LIGIA MESQUITA SÃO PAULO, SP – Jean Wyllys (PSOL-RJ) criticou o comportamento dos candidatos à Presidência que participaram do debate da Rede Record na noite de domingo (28) após as declarações homofóbicas de Levy Fidelix (PRTB). Para o deputado federal e defensor dos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), se o discurso de Fidelix “tivesse sido contra outras minorias como pessoas com deficiência ou contra a comunidade judaica”, os demais postulantes ao Planalto teriam se posicionado na hora contra a fala homofóbica do adversário, assim como os mediadores do debate deveriam ter se manifestado. A Record afirma que a legislação eleitoral impede apresentadores de se manifestarem sobre opiniões de candidatos. “Todos, inclusive a Luciana [Genro, candidata do partido de Wyllys], deveriam ter parado o debate naquele momento. A violência contra os homossexuais é tão socialmente aceita que os candidatos silenciaram. E a plateia riu”, diz. “Se eu estivesse lá seria expulso, mas xingaria aquele canalha na hora. Se as pessoas compararem a fala dele colocando no lugar dos gays outras minorias elas conseguem entender a dimensão que causou em nós? É justo, por exemplo, que alguém conclame a maioria a combater os judeus?” Segundo Willys, Luciana Genro (PSOL), candidata de seu partido, foi a primeira se posicionar sobre as declarações de Fidelix. Após o debate, ela classificou de “absurda” a fala do adversário. “Eles [os candidatos] temem o eleitorado que pensa igual ao Fidelix. Nessa hora H o que está acontecendo é o cálculo eleitoral, não a justiça, a dignidade humana. É lamentável”, afirmou o parlamentar. Willys entrará com representações contra Fidelix no Ministério Público Federal e no Ministério Público Eleitoral por danos morais coletivo. “Queremos que as declarações de Fidelix no debate sejam equiparadas a crime de ódio e investigadas como tal”, diz o advogado Rodrigo Machado, que representa o deputado do PSOL. Entidades de direitos LGBT ouvidas pela reportagem, como a AGLBT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), a associação da Parada Gay de São Paulo, o Grupo Gay da Bahia e a ONG Dignidade também dizem que entrarão com representações na Justiça contra Fidelix. A coordenação de campanha de Luciana Genro (PSOL) também estuda tomar medidas judiciais nesse caso. A candidata foi criticada nas redes sociais por não ter condenado ao vivo, na TV, a fala de Fidelix, já que foi ela quem fez a pergunta que resultou nas declarações homofóbicas. Procurada pela Folha, sua assessoria de imprensa disse que ela não falaria com o jornal. No debate, ao ser questionado por Luciana Genro (PSOL) por que pessoas como ele, defensoras da instituição família, não reconhecem como tal um casal do mesmo sexo, Fidelix afirmou: “O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí, daqui a pouquinho vai reduzir pra cem. Vai para a Paulista [avenida que, segundo o candidato, concentra grande número de gays] . É feio, o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria”. O candidato também disse que “dois iguais não fazem filho. E digo mais: desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. É feio dizer isso, mas não podemos, jamais, eu que sou um pai de família, um avô, deixar que esses que estão aí achacando a gente no dia a dia, querendo escorar essa minoria (…)”. Para Carlos Magno, presidente da associação AGLBT, Fidelix “cometeu vários crimes em uma declaração, desde associar homossexualidade com pedofilia até a incitação do ódio”. REPÚDIO DOS PRESIDENCIÁVEIS Na tarde desta segunda, os presidenciáveis que não haviam se pronunciado sobre o caso logo após o debate, como fez Luciana Genro, condenaram a atitude de Fidelix. O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, afirmou ser “lamentável” a declaração de Fidelix. “Todo o nosso repúdio àquelas declarações. Como já disse mais de uma vez, todo tipo de discriminação é crime. Homofobia também”, disse o tucano. Sem citar o nome de Fidelix, Eduardo Jorge (PV) escreveu no Twitter: “Hoje vocês viram o quanto é necessário uma legislação que criminalize a homo/lesbo/transfobia equiparando-os (as) aos crimes de racismo, né?”. Procurado pela Folha, Fidelix não respondeu aos pedidos de entrevista.