Dezoito capitais aumentaram a porcentagem de escolas em estado de alerta, de 2011 para 2013. São escolas que atendem a estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental – do 1º ao 5º ano, que tiveram queda no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2013 e que não cumpriram a meta para o ano. Em números, são 894 escolas de um total de 2.974. Essas escolas também não atingiram o índice 6, que é a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e a meta brasileira para 2022. A Agência Brasil procurou algumas delas.

No Rio de Janeiro, a Escola Municipal Comenius está abaixo da meta desde 2009. Em 2013, a escola deveria ter alcançado Ideb de 5,3, mas caiu de 4,3 para 4,1. “Nossa escola foi esquecida. Há anos não é reformada. O prédio chama a atenção: é todo depredado”, diz a diretora Susi Teixeira Gonçalves. Segundo ela, o centro de ensino atende a estudantes do 4º ao 9º ano. Não ter uma formação completa nos anos iniciais é, segundo ela, um dos motivos para não conseguirem um bom desempenho no Ideb. “Teve um ano que recebemos dez ou 11 semianalfabetos. Recebemos estudantes de várias unidades escolares”.

A escola fica em Bangu e, segundo a diretora, em área com conflitos. A escola também tem problemas com o quadro de docentes e tem que remanejar as cargas horárias para atender às turmas. Susi diz que seriam necessários mais três professores de matemática, um de geografia, um de ciências e dois de artes para atender bem aos estudantes.

Em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, a Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio vem de uma trajetória em que cumpre a meta do Ideb desde 2009. Em 2013, no entanto, caiu de 5 para 4,2 e ficou abaixo da meta (4,4). O diretor da escola, Juraci Felix da Rocha, diz que o problema enfrentado extrapola os muros da escola, que fica a algumas quadras do presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Jardim Noroeste.

“A rotatividade na escola é muito grande. Do ano passado para cá, houve manifestação dentro do presídio e o que ocorre lá interfere aqui. São muitas crianças ligadas às famílias dos detentos”, diz o diretor. Ainda segundo ele, a escola está localizada em uma região pobre e os alunos enfrentam diversos problemas familiares. Ele elogia o corpo docente e diz que foi feito um trabalho para que as famílias fizessem parte da formação dos estudantes, mas que “um pequeno percentual que acaba não participando, tem um impacto”.

Ainda de acordo com Rocha, a escola fica próxima a uma aldeia indígena urbana e atende a 145 estudantes da comunidade. “Quando tem rituais ou celebrações, eles viajam, quando morre alguém, ficam 22 dias fora. Faltam muito e essas faltas acabam tendo um impacto na aprendizagem”, analisa o diretor.

No Rio de Janeiro, o Ideb caiu de 5,4 para 5,3, cravando a meta. O número de escolas em situação de alerta, no entanto, passou de 11,7% para 40,1%. Já em Campo Grande, o Ideb teve uma variação de 5,8 para 5,4, também cumprindo a meta de 5,3. Nessa capital, a porcentagem de escolas em situação de alerta passou de 2,4% para 30,5%. No outro extremo, na capital do Acre, Rio Branco, 86% das escolas cresceram no Ideb. O percentual em alerta diminuiu de 47,6% para 14,3%.

A escola Ione Portela da Costa Casas, na capital acriana, passou de Ideb 5 para 5,8 cumprindo a meta de 5,1 para 2013. “Temos um trabalho que vem se realizando há algum tempo, não necessariamente para a elevação do Ideb, mas para a elevação da qualidade de ensino. O Ideb é uma consequência maravilhosa”, explica a coordenadora pedagógica da escola, Cleonice Duarte. De acordo com ela, a escola atende a crianças de bairros periféricos e a maior parte dos alunos é de famílias de baixa renda.

Como um dos fatores que ajuda no bom desempenho, ela diz que não há uma grande rotatividade de docentes no ensino fundamental e que muitos professores estão na instituição desde a fundação, há mais de 25 anos.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco, no ano passado, foi feito um trabalho de formação com todas as escolas da rede municipal. Os professores foram semanalmente à secretaria, por seis meses, planejar as aulas e receber orientações. Os professores discutiam os problemas encontrados em sala de aula e receberam reforços em português e matemática, além da formação em outras áreas, já oferecida pela secretaria.

“Focamos no período porque acreditamos que quando trabalhamos muito bem os anos iniciais, os alunos vão tendo mais capacidade de assimilar melhor, compreender melhor”, diz a coordenadora do Ensino Fundamental da secretaria, Gleicecléia Gonçalves de Souza.

Em nota, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro diz: “mesmo tendo passado por uma greve de quase três meses, encerrada uma semana antes da aplicação da Prova Brasil, o Rio manteve os resultados alcançados em 2011”. A secretaria diz ainda que das 80 escolas que estavam em estado de alerta, em 2011, 62 unidades saíram desse grupamento, em 2013.

“Desde 2009, a prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Educação, vem investindo na melhoria da aprendizagem e também na estrutura da rede com o objetivo de dar um salto de qualidade na educação carioca. Uma série de programas e ações foi realizada, a partir de três medidas fundamentais: a adoção de um currículo básico para todas as escolas, com a produção do nosso próprio material pedagógico; a realização de provas bimestrais; e um programa intensivo e contínuo de reforço escolar”, diz o órgão.

A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande foi procurada mas não respondeu à reportagem, até a publicação.

Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizados pela plataforma de dados educacionais QEdu, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann, organização sem fins lucrativos voltada para a educação. O QEdu classifica as escolas de acordo com o índice como em situação de alerta, atenção, melhorar ou manter.