Houve, no passado, um colunista social que fez sucesso por dois motivos: era semi analfabeto e tinha um aspecto físico que interessava a algumas senhoras da chamada elite. Também porque tinha sido aceito em um jornal importante na época, o que dava a ele um certo prestígio nacional. Pelos erros de português, era motivo de brincadeiras, caricaturas, comentários. Um dos seus golpes mais conhecidos era, a cada vez que pretendia ir a Paris ou Nova York, apontar defeitos e problemas das companhias aéreas durante semanas, até ser convidado a viajar de graça, e ocupar lugar na primeira classe.

Quando ia a Paris, tinha a mania de começar um parágrafo comentando um bistrozinho mais do que simpático, de comida excelente e bons preços, mas acabava dizendo que não iria dar o endereço, para não estragar o lugar com excesso de turistas tupiniquins. Ele seguia os passos de jornalistas que viajam em grupos organizados por departamentos de turismo, para divulgação de atrações locais, e que pretendem matérias exclusivas, muito cheios de dignidade por estarem representando algum jornal ou revista mais em destaque. Ou nem tanto.

O colunista já morreu, os golpes talvez continuem existindo, mas o nosso assunto hoje é sobre matérias que pretendem indicar ao turista alguns lugares exclusivos, diferenciados, onde ninguém vai e poucos conhecem. E haja catacumbas, passeios pelo esgoto da Cidade Luz, ruelas perdidas nos bairros escondidos, cemitérios. Com direito a guias brasileiros, que estão vivendo nas cidades por onde passam os roteiros de descobertas. Vá lá que alguém, que tenha feito tantas viagens a Paris, se arrisque. Mas quem foi e se deslumbrou com a magia da capital francesa uma vez e está retornando agora, com certeza vai preferir rever os lugares ícones, os famosos cartões postais parisienses, a arte das igrejas e catedrais, as belezas dos museus do passado e do presente.

VERTIGEM NA TOUR EIFFEL
Ainda mais agora, que a Tour Eiffel inaugurou o novo piso e paredes de vidro na plataforma do primeiro andar. O monumento recebeu 6,7 milhões de visitantes no ano passado e permite agora novas emoções, quase 60 metros acima do solo, com o turista tendo a sensação de que está flutuando no ar. Projeto de Gustave Eiffel, construída entre 1887 e 1889, a torre foi um dos símbolos da Feira Universal e deveria ser demolida em seguida. E ainda bem que não o foi.

Centenária, hoje é o monumento mais fotografado de Paris e respondeu por uma receita de 73 milhões de euros em 2013. A idéia de proporcionar vertigem nos visitantes surgiu porque os turistas sempre preferiam subir até o alto da torre, deixando a plataforma do primeiro andar esquecida. Depois de dois anos de obras e 30 milhões de euros, o piso de vidro será a nova atração, com instalação de um salão para eventos, loja, restaurante de fast food e sala de projeção de filmes, que contam a história da Tour Eiffel. O restaurante 58 Tour Eiffel, famoso no mundo todo por sua localização única, também foi renovado.

Estão em fase final as rampas de acesso para quem tem problemas de locomoção. O primeiro nível pode ser alcançado por elevador. Mas quem tiver pernas e muita energia, pode subir os 300 degraus. Se gostou do esforço, dá para subir 700 degraus para alcançar o segundo andar. Nada disso é aconselhável para quem tem medo de altura. Mas quem não tem, sobe até o terceiro nível, desta vez a 274 metros acima do solo. E deve se preparar para apreciar a paisagem, junto com outros oitocentos turistas.

Então, não troque o que é bom e bonito, pela idéia que terá alguma coisa só sua. Mesmo porque o que cada turista sente, só tomando um cafezinho no Deux Magots ou no Café de Flore, é experiência única, que vale por qualquer exclusividade.

TRADICIONAIS E SEMPRE NA MODA
Café de Flore é o clássico dos clássicos em Paris. Foi inaugurado em 1807, mantendo até hoje a varanda aconchegante que permite contemplar o charme do boulevard Saint Germain a qualquer hora do dia e da noite. Foi o refúgio preferido de Simone de Beauvoir e de Sartre. Ela ficava horas lá, praticamente todos os dias. Sentava no primeiro andar e escrevia, aproveitando o aquecimento que não existia no seu hotel. Era tempo de guerra e ninguém dispensava o croissant com café, ou uma boa omelete, quando era possível. Quando tudo melhorou, depois da guerra, ressurgiu a sopa de cebola gratinada e chocolate quente. Fica no Boulevard Saint Germain, esquina com a rua St. Benoit.

Les Deux Magot, na Place Saint Germain-des- Prés número 6, era outro ponto preferido de Beauvoir, que começou a frequentar o café na primavera de 1929. Foi lá que teve inspiração para escrever seu diário. E escolher como cenário para encontros com o amante Bost. Tudo foi preservado como na primeira metade do século 20. Você pede um café ou leite quente e junto os comprimidos de chocolate, que vão derreter devagarinho. Para um gostinho parisiense na hora da refeição leve, peça queijo de cabra gratinado com salada de rúcula ou outra verdura da época. Claro que com uma baguete na manteiga, quentinha e crocante.

