FELIPE BÄCHTOLD E DIÓGENES CAMPANHA, ENVIADO ESPECIAL
PORTO ALEGRE, RS – Se o candidato do PMDB José Ivo Sartori confirmar o favoritismo e vencer a eleição no Rio Grande do Sul neste domingo (26), o Estado manterá uma escrita: a de nunca ter reeleito um governador nas últimas décadas. É o único no país que não reconduziu um governante ao cargo desde que a reeleição foi instituída, em 1998.
Vencedor do primeiro turno, com 40% dos votos, Sartori, 66, apareceu com expressiva vantagem sobre o governador petista Tarso Genro em todas as pesquisas do segundo turno. Nas últimas, abriu 20 pontos percentuais.
Ex-prefeito de Caxias do Sul, o candidato peemedebista fez uma campanha tentando se apresentar como novidade e representante da “política diferente”, apesar de ocupar cargos públicos há quase 40 anos. Já foi deputado federal e presidente da Assembleia gaúcha, onde teve cinco mandatos seguidos.
Tarso, 67, ex-presidente nacional do PT e um dos principais ministros nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010), tenta reconquistar o eleitorado que lhe deu uma inédita vitória no primeiro turno há quatro anos.
Para isso, colou sua imagem à da presidente Dilma Rousseff, que fez carreira política no Estado, e buscou mostrar que a economia gaúcha avançou, mesmo com a dificuldade nas finanças.
Sua estratégia parece ter tido pouco efeito para o eleitorado do interior, cuja tradição antipetista ajudou a garantir a vantagem para Sartori nas pesquisas. Em Porto Alegre, onde Tarso tem sua base eleitoral, a disputa se manteve mais equilibrada.
O petista teve que reverter a má avaliação do eleitorado sobre o governo, principalmente em áreas como segurança. A nota atribuída pela população à sua gestão é de 5,9, segundo o Datafolha -menor do que a dada a governadores de Estados como Ceará e São Paulo.
Ao longo do mandato, Tarso lidou com protestos de sindicalistas, como professores exigindo o pagamento do piso nacional, bateu boca com a mídia local e encarou dificuldades para manter uma base na Assembleia.
Entre as realizações do governo, apresentou o aumento dos gastos com saúde, o financiamento de pequenos agricultores e o fim de praças de pedágio. Nos últimos dias do horário eleitoral, o PT tentou mostrar Sartori como um candidato “vazio”: exibiu vídeos de gafes e questionou a falta de propostas.
VIRADA NO 1º TURNO
Dias antes da primeiro votação, o peemedebista subiu rapidamente nas pesquisas, ultrapassou a então favorita Ana Amélia Lemos (PP) e terminou o primeiro turno oito pontos percentuais à frente de Tarso. Logo depois, obteve o apoio da coligação da senadora Ana Amélia e do presidenciável tucano Aécio Neves.
No segundo turno, Sartori e Tarso fizeram uma maratona de oito debates em apenas dez dias, em que a dívida do Estado foi o principal tema. O RS é proporcionalmente o que tem o maior endividamento no país.
A situação das finanças inibe investimentos estaduais e contribuiu para o desgaste de outros governadores que tentaram a reeleição anteriormente, como Yeda Crusius (PSDB) e Germano Rigotto (PMDB), que não chegaram nem ao segundo turno em 2010 e 2006.
Os dois candidatos negam que a dificuldade financeira seja decisiva para a manutenção do tabu da reeleição. “Existe uma cultura no Estado de mudança [de governos]”, diz Tarso.
Na tentativa de reverter a escrita, o petista apelou até para o adversário na campanha. Disse que Sartori foi reeleito prefeito de Caxias, em 2012, e pediu ao eleitorado “a mesma chance”.