JOÃO PEDRO PITOMBO SALVADOR, BA – Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) não aparece na propaganda de Paulo Souto (DEM), mas o estilo do ex-governador continua vivo nas eleições deste ano na Bahia. A retomada do discurso carlista -versão baiana da “modernização conservadora” brasileira dos anos 1970- é o trunfo do DEM para retomar o governo baiano. Ao som de ritmos da Bahia, a chapa de oposição exalta temas como boa gestão, retomada do desenvolvimento, amor pelo Estado e defesa de interesses locais. Apresenta-se como “time que trabalha de verdade”. A competência gerencial e moralidade administrativa -marcas da tecnocracia carlista- são exaltadas e encarnadas na figura do ex-governador Paulo Souto, que chegou à política depois de trajetória na máquina administrativa dos governos de ACM (1971-1975, 1979-1983 e 1991-1994). O objetivo do discurso é construir um contraponto à gestão Jaques Wagner (PT), que indicou o deputado federal e ex-chefe da Casa Civil Rui Costa (PT) à disputa, mas está desgastado por greves de servidores e aumento da violência. Em 2010, quando disputou a reeleição, Wagner tinha 51% de aprovação, segundo o Ibope. Quatro anos depois, a avaliação positiva é de 32%. Ao mesmo tempo em que retoma elementos do carlismo esquecidos nas últimas eleições, o DEM buscou novos aliados como Geddel Vieira Lima (PMDB), candidato ao Senado. Também calibrou o discurso para conciliar críticas a Wagner e um discurso mais ameno e conciliador. Um dos principais estudiosos do “carlismo”, o professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Paulo Fábio Dantas Neto diz que o autoritarismo -renegado nas urnas da Bahia em 2006, com a vitória de Wagner- é uma marca que o DEM busca apagar. “Não convém ao DEM voltar a demonstrar capacidade ou disposição de usar meios autoritários ou mesmo truculentos para alcançar seus objetivos, mesmo os mais nobres”, diz. Outro ponto-chave na campanha é a onipresença do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). Neto, 35, tem a função de expressar a renovação na candidatura de Souto, 70, que foi governador duas vezes. Visa ainda neutralizar o discurso do petista Costa, que trata o rival como “o ex” e integrante da “velha política”. A estratégia, por ora, deu certo: Souto tem 43% das preferências, ante 27% de Costa e 7% de Lídice da Mata (PSB), segundo o Ibope. RETA FINAL O PT promete redobrar o trabalho até a eleição para garantir uma virada. Costa promove uma maratona de comícios no interior e investe na desconstrução da imagem de “bom gestor” de Souto. Na TV, criou o personagem “O Lembrador”, que percorre o Estado comparando a Bahia de 2006, governada por Souto, com a Bahia atual. Cita números de acesso à água e combate ao analfabetismo, marcas do governo Wagner, mas evita temas como a segurança pública e o aumento recente dos homicídios. Outro recurso é a presença do ex-presidente Lula, que tem atuado como uma espécie de âncora da propaganda política de Costa. Wagner, que não é candidato, intensificou a agenda de inaugurações –quase uma por dia nas últimas duas semanas. Na mesma linha, o prefeito vai inaugurar a reurbanização da orla do Subúrbio Ferroviário de Salvador -principal reduto do PT na capital- para a véspera da eleição. O governador ataca a atuação do prefeito de Salvador na campanha. “Acho uma vergonha. A Bahia não merece ter um governador que aceita ser comandado por um prefeito”, diz. A extensão da influência de ACM Neto num possível governo Souto é incerta. Em privado, aliados do prefeito dizem que o objetivo dele é disputar o governo em 2018. Para isso, contudo, Souto teria que abrir mão da reeleição caso vença nas urnas. Prefeito e ex-governador desconversam sobre o tema e dizem que não há acordo nesse sentido.