SÃO PAULO, SP – Duas ministras japonesas renunciaram nesta segunda-feira (20), causando ao primeiro-ministro Shinzo Abe sua maior crise desde que tomou posse em dezembro de 2012. A renúncia das duas mulheres, uma delas a ministra da Indústria e Comércio, um dos postos principais no gabinete, poderia complicar decisões difíceis sobre algumas políticas em estudo.

O governo estuda levar adiante um plano impopular para elevar o imposto sobre vendas e a retomada das operações de alguns dos reatores nucleares do país, suspensas depois do desastre de Fukushima em 2011. Abe espera conter os danos substituindo rapidamente as duas, mas a oposição vem criticando outros ministros potencialmente vulneráveis que foram nomeados em uma remodelação de gabinete no início de setembro.

As duas foram nomeadas para os cargos no início de setembro, ao lado de outras três mulheres, na primeira reforma ministerial de Abe. Com cinco nomes, este era o governo com maior presença feminina na história do país. A ministra da Indústria e Comércio, Yuko Obuchi, 40, filha de um ex-primeiro-ministro e apontada como candidata a se tornar a primeira mulher na chefia do governo no Japão, apresentou sua renúncia depois de alegações de que seus grupos de apoio utilizaram indevidamente fundos políticos.

O premiê desejava transformá-la no símbolo de sua política para as mulheres, que ele deseja atrair mais ao mercado de trabalho para estimular a economia do país. “Como ministra da Economia, Comércio e Indústria, não posso ter a economia e as políticas de energia paralisadas por culpa de meus próprios problemas”, declarou à imprensa.

“Apresento minhas desculpas mais sinceras por não ter conseguido contribuir para a recuperação econômica nem para a concretização de uma sociedade na qual as mulheres brilhem”, disse Obuchi, visivelmente emocionada. Poucas horas depois, a ministra da Justiça, Midori Matsushima, também renunciou. O oposicionista Partido Democrata tinha apresentado uma queixa criminal contra Matsushima, acusando-a de violar a lei eleitoral com a distribuição de leques para os eleitores.

DESVIOS

Na semana passada, a imprensa japonesa revelou a contabilidade de uma organização política vinculada a Obuchi, mostrando o suposto uso ilegal de fundos para cobrir as despesas pessoais da ministra. Além disso, alguns de seus simpatizantes receberam de presente ingressos de teatro no valor de 26 milhões de ienes (US$ 240 mil), um gesto que os críticos consideram uma tentativa de compra de votos.

A oposição também denunciou outras supostas despesas ilícitas, entre elas uma viagem da própria ministra em 2012 que não aparece nas contas de sua organização ou a compra de produtos para bebê e de roupa para uma empresa vinculada à família de Obuchi, no valor de 3,6 milhões de ienes (US$ 34 mil).