DANIELLE BRANT
SÃO PAULO, SP – A recuperação da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas fez com que o dólar liderasse, em setembro, o ranking de investimentos elaborado pela Folha de S.Paulo. A moeda americana subiu 9,7% no mês, na maior valorização desde setembro de 2011. Em 12 meses, os fundos DI deram maior retorno aos investidores.
Também afetada pelo cenário eleitoral, a Bolsa ficou na lanterna no levantamento mensal e registrou o pior mês desde outubro de 2008. Em 12 meses, o ouro ocupa a última colocação do ranking.
A inflação projetada para setembro medida pelo IPCA (índice oficial) é de 0,43%, segundo pesquisa mais recente feita pelo Banco Central com economistas. No ano (até agosto, dado mais recente disponível) está em 4,02%, enquanto em 12 meses o avanço é de 6,51%, acima do teto da meta estipulada pelo governo, que é de 6,50%.
O ranking da Folha de S.Paulo considera o rendimento das aplicações descontado o Imposto de Renda, quando incidente, para resgate em um mês e após 12 meses. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado. No caso dos fundos de investimento, os cálculos usam como base os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Além do desempenho mensal, que ajuda a identificar as principais influências sobre os investimentos nesse período, o retorno em 12 meses é considerado por refletir o comportamento dos investimentos em um prazo maior, corrigindo eventuais oscilações de curto prazo. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de Imposto de Renda a pagar -de 17,5% até o mínimo de 15% na renda fixa.
Antes de tomar uma decisão, o investidor não deve levar apenas em conta a rentabilidade passada, pois, como bem alertam os informativos de fundos e outras aplicações, ela não é garantia de rentabilidade no futuro.
DÓLAR
Com alta de 9,7% do dólar à vista (referência no mercado financeiro) no mês, os fundos cambiais -alternativa para o pequeno investidor que quer aplicar em moeda estrangeira- fecharam o mês com avanço de 8,1% (ou 6,68% após desconto de IR, de 17,5% na categoria). Foi a maior valorização mensal para o dólar desde setembro de 2011.
Em 12 meses, os fundos cambiais acumulam valorização de 7,5% (sem IR), enquanto a moeda americana tem alta de 10,24%.
Fatores internos e externos influenciaram a moeda americana no mês. Aqui, o cenário eleitoral afetou a cotação do dólar, principalmente após ganhar força a possibilidade de vitória da presidente Dilma Rousseff, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
“Houve uma questão eleitoral forte, que fez com que o mercado, para se proteger de eventuais problemas que possam ocorrer com a continuidade do governo, recorresse ao dólar”, afirma.
No exterior, a recuperação da economia americana -que subiu 4,6% no segundo trimestre do ano- causou a migração de investidores para o país.
O mercado financeiro especula sobre uma possível antecipação da alta dos juros nos Estados Unidos, o que deve ocorrer no primeiro semestre de 2015. E, quando indicadores reforçam a tese de que a economia por lá vai bem, os investidores passam a comprar mais dólares e títulos da dívida americana, fazendo a divisa do país se valorizar.
Por causa desses fatores, Galhardo vê a moeda americana com tendência de valorização no curto prazo. “Não vejo no curto prazo refresco para essa situação. O mercado vai trabalhar com mais cautela para não ter surpresa nessa virada de governo”, diz.
BOLSA
A Bolsa teve, em setembro, o pior mês desde maio de 2012 após a recuperação da candidata Dilma Rousseff nas eleições presidenciais. Pesquisas mostram a atual presidente se distanciando da segunda colocada, a candidata Marina Silva (PSB).
O Ibovespa, principal índice da Bolsa, teve queda de 11,70% em setembro, a maior desvalorização mensal desde maio de 2012, quando o Ibovespa caiu 11,86%. No ano, a Bolsa ainda sobe 5,06%.
Com isso, os fundos de ações livre -opção para o pequeno investidor que quer aplicar em Bolsa- tiveram queda de 5,59% no mês. Em 12 meses, porém, ainda registram alta de 2,87% (ou 2,44% após desconto de IR, de 15% na categoria).
Na segunda-feira, pesquisa CNT/MDA mostrou a atual presidente mais distante da segunda colocada, Marina Silva (PSB). Dilma tem 40,4% das intenções de voto no primeiro turno, contra 25,2% da ex-ministra do Meio Ambiente. Aécio Neves (PSDB) surge com 19,8% da preferência.
No segundo turno, Dilma tem 47,7% das intenções de voto. Marina aparece com 38,7%. Na semana passada, as duas candidatas estavam tecnicamente empatadas. A candidata petista tinha 42% das intenções enquanto a pessebista estava com 41%.
Na sexta-feira (30), a pesquisa Datafolha já confirmava a recuperação de Dilma no cenário eleitoral.
Para Marcio Cardoso, diretor da Easynvest Corretora, a queda da Bolsa tem forte componente eleitoral. “O governo que está aí tem uma janela de oportunidade mais curta que um governo novo para provar que pode mudar o rumo da economia. Se ficar na mesmice, é ruim para a economia e para os mercados”, afirma.
Segundo ele, há ainda um componente externo nessa equação, mas a maior influência vem mesmo da disputa eleitoral. “Dois terços da queda da Bolsa no mês vêm da situação política, da possibilidade da manutenção do governo no poder, e um terço do cenário externo”, avalia.
Até o final do processo eleitoral, a Bolsa deve ficar sujeita às oscilações de humor dos investidores decorrentes do resultado das pesquisas, diz. “O dinheiro que está no mercado não é um dinheiro que tem comprometimento com a economia local”, afirma.
RENDA FIXA
Os fundos DI -que investem principalmente em títulos públicos e privados pós-fixados- registraram ganho de 0,65% no mês (já descontado o IR) e de 8,65% em 12 meses. A alta ainda é reflexo das sucessivas elevações da Selic, a taxa básica de juros da economia, ao longo de um ano -entre abril do ano passado e abril deste ano.
Já os fundos de renda fixa ganharam 0,6% no mês (ou 0,49% após desconto de IR). Em 12 meses, o avanço é de 7,60%, depois de Imposto de Renda.
A poupança teve valorização de 0,59% no mês e de 6,98% em 12 meses, tanto para depósitos feitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data. Não há incidência de IR na poupança.
OURO
O ouro encerrou o mês com avanço de 2,70%, cotado a R$ 95. Em 12 meses, ocupa a lanterna do ranking, com alta de 1,06%.
“A alta do dólar no mês deu combustível para a valorização do ouro. Até porque lá fora o metal teve desvalorização de 8%”, afirma Edson Magalhães, gerente de operações da Reserva Metais.
A queda foi influenciada principalmente pela desvalorização do dólar no Brasil. Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas.
Com o grama hoje a R$ 95, quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 23.750. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.
Também é possível optar por fundos que aplicam no metal. É preciso, no entanto, ficar atento à taxa de administração desses fundos e ao valor da aplicação inicial, que pode inviabilizar a entrada do pequeno investidor.