LUCAS SAMPAIO, ENVIADO ESPECIAL
ITU, SP – Uma manifestação contra a falta de água acabou em confronto na tarde desta segunda-feira (22) no centro de Itu (a 102 km de São Paulo). Moradores revoltados com o racionamento atiraram pedras contra a Câmara da cidade e a Força Tática reagiu com bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
“Fui hoje cedo na concessionária porque estou há um mês sem água. Saí de lá e fui direto para o protesto”, diz a funcionária pública Elisiete Feitosa, 47. “Jogaram bomba em todo mundo, era criança, cadeirante, idoso, não respeitaram ninguém. O erro não era de quem estava se manifestando. A gente está pagando pela água. O erro é de quem quebra.”
Maria Lúcia Pedrosa da Silva, 49, estava trabalhando durante o protesto, mas o filho de 18 anos foi um dos sete detidos pela PM em flagrante por depredação de patrimônio. “Conversei com meu filho e ele disse que não fez nada. Ele estava passando e foi detido”, diz. “Há dois meses eu compro água. Já gastei R$ 1.200.”
No plantão policial, familiares e amigos dos detidos reclamavam da falta de água na cidade. “Está todo mundo revoltado. Tem de fazer alguma coisa”, diz Feitosa.
Segundo a Polícia Militar, com os detidos foram encontrados uma faca, um soco inglês e pedras, e o serviço de inteligência da corporação filmou a ação. Até as 21h, eles aguardavam para ser ouvidos pela polícia.
“Foi um horror, eu nunca vi nada assim”, diz a aposentada Margarida Galvão, 58, que mora em frente à Câmara. “Estou há três dias sem água e quase todo dia tenho de comprar. Minha filha mora em Salto e lá não tem esse problema.”
O garçom André dos Reis, 49, não foi ao protesto porque estava trabalhando, mas diz que o ato “por um lado foi bonito, mas por outro foi desagradável, por causa da baderna”.
“É desagradável trabalhar o dia inteiro, chegar em casa e não ter água para tomar banho. Se fosse dia sim, dia não, como diz a concessionária, estava ótimo”, afirmou.
Há sete meses em racionamento, Itu vem tomando medidas extremas para lidar com a falta de chuva. Além do abastecimento ter sido limitado a 10 horas a cada dois dias, o município resolveu vetar novos empreendimentos imobiliários para impedir o aumento do consumo.
A concessionária de água do município, Águas de Itu, adquirida recentemente pela Águas do Brasil, informou em nota que, além da captação de água de poços e represas particulares, compra e injeta 3 milhões de litros de água por dia no sistema e ampliou o número de caminhões-pipa.
Disse ainda que está construindo uma nova adutora, cujas obras devem ser concluídas em janeiro de 2015, “o que vai resolver o abastecimento da cidade”.
A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Itu. A cidade tem em torno de 165 mil habitantes, segundo o IBGE.