O papel do professor no século XXI passou a ter inúmeras roupagens. Além da escolarização, ele se tornou tutor, mentor, psicólogo, mãe, pai, amigo, muitos papéis para os quais não foi preparado para exercer, pois não são estas suas funções. Quando assistimos os noticiários acompanhando os pareceres, as leis, as deliberações, os projetos de lei que tem assolado quase que diariamente o setor da educação, percebemos que a profissão do professor virou uma grande aventura, uma profissão de risco.
Sim. Estamos em perigo. Pensemos juntos. A inclusão na qual é obrigatório o atendimento nas escolas de qualquer síndrome e necessidade da criança, atender a todos sem precedentes, sem justificativas. O professor tem em sala 25 alunos, e dentre eles, por exemplo, um agressor severo, um autista, dois com déficit de atenção e um hiperativo. Crianças que perdem o equilíbrio emocional com muita facilidade, muitos sem receber os medicamentos e terapias adequados, aluno que morde, bate nos amigos, machuca.
Esse professor corre perigo, ele está à mercê de uma ocorrência grave a qualquer momento. O perigo pode ser físico e emocional: físico por ser machucado pelo aluno, e emocional por sentir-se incapaz perante a situação, pois ele não foi capacitado para lidar com essa realidade.
Pensamos na questão jurídica, que também foi colocada ao professor. Como ele fará uma contenção corpórea neste exemplo que cito? Como justificar perante as crianças e, principalmente, a comunidade escolar que um professor se jogou em cima do aluno para conter a sua agressividade para com outra criança?
Quando temos a Lei da Palmada, novamente escrita pelos nossos legisladores, que diz que a criança não pode ser ridicularizada. Como, em qual sentido, de que maneira? Quando teremos em nossa nação pessoas que consigam fazer um pensar coletivo de educação, para que não estoure dentro das salas de aulas os problemas recorrentes a um educar sem qualidade, um legislar maluco, sem conhecimento de causa, sem começo, meio e fim?
Avaliar o que ocorrerá como resultado nas escolas, pensar quanto tempo teremos pedagogos aceitando isso, ou procurando vender cachorro quente ao invés de escolarizar o filho alheio?
Se tivermos que fazer inclusão severa, sem condições, onde ficará o pedagógico, a aprendizagem, a sistematização? O que fluirá com qualidade e onde ficaremos devendo qualidade?
Podemos também ir mais longe neste pensamento e preocupação. Esta criança de inclusão precisa de atendimento clínico fora da escola, pois a inclusão não existe sem a questão clínica junto ao processo. Muitas vezes, a família se nega a levar o filho para atendimento. E se leva ao médico, demora muitas vezes um ano para um diagnóstico, pois no setor público encontramos a fila de espera, e no setor privado, pesa o alto custo financeiro para as famílias.
Enquanto se aguarda esse processo moroso, a criança está em sala de aula, à deriva, perante os amigos junto com a professora que precisa de alguma maneira se virar com o problema. Problema dela, que ninguém do Poder Público vive, apenas ela, que cuida do pedagógico e de tudo deste aluno, pois muitas vezes nem a família se compromete.
A questão da inclusão sem precedentes é muito séria e precisa ser estudada, referenciada por todos, independente do cargo ou o que faça, pois hoje tudo gira em torno do pedagogo. Isso precisa ser pensado na qualidade de vida deste ser humano, responsável pelo futuro do nosso pais. É na educação que está o segredo do sucesso dos pais, sentimos isso na Alemanha que venceu a Copa do Mundo. A educação e o planejamento é algo sério que deve ser repensado, para que assim, o professor possa ter qualidade em seu trabalho, não sendo obrigado a exercer o papel de fisioterapeuta e psiquiatra em muitas situações.
A escolarização normal é para todos, sabemos disso, mas existem situações de inclusão que são extremamente graves e sem possibilidade alguma de serem escolarizados junto a outras crianças. Avaliar a perda dos outros alunos se faz necessária, assim como ter escolas de qualidade para atender crianças com problemas graves, para termos justiça e ética, juntamente com um repensar da inclusão social. Já a inclusão pedagógica é diferente e precisa ser pensada por todas. Pensar em todos e tudo e não simplesmente fazer leis impossíveis de serem cumpridas. Queremos a inclusão de qualidade e não um grande fazer de conta que acontece hoje na maioria dos estados brasileiros.

Esther Cristina Pereira é psicopedagoga, diretora da Escola Atuação e Diretora de Ensino Fundamental do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR)