou a ONG e que esta já tinha contratos com o Estado no governo Paulo Souto.
“A origem do instituto vem do governo passado. E quem bloqueou a relação com a ONG foi o nosso governo, quando foram identificadas irregularidades.”
A Folha de S.Paulo tentou, mas não conseguiu falar com o deputado federal Afonso Florence nem com o presidente da Embratur, Vicente José de Lima Neto.