Já que estamos falando de comidas, é bom conhecer outro endereço tradicional, o La Coupole, onde Beauvoir escreveu o romance A Convidada e lá também Sartre encomendava o almoço de Simone, quando ela estava se recuperando de uma tuberculose.

O restaurante foi inaugurado no Boulevard Montparnasse 102, com pompa e circunstância, em 1927. Sempre foram destaque os mosaicos de inspiração cubista, as pinturas nas paredes e colunas. A brasserie e salão de baile eram ponto de encontro de artistas e escritores da década de 20. Chagall e Brancusi assinaram pinturas de colunas, em troca de algumas refeições. Montparnasse era o bairro onde viviam Hemingway, Picasso, Giacometti, Matisse , Cocteau e Modigliani.

No mesmo boulevard, número 14, o Dôme é uma instituição parisiense. Os franceses lotam o restaurante todos os dias, para comer os peixes mais frescos da cidade e os crustáceos bem preparados. É tudo art déco, com vitrais, veludo vermelho e bom serviço. Era também um dos favoritos dos artistas, incluindo o casal Simone e Sartre. O sucesso centenário fica provado nos quase mil pratos servidos a cada dia.

Se preferir fazer um lanche no hotel, e o gosto for para o queijo, uma das melhores fromageries parisienses é a Quatrehomme, com raridades clássicas, como o Mont d’Or temperado com trufas pretas e mel. Na rua de Sèvres, 62.

DE MUSEUS E RESTAURANTES
Paris é famosa pelos grandes, importantes e únicos museus. Mas nem todos os turistas têm o hábito de visitar obras de arte , entrar em longas filas de acesso, percorrer quilômetros de corredores, salas, salões. Mesmo assim, além do Louvre, alguns endereços merecem um pouco de atenção. Como o Museu D’Orsay, que além de um incrível acervo de esculturas e pinturas, abriga a coleção os Impressionistas, que estavam antes no Jeu de Paume. O prédio projetado por Victor Laloux permaneceu fechado durante 47 anos até ser transformado em museu e reabrir, em 1986.

O que poucos sabem é que o prédio foi uma estação ferroviária, tinha um hotel e o hotel, um restaurante. Que todos deveriam visitar para curtir a decoração em ouro, vidro e cristais, num luxo clássico. O prédio inaugurado em 1900 é um dos mais elegantes de Paris. As pinturas no teto e paredes, a música do piano nas tardes de domingo, valem bem uma parada para o almoço, com receitas francesas. O jantar costuma ser servido nas quintas feiras apenas, quando o museu fica aberto até mais tarde.

Com projeto assinado pelo arquiteto Jean Nouvel, o Instituto do Mundo Árabe é um dos mais bonitos prédios modernos da Cidade Luz. Abriga o museu, uma biblioteca, faz exposições temporárias de grande sucesso, tem loja e livraria de livros e artesanato árabes, um salão de chá com música típica e na parte superior um restaurante de comidas regionais de vários países do mundo árabe. Um pátio junto ao restaurante, abre perspectiva sobre o Sena e Notre Dame. Imperdível.

Na mesma região, La Mosquée de Paris, restaurante e casa de chá dentro dos muros da mesquita central, é um dos melhores lugares para comer um cuscuz, uma tagine, um chá de hortelã. Com jardim, chafariz, o conjunto da mesquita tem também um dos mais conhecidos hammans de Paris, com horários específicos para mulheres e homens, onde é possível fazer massagens, banhos de vapor e outros tratamentos. Na rua Geoffroy St. Hilaire, número 39.

Quem prefere um museu de tamanho menor, mas muito interessante, pode conhecer o Museu Marmottan, instalado em uma mansão do século 19, que pertenceu ao famoso historiador Paul Marmottan. Em 1932 ele doou a casa e sua coleção de pinturas e móveis de estilos renascentista, consular e império ao Institut de France. Em 1971 o museu recebeu uma das mais importantes coleções do trabalho de Claude Monet, doação de seu filho. Parte da coleção particular do impressionista Monet, obras de seus colegas Camile Pissarro, Pierre Auguste Renoir e Alfred Sisley. O museu expõe também iluminarias e tapeçarias do século 16 provenientes da Borgonha. O Marmottan tem um restaurante muito elegante, em ambiente especial, para almoço.

Quem tiver tempo – coisa difícil em uma cidade com tantas atrações – deve reservar uma parte do dia para conhecer o Museu de Cristal Baccarat, na place des États Unis, número 11. O Museu do Cristal Baccarat exibe 1.200 artigos feitos pela companhia para cortes reais, imperiais, artistas e personalidades. Coco Chanel foi uma das clientes que criou um desenho para jogo de pratos que utilizava em seus jantares famosos. Como uma das marcas mais famosas de cristais artísticos e de luxo, abriu o museu em 2003, com suas principais obras de arte.

