DIÓGENES CAMPANHA, ENVIADO ESPECIAL
SÃO LUÍS, MA – Candidato da oposição, o ex-juiz federal Flávio Dino (PC do B) foi eleito governador do Maranhão neste domingo (5), numa eleição que encerra um ciclo de quase 50 anos de poder no Estado do grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP).
Com 85% dos votos apurados às 19h38, ele tinha 64% dos votos e não podia mais ser alcançado por Edison Lobão Filho (PMDB), apoiado pela família Sarney, que tinha 33%.
Advogado e ex-presidente da Embratur, Dino liderou as pesquisas com folga durante toda a campanha. Na manhã, ao votar em São Luís, Dino comparou sua provável vitória à campanha das Diretas Já, em 1984, quando iniciou sua militância política.
Derrotado no primeiro turno pela governadora Roseana Sarney em 2010, Dino fez neste ano uma aliança pragmática para evitar nova derrota. Reuniu os principais partidos da oposição e antigos aliados da chamada “oligarquia”, como o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), que rompeu com Sarney em 2004.
O deputado estadual Marcelo Tavares (PSB), sobrinho de José Reinaldo, foi um dos coordenadores de sua campanha e deve ter destaque no novo governo.
A aliança de nove partidos contou ainda com o PSDB, em acordo articulado com o aval do presidenciável Aécio Neves, que visitou o Estado e esteve com Dino em agosto.
Mesmo com essa coligação, o comunista teve menos tempo de TV durante a propaganda eleitoral gratuita: 5min59s contra 9min31s de Lobão Filho.
A diferença se explica pela coligação do peemedebista, com 18 partidos. Dino, contudo, havia investido mais. Sua campanha declarou R$ 5,6 milhões em despesas contra R$ 3,3 milhões de Lobão Filho, segundo a prestação parcial de contas mais recente.
PALANQUE TRIPLO
Apesar da marca forte como “candidato da oposição”, Dino teve uma particularidade no Estado. Ele dizia ter apoio dos três principais postulantes ao Planalto, já que o PC do B é aliado dos petistas nacionalmente, o seu vice é do PSDB de Aécio Neves e o candidato ao Senado é do PSB de Marina Silva.
Nesse cenário, o candidato do PC do B não declarou em quem votou para presidente. O PT apoiou Lobão Filho por imposição do comando nacional da sigla, mas uma ala do partido fazia campanha para Dino.
Na reta final, a presidente Dilma Rousseff autorizou a distribuição de material com sua foto ao lado do comunista, que presidiu a Embratur em seu mandato. Ela não gravou para Lobão Filho, que exibiu em seu programa de TV apenas o depoimento do ex-presidente Lula.
Além de pregar o fim da “oligarquia”, Dino apresentou como principais promessas de campanha versões locais de programas do governo federal, como o Mais Médicos estadual, o “Minha Casa Meu Maranhão” e uma complementação do Bolsa Família, que ele comparava a um 13º salário, para a compra de material escolar.
RIVAL SEM ROSTO
Aliados e até adversários afirmam que Dino se beneficiou de um sentimento por “mudança” que dominou a campanha eleitoral no Estado.
“Nosso adversário não tinha um rosto. Havia um sentimento da população, e o Flávio conseguiu se apresentar como condutor dessa mudança”, disse o ex-ministro Gastão Vieira (PMDB), que disputou o Senado na chapa de Lobão Filho.
O próprio candidato do PMDB, embora defendesse o legado de Roseana e da família Sarney, também evitou se apresentar como representante da continuidade.
Ao votar, no início da manhã, no centro de São Luís, Lobão Filho disse que o “ciclo da família Sarney” estava se encerrando pela decisão de seus dois principais representantes –Roseana e Sarney– de não se candidatarem mais a cargos eletivos.
O ex-presidente abriu mão de concorrer a um novo mandato de senador pelo Amapá, e Roseana preferiu concluir o mandato, desistindo de disputar a vaga para o Senado.