FELIPE GUTIERREZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA – Um caso parecido ao do pedreiro Amarildo -que desapareceu no Rio de Janeiro após ser levado por policiais em um carro da corporação- teve agora um desfecho na Argentina.
O garoto Luciano Arruga tinha 16 anos quando desapareceu, no dia 31 de janeiro de 2009, suspeito de ter sido executado por policiais.
Na semana passada, a Justiça argentina revelou que as digitais dele coincidem com as de uma vítima de atropelamento, enterrada em fevereiro de 2009.
Luciano foi atropelado a 15 quadras de sua casa na noite em que o garoto desapareceu.
O motorista prestou socorro, e Luciano foi levado a um hospital, onde morreu. O condutor do carro será convocado para prestar um novo depoimento.
Na época do acidente, ele relatou que o garoto havia hesitado antes de atravessar a estrada onde foi atropelado, mas que tentou passar mesmo assim e que não foi possível frear a tempo.
A família procurou Luciano até mesmo no hospital para onde ele foi levado, mas nunca deram respostas a eles.
O reconhecimento das impressões digitais só aconteceu depois de anos de pressão da ONG Cels, que entrou com um pedido judicial para que o Ministério da Segurança buscasse impressões digitais semelhantes às de Luciano entre as pessoas que foram enterradas sem terem sido identificadas.
O presidente da Cels, Horácio Verbitsky, disse que “todos sabemos que a investigação seria diferente se isso acontecesse com um garoto da classe média portenha”.
ACUSAÇÕES
A família de Luciano, que organizou um centro de direitos de adolescentes na cidade de Lomas del Mirador, onde vivem, ainda busca respostas.
Logo após o desaparecimento de Luciano, sua irmã, Vanesa Orieta, denunciou que policiais o assediavam para que ele roubasse e depois repartisse parte dos objetos roubados com eles.
Segundo ela, Luciano se recusava a obedecer e por isso era perseguido.
Orieta afirma que o jovem foi detido na mesma noite em que morreu e que saiu da delegacia pouco antes de ser atropelado.
“Qual a relação entre a detenção e o acidente? Os horários favorecem [essa história], mas é preciso investigar o que aconteceu nas horas anteriores ao atropelamento. Aliás, ele foi atropelado em uma estrada que ninguém atravessa e ele sabia onde fica a ponte para cruzar. Ele vivia perto desse ponto e sabia disso”, questiona Orieta.
A Cels informou em nota que agora a investigação segue na Justiça para determinar o que aconteceu naquela noite.
“Luciano era um garoto de 16 anos e tinha uma história de ter sido assediado pela polícia. Ele havia sido torturado em uma delegacia em 2008 e os policiais desse recinto adulteraram os registros do dia em que ele desapareceu, entre outras manobras que indicam que há vontade de ocultar informação. A causa agora está sendo investigada em segredo.”