O museu foi projetado por Philippe Starck e ocupa 3 mil metros quadrados na mansão que pertencia à viscondessa Marie-Laure de Noailles, que morreu em 1971 e era pintora e escritora sempre acolhendo artistas como Luis Buñuel, Jean Cocteau, Kurt Weil e Man Ray. O acervo se espalha em dois andares mostrando peças únicas Baccarat, marca que surgiu na cidade de mesmo nome, quando Louis XV permitiu ao bispo de Metz a iniciar uma fábrica de vidros em 1764. Claro que há um espaço comercial, onde o visitante pode adquirir jogos, peças avulsas, castiçais e outras maravilhas. Um lustre de cristal pode valer até 1 milhão de euros. Mas há coisas bem mais acessíveis, que podem criar a ilusão de realeza, do poder de um czar ou o bom gosto de algum imperador.

O que poucos sabem é que no andar superior funciona um restaurante, pequeno, com tanto sucesso que as reservas são feitas com seis meses de antecedência. Dá para tomar café da manhã, quando o restaurante funciona de segunda à sexta das 8h30 às 10 horas e aos sábados, das 10 horas às 11h30.

BOAS LEMBRANÇAS
Jardim – Aproveitar a hora do almoço para fazer um lanche tomando sol, ou curtir a calma de alguns momentos, é o que os parisienses fazem no Jardim de Luxemburgo. Bosques, pomares urbanos e escola de apicultura Rücher de Luxembourg, museu com exposições temporárias, são atrações importantes. Outro jardim muito procurado, e que pouco turista conhece, é o que fica nas imediações do Palais Royal e tem uma arcada com lojas diferenciadas e sofisticadas, como perfumaria artesanal, antiquários. O jardim é escolhido pelos que têm tempo de ler livros, aproveitando um pouco de sol.

Já o Jardin des Plantes é um belo espaço verde, parte do Museu Nacional de História Natural, com coleção de árvores e plantas de importância histórica e ecológica. A Mènagerie é um pequeno zoológico de mamíferos, pássaros e reptéis. Uma opção perfeita para um pouco de relax. Na rua Cuvier, place Valhubert.

Igreja – Quem leu o Código da Vinci ou assistiu ao filme baseado no livro, deve fazer uma oração na elegante Église St-Sulpice, construída entre 1646 e 1780. O estilo lembra o italiano e os belos afrescos da Chapelle des Sts-Anges foram pintados por Eugène Delacroix. Na Place St. Sulpice, nas imediações do Jardim de Luxemburgo. E também pode fazer parte do roteiro o Museu Nacional Eugène Delacroix, na residência e atelier do artista, quando morreu, em 1863. Destaque para as obras mais intimistas.

Museu – Em pleno Quartier Latin, o Musée National du Moyen Age ocupa algumas casas de banho romana. A mais bem conservada é datada do século 15. Na coleção exposta, chama atenção a série de tapeçarias, com A Dama e o Unicórnio.

Dica – O metrô pode ser a maneira mais eficiente de percorrer longas distâncias. Mas o melhor de tudo é mesmo andar. Flanar, na verdade. Sem pressa, muitas vezes sem um destino certo. Porque em cada esquina, em cada prédio, em cada vitrine, em cada placa na parede, haverá uma surpresa, uma descoberta. Vá, que Paris sempre merece.


DESTAQUES

CRISE 1 – A Euro Disney, desde que foi inaugurada em 1992 em Paris, teve um período de bons resultados, mais nos últimos 12 anos já acumulou perdas de 800 milhões de euros. No momento, está precisando de socorro do grupo Disney, que prometeu um aporte de 1 bilhão de euros para dar nova vida Disneylandia Paris e a Walt Disney Studio, duas principais subsidiárias no continente europeu.

A crise vem se agravando pela queda no número de frequentadores do parque, que começou há dois anos, passando de 16 milhões de visitantes para 14,1 milhões. Neste 2014 a perda financeira do parque francês será a maior desde 2004: algo em torno de 110 milhões a 120 milhões de euros. Os famosos hotéis do parque mostrou uma ocupação caindo de 91% para 75%. Apesar do tombo, a Euro Disney é um dos parque turísticos mais visitados na Europa.

CRISE 2 – Já os cassinos de Atlantic City, Estados Unidos, estão em baixa total. O Taj Mahal Casino Resort, propriedade da Trump Entertainment Resort (do Trump Plaza), pediu concordata e é o quinto cassino de Atlantic City a fechar este ano. Se não houver socorro, o Taj Mahal Casino Resort encerra atividades em 13 de novembro. É o quarto pedido de concordata da companhia de cassinos, com graves dificuldades financeiras. O mercado de cassinos de Atlantic City já foi vice líder nos Estados Unidos, atrás apenas de Las Vegas, em Nevada. Hoje a cidade ficou atrás da Pensilvânia. O ano começou com 12 cassinos em Atlantic City, e agora são apenas 7.