Desde que começaram a circular notícias de que um assassino em série estava matando mulheres jovens em Goiânia, há cerca de quatro meses, a operadora de caixa Flavia de Carvalho, 34, obrigou as duas filhas adolescentes a mudarem a rotina. A ordem para Isabela Eduarda, 17, e Ingrid Alessandra, 16, era não andarem sozinhas na rua, principalmente à noite. “Até falei para prenderem o cabelo”, lembra a mãe. Mal sabia Flavia que, segundo a polícia goiana, o “serial killer” morava na rua dela, a cinco casas de distância, no conjunto Vera Cruz 2.

Assim como a operadora de caixa, outros vizinhos do vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26, se assustaram com a notícia de que o rapaz, que até a última terça-feira (14) morava com a mãe no bairro, havia confessado a morte de 39 pessoas, incluindo 15 mulheres e oito moradores de rua. Uma vizinha que mora em frente à casa de Rocha, a técnica em segurança do trabalho Carmem Reis, 27, diz que os dois eram amigos. Carmem afirma que o rapaz nunca saía de casa. Depois de voltar do plantão noturno como vigia em um hospital público, por volta das 7h, ele dormia até as 11h. Algumas vezes ela o via fazendo o próprio almoço ou arrumando algum cômodo da casa e lavando as roupas dele. Rocha assistia TV em um aparelho de 14 polegadas, um presente de Carmen.

“Eu dei a TV porque ele disse que não tinha em casa, porque a mãe é evangélica e não tinha esse costume”, conta ela. Ele trabalhava um dia e ganhava outro de folga, segundo Carmen. Ela diz que, mesmo com tempo livre, ela nunca viu o rapaz sair para passear. A mãe dele ia todas as noites aos cultos. Carmen conta ainda que Rocha morava apenas com a mãe naquela casa, e que era o filho predileto. O outro irmão, mais novo, é casado e mora com a mulher. O padrasto raramente era visto. O vigilante não conheceu o pai. Um dia depois da prisão do suspeito de cometer 39 homicídios, a mãe do vigilante, que é auxiliar de serviços gerais na prefeitura, mudou-se do imóvel e não voltou mais. Levou junto um cachorro vira-lata e Belinha, a cadela da raça shitzu que o filho havia lhe dado há dois meses.

O motorista Rubens Barros, 59, que mora na casa vizinha à do vigilante, diz que raramente o via. Para o motorista, ele aparentava ser um bom rapaz. “Assustei, né? Saber que você está do lado de um cara assim…”, disse ele, que é pai de uma jovem de 18 anos. A mãe de Raelly Santana, 16, outra vizinha, também a alertara para evitar andar sozinha nos últimos meses. “Minha mãe até brincou que a gente imaginava que o assassino poderia estar em qualquer lugar, mas nunca bem aqui na rua”, diz. A reportagem não conseguiu conversar com a mãe do suspeito. Na sexta (17), ela esteve na delegacia para visitar o filho, mas na saída se negou a dar entrevista.