LUCAS REIS, ENVIADO ESPECIAL BELÉM, PA – Afastado da cúpula da Segurança Pública no Amazonas após divulgação de vídeo em que negocia, com um preso, apoio de uma facção criminosa ao governador José Melo (Pros), o major Carliomar Brandão afirmou que a gravação foi manipulada e disse que recebeu tentativa de suborno.

Em depoimento gravado para a propaganda de TV de Melo, Brandão diz que a conversa de fato ocorreu, mas foi truncada. “Não foi com essa conotação. Eu recebi a informação de que teria uma rebelião em determinado presídio, e que morreriam dez pessoas de um grupo rival […]. Meu papel é esse, tenho que estar dentro do presídio, tenho que evitar mortes”, diz. Brandão ocupava o posto de subsecretário de Justiça quando conversou com o líder de facção criminosa que controla o tráfico no Estado.

A conversa foi com José Roberto Fernandes Barbosa, um dos líderes da Família do Norte, facção que controla o comércio de drogas no Amazonas. Ocorreu no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, na última semana antes do primeiro turno. Um dos integrantes da reunião fez a gravação, e foi divulgada pela revista “Veja” no domingo (19).

O governador Melo, que disputa a reeleição, enfrenta uma disputa acirrada no Amazonas. Segundo pesquisa Ibope de sexta-feira (17), o governador está numericamente à frente, mas em empate técnico com o senador Eduardo Braga (PMDB): 53% a 47%. À propaganda de Melo o ex-subsecretário criticou a gravação. “Foi montado [o áudio]. Tem coisas que foram faladas no início e colocaram no final, e vice-versa, tentando dar uma conotação política da minha ida ao presídio.”

TENTATIVA DE SUBORNO

Em determinado momento da gravação, Brandão diz ao preso que “a mensagem que ele mandou para vocês, agradeceu o apoio e que ninguém vai mexer com vocês”. Segundo Brandão, ele se referia ao secretário de Justiça, e não ao governador. “Ofereceram dinheiro para eu confirmar uma coisa que não existe. Para confirmar que eu estava lá pedindo voto para o governador. Não sou homem para isso”, diz.

Brandão não falou, porém, sobre a declaração do traficante, que prometeu na conversa até 100 mil votos a Melo, pois bastaria uma ordem da facção para os parentes dos presos votarem no governador. O Compaj, onde ocorreu a conversa entre o traficante e o subsecretário de Justiça, é o mesmo presídio onde presos foram gravados fazendo fila para consumir cocaína em um dos corredores da unidade. O vídeo foi revelado pela Folha de S.Paulo neste sábado (18).

PERÍCIA DO ÁUDIO

Em setembro, a Procuradoria Eleitoral já havia pedido a cassação da candidatura de Melo sob acusação de uso da estrutura da Polícia Militar na campanha. Nesta segunda-feira (20), a Procuradoria informou que pedirá apuração da Polícia Federal sobre a nova denúncia. O governo do Amazonas exonerou Brandão e disse que tomará “todas as providências cabíveis” para ter acesso à gravação e submetê-la à perícia.

A campanha de Melo informou que pedirá perícia judicial para verificar a autenticidade da gravação. À revista “Veja” o secretário de Justiça, Louismar Bonates, disse que sabia da conversa e que o objetivo era “manter a paz dentro da cadeia”.